São Paulo, sábado, 23 de junho de 2007

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Lobby do bingo é suspeito de obter transferência de policial

Escuta mostra juíza pedindo a acusado de integrar quadrilha que interceda por delegado

Depois da solicitação, transferência, do interior para a capital, foi realizada; conversas foram gravadas pela Polícia Federal

MARIO CESAR CARVALHO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O lobby do bingo tinha acesso à cúpula da Polícia Civil de São Paulo e conseguiu, aparentemente, ajudar a transferir um delegado do interior para a capital, segundo telefonemas gravados pela Polícia Federal durante a Operação Têmis.
O pedido de transferência foi feito pela juíza federal Maria Cristina Barongeno, titular da 23ª Vara Federal, ao advogado e lobista Luiz Roberto Pardo.
Ele é acusado pela PF de comandar uma quadrilha que negociava decisões da Justiça Federal e do Tribunal Federal da 3ª Região favoráveis aos bingos.
A juíza fazia parte do esquema, de acordo com a PF. Uma das decisões dela, de dezembro do ano passado, garantiu que 20 bingos continuassem abertos. Há outro indicador de que a juíza mantinha relações suspeitas com Pardo: ela usava um telefone Nextel registrado em nome do escritório do lobista.
Não se sabe se por influência de Pardo ou por obra do acaso, mas o delegado Paulo Roberto Boberg Barongeno, primo da juíza, agora trabalha no 32º Distrito Policial, na zona leste. Antes, era delegado em Sumaré, a 120 km de São Paulo.
A Polícia Federal registrou duas conversas da juíza que tratam da vontade do primo de trabalhar em São Paulo, ambas do dia 18 de janeiro deste ano.

"Dá para resolver"
Quem fala sobre a mudança é a juíza: "Você teve alguma resposta do meu primo?".
"Vai resolver, tá OK? Mas também se ele quiser... se ele tava interessado na capital, lembra que eu te falei, aqui também dá para resolver", diz o lobista.
"Quais são os lugares que ele poderia ir?", pergunta a juíza.
"Vê o que ele interessa", diz Pardo num português estropiado. "Aí eu sento com as pessoas e a gente resolve pra ele".
Logo em seguida, Maria Cristina liga para o primo. Paulo Roberto diz que está interessado em ir para o Deic, a delegacia especializada em roubos. Conta que já conversou com uma pessoa da delegacia geral chamada Glauco, mas parece não confiar muito no seu próprio poder para obter a mudança.
"Mas no Deic tá tudo certo ou você quer que peça [a sua transferência] pro Deic?", quer saber a juíza. O delegado diz que nada está certo: "Até a semana que vem deve sair alguma resposta. Se não sair... aí vamos ver com seu amigo". Ele diz esperar uma resposta de uma reunião do Conselho Superior da Polícia, realizada na véspera.
Como o delegado não foi para o Deic, a influência de Pardo foi eficaz, aparentemente.
O 32º DP é citado em outra investigação que apura a corrupção de policiais. Nos documentos apreendidos com o advogado Jamil Chokr, suspeito de operar um esquema de pagamento de propinas a policiais civis para liberar caça-níqueis, está registrado que o advogado mantinha 24 máquinas na área daquela delegacia.


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