São Paulo, terça, 23 de junho de 1998

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CRIANÇA
Séculos 18 e 19 tiveram 5% de abandono
Livro conta história do abandono no Brasil

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

O Brasil já chegou a ter cerca de 5% de sua população livre abandonada, entre os séculos 18 e 19.
Esse é o resultado de uma pesquisa que resultou no livro "História Social da Criança Abandonada" (editora Hucitec), lançado na semana passada pela USP (Universidade de São Paulo).
O livro reúne pesquisas e teses desenvolvidas durante 11 anos (de 1984 a 1995) sobre os problemas relacionados à criança no Brasil.
A autora do livro, a professora titular de história da USP Maria Luiza Marcílio, disse que essa porcentagem foi conseguida por meio do estudo dos registros paroquiais de batismo desses períodos.
"No período estudado, se dava muita importância ao registro de batismo. Por isso, as crianças deixadas pelas mães eram recolhidas e logo registradas como abandonadas", contou Maria Luiza.
A professora disse que atualmente não há levantamento exato da proporção de crianças abandonadas em relação à população do país, "embora se saiba que a proporção é bem menor que 5%".
De acordo com a professora, nos dois séculos passados, a Igreja Católica "tolerava e estimulava o abandono como forma de se evitar o aborto e o infanticídio."
Nesse período, as crianças eram abandonadas na Roda dos Expostos, instituição de recolhimento de bebês ligada a alguma Santa Casa. "Exemplo do estímulo ao abandono é que se garantia o anonimato aos pais que quisessem entregar os filhos", disse.
No muro da Roda dos Expostos havia um cilindro onde a criança era colocada. Tocava-se uma campanhia e a funcionária, do lado de dentro, girava o mecanismo, que trazia o bebê sem que os pais fossem vistos.
O livro traça a trajetória da criança abandonada, baseando-se em documentos nacionais e estrangeiros. Foram pesquisados arquivos e bibliotecas de Portugal, da França e dos Estados Unidos.
Mostra ainda que a questão da criança se tornou prioridade a partir da promulgação da Constituição de 1988. "No entanto, as boas leis nem sempre estão acompanhadas de boas ações."



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