|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Por fumante, restaurante migra para calçada
Com lei antifumo, cresce o número de pedidos à Prefeitura de SP para colocar mesas na área externa; em 5 meses foram 60
Presidente de associação de moradores critica as autorizações e diz que medida vai trocar a contaminação
do ar pela poluição sonora
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
A nova lei estadual antifumo,
que entra em vigor em 6 de
agosto, fez bares e restaurantes
correrem para pedir autorização à Prefeitura de São Paulo
para colocar mesas e cadeiras
nas calçadas e ocupar ou reformar áreas externas. Tudo para
não perder a clientela fumante.
Levantamento em 28 das 31
subprefeituras mostra que, só
nos cinco primeiros meses deste ano, foram 60 pedidos de
mesas nas calçadas, dez deles
negados. Em todo o ano passado, foram 94 solicitações.
"Os restaurantes que têm
condições de fazer áreas externas já estão fazendo para não
perder os fumantes", diz Paulo
Morais, presidente da associação que reúne os 11 restaurantes da rua Amauri, famoso polo
gastronômico da zona oeste.
Por ali, dois deles, o Trindade
e o Forneria San Paolo, já colocaram mesas e cadeiras na calçada e numa pequena praça.
"Já não permitimos que se
fume dentro do salão, e a frequência na calçada ficou mais
intensa. Quando tem lugar lá
fora, os clientes fumantes das
mesas de dentro saem, fumam
e voltam", diz o dono do Trindade, Carlos Bettencourt.
Houve quem investisse uma
dinheirama para se adaptar à
nova lei e agradar aos clientes
fumantes. O Boteco São Bento,
no Itaim, vai gastar R$ 120 mil
na reforma da área externa de
750 metros quadrados.
A mobília vai ser toda trocada
-o paisagismo também. A obra
deve ficar pronta no final de julho, uma semana antes de a nova lei entrar em vigor.
Além do investimento físico,
os donos contrataram dois
olheiros para vigiar os fumantes infratores no salão interno.
Os agentes da Vigilância Sanitária não poderão abordar os
clientes -a fiscalização cabe à
gerência dos estabelecimentos.
"Num bar é mais complicado
porque envolve bebida e quem
vai ter de controlar essas pessoas sou eu. Nos primeiros meses, vai ser mais complicado.
Acho que vou ter dor de cabeça", diz Ronaldo Camelo, dono
do Boteco São Bento.
A ideia de mais mesas nas
calçadas atiçou a cólera dos
moradores, que reclamam do
ruído. Para Célia Marcondes,
presidente da Samorcc, a associação do bairro Cerqueira César, a lei antifumo vai trocar a
contaminação do ar dos ambientes fechados pela poluição
sonora nas áreas externas.
"Isso vai trazer transtornos.
A população já sofre com a ocupação do espaço público. A calçada é para circular, não é para
colocar mesinha e ficar. As pessoas perdem o controle, começam a beber e a falar alto durante a noite", diz.
"Realmente é complicado.
Vou colocar banquinhos do lado de fora na rua, mas tenho
medo do barulho para os vizinhos", afirma Erick Jacquin,
dono da brasserie que leva seu
nome, em Higienópolis.
Neste ano, o Psiu recebeu
6.155 reclamações e aplicou 64
multas de R$ 27 mil. Oito lugares foram fechados com base na
lei do silêncio. No ano passado,
foram 42.075 denúncias de ruído. A prefeitura diz que, pela
lei, o bar só pode funcionar depois da 1h se tiver isolamento
acústico.
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: "Sair para fumar é babaquice", diz dono do Mancini Índice
|