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CRIANÇA
Séculos 18 e 19 tiveram 5% de abandono
Livro conta história do abandono no Brasil
ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local
O Brasil já chegou a ter cerca de
5% de sua população livre abandonada, entre os séculos 18 e 19.
Esse é o resultado de uma pesquisa que resultou no livro "História Social da Criança Abandonada" (editora Hucitec), lançado na
semana passada pela USP (Universidade de São Paulo).
O livro reúne pesquisas e teses
desenvolvidas durante 11 anos (de
1984 a 1995) sobre os problemas
relacionados à criança no Brasil.
A autora do livro, a professora
titular de história da USP Maria
Luiza Marcílio, disse que essa porcentagem foi conseguida por meio
do estudo dos registros paroquiais
de batismo desses períodos.
"No período estudado, se dava
muita importância ao registro de
batismo. Por isso, as crianças deixadas pelas mães eram recolhidas
e logo registradas como abandonadas", contou Maria Luiza.
A professora disse que atualmente não há levantamento exato
da proporção de crianças abandonadas em relação à população do
país, "embora se saiba que a proporção é bem menor que 5%".
De acordo com a professora, nos
dois séculos passados, a Igreja Católica "tolerava e estimulava o
abandono como forma de se evitar
o aborto e o infanticídio."
Nesse período, as crianças eram
abandonadas na Roda dos Expostos, instituição de recolhimento de
bebês ligada a alguma Santa Casa.
"Exemplo do estímulo ao abandono é que se garantia o anonimato aos pais que quisessem entregar
os filhos", disse.
No muro da Roda dos Expostos
havia um cilindro onde a criança
era colocada. Tocava-se uma campanhia e a funcionária, do lado de
dentro, girava o mecanismo, que
trazia o bebê sem que os pais fossem vistos.
O livro traça a trajetória da
criança abandonada, baseando-se
em documentos nacionais e estrangeiros. Foram pesquisados arquivos e bibliotecas de Portugal,
da França e dos Estados Unidos.
Mostra ainda que a questão da
criança se tornou prioridade a
partir da promulgação da Constituição de 1988. "No entanto, as
boas leis nem sempre estão acompanhadas de boas ações."
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