|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lobby do bingo é suspeito de obter transferência de policial
Escuta mostra juíza pedindo a acusado de integrar quadrilha que interceda por delegado
Depois da solicitação, transferência, do interior para a capital, foi realizada;
conversas foram gravadas pela Polícia Federal
MARIO CESAR CARVALHO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O lobby do bingo tinha acesso à cúpula da Polícia Civil de
São Paulo e conseguiu, aparentemente, ajudar a transferir um
delegado do interior para a capital, segundo telefonemas gravados pela Polícia Federal durante a Operação Têmis.
O pedido de transferência foi
feito pela juíza federal Maria
Cristina Barongeno, titular da
23ª Vara Federal, ao advogado
e lobista Luiz Roberto Pardo.
Ele é acusado pela PF de comandar uma quadrilha que negociava decisões da Justiça Federal e do Tribunal Federal da
3ª Região favoráveis aos bingos.
A juíza fazia parte do esquema, de acordo com a PF. Uma
das decisões dela, de dezembro
do ano passado, garantiu que
20 bingos continuassem abertos. Há outro indicador de que a
juíza mantinha relações suspeitas com Pardo: ela usava um
telefone Nextel registrado em
nome do escritório do lobista.
Não se sabe se por influência
de Pardo ou por obra do acaso,
mas o delegado Paulo Roberto
Boberg Barongeno, primo da
juíza, agora trabalha no 32º
Distrito Policial, na zona leste.
Antes, era delegado em Sumaré, a 120 km de São Paulo.
A Polícia Federal registrou
duas conversas da juíza que tratam da vontade do primo de
trabalhar em São Paulo, ambas
do dia 18 de janeiro deste ano.
"Dá para resolver"
Quem fala sobre a mudança é
a juíza: "Você teve alguma resposta do meu primo?".
"Vai resolver, tá OK? Mas
também se ele quiser... se ele
tava interessado na capital,
lembra que eu te falei, aqui
também dá para resolver", diz o
lobista.
"Quais são os lugares que ele
poderia ir?", pergunta a juíza.
"Vê o que ele interessa", diz
Pardo num português estropiado. "Aí eu sento com as pessoas
e a gente resolve pra ele".
Logo em seguida, Maria Cristina liga para o primo. Paulo
Roberto diz que está interessado em ir para o Deic, a delegacia
especializada em roubos. Conta que já conversou com uma
pessoa da delegacia geral chamada Glauco, mas parece não
confiar muito no seu próprio
poder para obter a mudança.
"Mas no Deic tá tudo certo ou
você quer que peça [a sua transferência] pro Deic?", quer saber
a juíza. O delegado diz que nada
está certo: "Até a semana que
vem deve sair alguma resposta.
Se não sair... aí vamos ver com
seu amigo". Ele diz esperar
uma resposta de uma reunião
do Conselho Superior da Polícia, realizada na véspera.
Como o delegado não foi para
o Deic, a influência de Pardo foi
eficaz, aparentemente.
O 32º DP é citado em outra
investigação que apura a corrupção de policiais. Nos documentos apreendidos com o advogado Jamil Chokr, suspeito
de operar um esquema de pagamento de propinas a policiais
civis para liberar caça-níqueis,
está registrado que o advogado
mantinha 24 máquinas na área
daquela delegacia.
Texto Anterior: Vestibular: Biotecnologia tem maior índice de inscrições na Unesp Próximo Texto: Chefe da polícia nega interferência de lobista Índice
|