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Grafite deixa gueto, seduz a classe média e vira moda
Antes ligadas à rua, pinturas conquistam galerias, decoram casas e até produtos
Artistas brasileiros foram
chamados para pintar as
paredes de um castelo
escocês; na SPFW, público
pôde brincar com tintas
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os desenhos quase sempre
coloridos, alguns em preto e
cinza, muitas vezes disformes e
abstratos, que há mais de 30
anos nascem em plena madrugada paulistana e ganham vida
nos muros abandonados da cidade não se contentam mais
com as ruas.
Espécie de desejo coletivo do
momento de boa parte da classe média alta, o grafite deixa becos e vielas e chega a galerias de
arte, vagões de trens, carros,
embalagens para perfumes, tênis e até a quartos de crianças
(veja nesta página). Vai além, e
se torna atração turística em
castelo escocês com assinatura
genuinamente brasileira.
Até quem nunca tinha entrado em contato com rolo de pintura e lata de tinta anda brincando de grafitar. Quem passou
pelo lounge da Motorola instalado no SPFW (São Paulo Fashion Week), que terminou na
terça-feira, aprendeu a fazer
grafite. As paredes brancas do
início do evento foram tomadas
por desenhos dos visitantes e
do pessoal da Choque Cultural,
grupo de grafiteiros contratado
para ajudar o público.
A idéia, diz a gerente de marketing da Motorola, Andréia
Vasconcelos, "foi fazer o público participar". A interação parece ter dado certo. Andressa
Consença, 23, modelo, colocou
a mão na massa. "Grafitar parece uma volta à infância porque
lembra aquelas pinturas que a
gente fazia com guache."
No SPFW, o grafite conquistou espaço. No primeiro dia de
desfile, modelos da grife Uma
usaram tênis grafitados. Foi
mais um dos trabalhos de Flávio Ferraz, 29, o Jey, que no dia
30 de maio reabriu em Pinheiros, zona oeste, a Grafiteria
-uma galeria de arte só para
grafite. "Nossa proposta mudou e agora queremos atrair visitantes de galeria de arte e fazer com que vejam o grafite como expressão artística. Quando
o pessoal vê o trabalho na rua,
acha que é transgressão, mas,
na galeria, vê como obra."
Uma exposição do grafiteiro
Paulo Ito toma conta da Grafiteria (rua dos Pinheiros, 493),
que abre gratuitamente de terça à sexta, das 12h às 19h, e aos
sábados, das 11h às 17h. Faz
parte da exposição um carro
Peugeot grafitado pelo artista.
Não é preciso, porém, ir até
uma galeria de arte para ver
grafite além dos muros. Desde
segunda-feira, as lojas do Boticário oferecem uma linha de
perfume que teve suas embalagens e frascos remodelados.
Agora, é o grafite que enfeita esses produtos.
Os desenhos foram feitos por
Tatiana Garrido, 29, a Guid, por
Marta Oliveira, 21, a Miss, e por
Daniel Boleta, 29, o Boleta.
"Fomos procurados pela empresa e criamos, em paredes, os
grafites, que foram para as embalagens", conta Guid. Gerente
de marketing de perfumaria do
Boticário, Tatiana Ponce conta
que a idéia surgiu após uma
pesquisa feita com clientes da
linha, voltada para jovens.
"Eles valorizam o grafite."
Os filhos de um lorde escocês
não fizeram nenhuma pesquisa
para decidir que queriam grafiteiros brasileiros para dar cor
ao castelo da família, instalado
em Kelburn, na costa oeste da
Escócia. No mês passado, mandaram buscar Gustavo e Otávio
Pandolfo, 33, conhecido como
Os Gêmeos, Carina Pandolfo,
30, a Nina, e Francisco Rodrigues da Silva, 24, o Nunca.
"O grafite saiu das ruas e agora é visto como arte contemporânea", diz Gustavo. "Há muita
gente atrás." Além do castelo,
Os Gêmeos grafitaram tênis para a Nike e vagões de trem.
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