São Paulo, terça-feira, 23 de junho de 2009

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Por fumante, restaurante migra para calçada

Com lei antifumo, cresce o número de pedidos à Prefeitura de SP para colocar mesas na área externa; em 5 meses foram 60

Presidente de associação de moradores critica as autorizações e diz que medida vai trocar a contaminação do ar pela poluição sonora

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova lei estadual antifumo, que entra em vigor em 6 de agosto, fez bares e restaurantes correrem para pedir autorização à Prefeitura de São Paulo para colocar mesas e cadeiras nas calçadas e ocupar ou reformar áreas externas. Tudo para não perder a clientela fumante.
Levantamento em 28 das 31 subprefeituras mostra que, só nos cinco primeiros meses deste ano, foram 60 pedidos de mesas nas calçadas, dez deles negados. Em todo o ano passado, foram 94 solicitações.
"Os restaurantes que têm condições de fazer áreas externas já estão fazendo para não perder os fumantes", diz Paulo Morais, presidente da associação que reúne os 11 restaurantes da rua Amauri, famoso polo gastronômico da zona oeste.
Por ali, dois deles, o Trindade e o Forneria San Paolo, já colocaram mesas e cadeiras na calçada e numa pequena praça.
"Já não permitimos que se fume dentro do salão, e a frequência na calçada ficou mais intensa. Quando tem lugar lá fora, os clientes fumantes das mesas de dentro saem, fumam e voltam", diz o dono do Trindade, Carlos Bettencourt.
Houve quem investisse uma dinheirama para se adaptar à nova lei e agradar aos clientes fumantes. O Boteco São Bento, no Itaim, vai gastar R$ 120 mil na reforma da área externa de 750 metros quadrados.
A mobília vai ser toda trocada -o paisagismo também. A obra deve ficar pronta no final de julho, uma semana antes de a nova lei entrar em vigor.
Além do investimento físico, os donos contrataram dois olheiros para vigiar os fumantes infratores no salão interno. Os agentes da Vigilância Sanitária não poderão abordar os clientes -a fiscalização cabe à gerência dos estabelecimentos.
"Num bar é mais complicado porque envolve bebida e quem vai ter de controlar essas pessoas sou eu. Nos primeiros meses, vai ser mais complicado. Acho que vou ter dor de cabeça", diz Ronaldo Camelo, dono do Boteco São Bento.
A ideia de mais mesas nas calçadas atiçou a cólera dos moradores, que reclamam do ruído. Para Célia Marcondes, presidente da Samorcc, a associação do bairro Cerqueira César, a lei antifumo vai trocar a contaminação do ar dos ambientes fechados pela poluição sonora nas áreas externas.
"Isso vai trazer transtornos. A população já sofre com a ocupação do espaço público. A calçada é para circular, não é para colocar mesinha e ficar. As pessoas perdem o controle, começam a beber e a falar alto durante a noite", diz.
"Realmente é complicado. Vou colocar banquinhos do lado de fora na rua, mas tenho medo do barulho para os vizinhos", afirma Erick Jacquin, dono da brasserie que leva seu nome, em Higienópolis.
Neste ano, o Psiu recebeu 6.155 reclamações e aplicou 64 multas de R$ 27 mil. Oito lugares foram fechados com base na lei do silêncio. No ano passado, foram 42.075 denúncias de ruído. A prefeitura diz que, pela lei, o bar só pode funcionar depois da 1h se tiver isolamento acústico.


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