São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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URBANISMO

Vencedor de concurso foi anunciado ontem; para Marta, projeto "vai sair do papel porque foi muito discutido"

Bairro Novo terá prédios baixos e praças

PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Prédios de seis andares, uma praça a cada quatro quarteirões, um parque, um clube, a avenida Pompéia transformada em bulevar e a linha do trem escondida da paisagem. Se tudo correr bem, é assim que ficará o primeiro bairro planejado por iniciativa da prefeitura na história de São Paulo.
A prefeita Marta Suplicy (PT) anunciou ontem o projeto vencedor do concurso Bairro Novo, uma área de cerca de 100 mil hectares, o equivalente ao vale do Anhangabaú, localizada entre a Barra Funda e a Água Branca, na zona oeste da cidade.
A área é um achado porque, apesar de ser localizada em uma região central, tem uma ocupação muito pequena e poucos proprietários -o que facilita a negociação de futuros empreendimentos.
Ainda não há, no entanto, nenhuma garantia de que o projeto será de fato implementado.
Na cerimônia de apresentação do vencedor, Marta disse que o projeto "vai sair do papel porque nós vamos fazer a desapropriação por meio da Câmara Municipal e porque foi um projeto muito discutido". Segundo a prefeita, todos os proprietários da área -a prefeitura, a União, a Telefônica e alguns particulares- aderiram.
A estimativa do secretário municipal do Planejamento, Jorge Wilheim, é que daqui a seis meses comecem as primeiras obras no local. Agora, a prefeitura enviará o projeto ao Legislativo, para transformá-lo em lei.

O vencedor
Os vencedores foram os arquitetos Euclides Oliveira, Carolina de Carvalho e Dante Furlan. O grupo vai receber R$ 50 mil.
Pelo projeto, nas ruas principais haverá lojas no térreo e apartamentos residenciais em cima. Nas menores, que o arquiteto Oliveira imagina calçadas com paralelepípedo, apenas uso residencial.
Nas ruas principais, haveria uma faixa de paralelepípedo próxima às calçadas, para ser usada de estacionamento. As calçadas, aliás, seriam protegidas por uma cobertura para quem caminhasse, um dos pontos que privilegiam os pedestres. As fachadas dos prédios, no entanto, não têm definição. A intenção é dar uma homogeneidade para quem vê a área como um todo -com todas as construções da mesma altura-, não de modo particular.
O projeto do Bairro Novo nasceu de uma reavaliação da operação urbana Água Branca, que foi criada em 1995, durante a gestão de Paulo Maluf (1993-96), e obteve poucos resultados.

Quem é o vencedor
A idéia agora é, além de desenvolver a região, criar um local agradável para morar. Segundo o principal autor do projeto, Oliveira, a inspiração surgiu das próprias cidades brasileiras da primeira metade do século 20. "O Lúcio Costa [um dos criadores de Brasília] dizia que seis andares é o ideal, porque é a altura de que a mãe pode chamar da janela o filho que está brincando lá embaixo."
O carioca Oliveira, 58, mora em São Paulo desde 1971. Na cidade, já realizou projetos como o prédio dos Correios na Vila Leopoldina e as agências de publicidade Salles e McCann-Erickson. A maioria desses projetos foi feita em parceria com o arquiteto Sérgio Pileggi.
O júri que escolheu os três primeiros colocados e fez sete menções honrosas era formado por sete arquitetos, como a presidente da Emurb, Nadia Somekh, o presidente do IAB-SP (Instituto dos Arquitetos do Brasil), Paulo Sophia, e o próprio Wilheim. Também participou o argentino Alfredo Garay, responsável pela revitalização de Puerto Madero.
Sobre o projeto vencedor, o júri entendeu que "possui bom conceito geral, enaltece a vida de bairro e controla a trama urbana".
Um dos membros do júri, o arquiteto Sophia lembrou que, na construção, deve ser dada atenção também aos operários, que merecem condições dignas. Mais tarde, o presidente do IAB-SP comparou os canteiros de obras da cidade ao gueto de Varsóvia, um dos piores confinamentos da Segunda Guerra.


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