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URBANISMO
Vencedor de concurso foi anunciado ontem; para Marta, projeto "vai sair do papel porque foi muito discutido"
Bairro Novo terá prédios baixos e praças
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Prédios de seis andares, uma
praça a cada quatro quarteirões,
um parque, um clube, a avenida
Pompéia transformada em bulevar e a linha do trem escondida da
paisagem. Se tudo correr bem, é
assim que ficará o primeiro bairro
planejado por iniciativa da prefeitura na história de São Paulo.
A prefeita Marta Suplicy (PT)
anunciou ontem o projeto vencedor do concurso Bairro Novo,
uma área de cerca de 100 mil hectares, o equivalente ao vale do
Anhangabaú, localizada entre a
Barra Funda e a Água Branca, na
zona oeste da cidade.
A área é um achado porque,
apesar de ser localizada em uma
região central, tem uma ocupação
muito pequena e poucos proprietários -o que facilita a negociação de futuros empreendimentos.
Ainda não há, no entanto, nenhuma garantia de que o projeto
será de fato implementado.
Na cerimônia de apresentação
do vencedor, Marta disse que o
projeto "vai sair do papel porque
nós vamos fazer a desapropriação
por meio da Câmara Municipal e
porque foi um projeto muito discutido". Segundo a prefeita, todos
os proprietários da área -a prefeitura, a União, a Telefônica e alguns particulares- aderiram.
A estimativa do secretário municipal do Planejamento, Jorge
Wilheim, é que daqui a seis meses
comecem as primeiras obras no
local. Agora, a prefeitura enviará
o projeto ao Legislativo, para
transformá-lo em lei.
O vencedor
Os vencedores foram os arquitetos Euclides Oliveira, Carolina
de Carvalho e Dante Furlan. O
grupo vai receber R$ 50 mil.
Pelo projeto, nas ruas principais
haverá lojas no térreo e apartamentos residenciais em cima. Nas
menores, que o arquiteto Oliveira
imagina calçadas com paralelepípedo, apenas uso residencial.
Nas ruas principais, haveria
uma faixa de paralelepípedo próxima às calçadas, para ser usada
de estacionamento. As calçadas,
aliás, seriam protegidas por uma
cobertura para quem caminhasse,
um dos pontos que privilegiam os
pedestres. As fachadas dos prédios, no entanto, não têm definição. A intenção é dar uma homogeneidade para quem vê a área
como um todo -com todas as
construções da mesma altura-,
não de modo particular.
O projeto do Bairro Novo nasceu de uma reavaliação da operação urbana Água Branca, que foi
criada em 1995, durante a gestão
de Paulo Maluf (1993-96), e obteve poucos resultados.
Quem é o vencedor
A idéia agora é, além de desenvolver a região, criar um local
agradável para morar. Segundo o
principal autor do projeto, Oliveira, a inspiração surgiu das próprias cidades brasileiras da primeira metade do século 20. "O
Lúcio Costa [um dos criadores de
Brasília] dizia que seis andares é o
ideal, porque é a altura de que a
mãe pode chamar da janela o filho
que está brincando lá embaixo."
O carioca Oliveira, 58, mora em
São Paulo desde 1971. Na cidade,
já realizou projetos como o prédio
dos Correios na Vila Leopoldina e
as agências de publicidade Salles e
McCann-Erickson. A maioria
desses projetos foi feita em parceria com o arquiteto Sérgio Pileggi.
O júri que escolheu os três primeiros colocados e fez sete menções honrosas era formado por
sete arquitetos, como a presidente
da Emurb, Nadia Somekh, o presidente do IAB-SP (Instituto dos
Arquitetos do Brasil), Paulo Sophia, e o próprio Wilheim. Também participou o argentino Alfredo Garay, responsável pela revitalização de Puerto Madero.
Sobre o projeto vencedor, o júri
entendeu que "possui bom conceito geral, enaltece a vida de bairro e controla a trama urbana".
Um dos membros do júri, o arquiteto Sophia lembrou que, na
construção, deve ser dada atenção
também aos operários, que merecem condições dignas. Mais tarde, o presidente do IAB-SP comparou os canteiros de obras da cidade ao gueto de Varsóvia, um
dos piores confinamentos da Segunda Guerra.
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