|
Próximo Texto | Índice
Pista principal será liberada amanhã
Ela será fechada, porém, toda vez que chover, até que seja concluída a perícia sobre sua capacidade de operação nessas condições
TAM informou que já orientou seus pilotos a não pousarem na pista principal de Congonhas quando estiver chovendo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A pista principal de Congonhas será liberada amanhã às
6h, uma semana após o acidente com o Airbus-A320 da TAM.
Será fechada, porém, toda vez
que chover -conforme a Infraero havia anunciado na semana passada-, até o fim da
perícia sobre sua capacidade de
operação nessas condições.
"A perícia da pista vai demorar menos que a investigação
aeronáutica. Está sendo feita
pela FAB [Força Aérea Brasileira], pela Polícia Federal e até a
pedido da CPI", afirmou o presidente da Infraero, brigadeiro
José Carlos Pereira.
Ele não quis estipular um
prazo para a liberação, contudo. Especula-se que possa durar até um mês, talvez menos.
"Nosso problema agora é tapar os buracos, não dá para
pousar com eles lá", afirmou,
referindo-se aos 15 "cofres de
prova" retirados pela PF para a
perícia. Cada "cofre" é uma
amostra de pista de 400 cm2,
com 40 cm de profundidade.
A pista auxiliar de Congonhas continuará a ser usada
normalmente, exceto se houver ocorrência de lâmina d'água superior a 3 mm, o que propicia risco de aquaplanagem.
Mas ela possui, diferentemente
da principal, o sistema de escoamento de água conhecido
como "grooving" -ranhuras
no asfalto que aumentam o
atrito com os pneus dos aviões.
A ausência do "grooving",
que ficou faltando na reforma
encerrada em junho e só deverá ser feito em agosto, colocou
a pista principal como suspeita
de ter contribuído para o acidente. Pilotos se queixam de
que ela estava muito escorregadia em dias de chuva.
Antes do acidente, a pista
principal só era fechada se houvesse a medição da lâmina d'água. Agora, fecha em qualquer
situação em que estiver molhada -como no dia do acidente.
O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) fez um laudo
parcial para a Infraero no qual
constatou que o coeficiente de
atrito do asfalto estava acima
dos limites mínimos operacionais, numa análise feita quatro
dias antes do acidente. O laudo
não libera ou interdita a pista.
A TAM divulgou ontem, em
nota oficial, que seus aviões
não pousarão na pista principal
se estiver chovendo. As operações na auxiliar serão mantidas, "respeitando todos os procedimentos de segurança".
A decisão já havia sido informada de manhã pelo presidente da Associação dos Tripulantes da TAM, comandante Hugo
Schaffel, quando acabou a missa em homenagem às vítimas.
"Se tiver qualquer garoa,
meio milímetro de lâmina d'água, não vamos mais arriscar. É
perigoso", afirmou o comandante, o único a falar em nome
da companhia depois que o
presidente da empresa, Marco
Antônio Bologna, se retirou
sem dar declarações.
Schaffel disse que conhecia
os pilotos, que eram pessoas
"experientes e tranqüilas".
"Não dá para dizer que um piloto assim, aprovado em todos
os testes, fosse cometer um erro desse. Também não foi falha
do avião, que estava com todos
os equipamentos vitais em
dia", disse, culpando a pista pela tragédia de terça-feira.
Em relação à pista auxiliar,
onde estão sendo feitos os pousos e decolagens desde o acidente, ele disse se sentir seguro. "Ela é menor, mas atende a
todas as normas." O problema
seriam os dias com nevoeiro,
em que ela não opera por falta
de um aparelho chamado ILS
-que só existe na principal.
Procuradas pela reportagem,
Gol e Varig afirmaram que não
têm decisão sobre pousos na
pista principal. A OceanAir informou que caberá ao piloto. A
BRA informou que não pousará na pista principal até o dia
30 e que a medida pode ser estendida ou não.
Na prática, contudo, quem
decide se a pista funciona ou
não é a Infraero.
Imagem
A TAM tem feito, desde o dia
seguinte ao acidente, uma operação para preservar sua imagem, segundo fontes do setor.
A autorização para que dois
de seus pilotos dessem entrevista ao "Jornal Nacional" de
anteontem faz parte dessa estratégia. Até então, todos os
funcionários da TAM estavam
proibidos de dar entrevistas.
Na quinta, o "Jornal Nacional" noticiou que o jato que se
acidentou tinha um dos dois reversores -aparelho auxiliar ao
sistema de freios- inoperante.
Próximo Texto: Moacyr Scliar: Os dilemas do esquecimento Índice
|