São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2008

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Deputado é preso acusado de chefiar milícia

Natalino Guimarães, do DEM, e mais cinco pessoas são suspeitos de integrar grupo que "vende" segurança na zona oeste do Rio

Acusados e polícia trocaram tiros; segundo a polícia, político participava de reunião de 13 integrantes do grupo "Liga da Justiça"


ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

O deputado estadual Natalino Guimarães (DEM), 52, foi preso no final da noite de anteontem sob acusação de integrar uma milícia que atua em Campo Grande, zona oeste do Rio. Outras cinco pessoas foram presas, entre elas dois PMs e um agente penitenciário.
A operação, que contou com cerca de cem policiais civis, registrou o primeiro caso de troca de tiros entre milicianos (em sua maioria policiais fora do serviço ou ex-policiais) e policiais em serviço. Os seis presos são acusados de tentativa de homicídio, formação de quadrilha, porte ilegal de armas e favorecimento pessoal.
O deputado Natalino Guimarães nega as acusações. Ele havia sido denunciado pela Procuradoria Geral do Estado sob acusação de formação de quadrilha, no mesmo processo que levou seu irmão, o vereador do PMDB Jerônimo Guimarães Filho -o Jerominho-, à prisão. O deputado responde em liberdade. As milícias são grupos de policiais e ex-policiais civis e militares, agentes penitenciários e bombeiros que "vendem" segurança a uma determinada área.
Segundo a polícia, eles impõem uma lei paralela, com um sistema próprio de punição, como tortura e homicídios para usuários de drogas ou ladrões. Exploram ainda o transporte alternativo e o repasse de gás de cozinha, já que esses serviços não são oferecidos nas favelas.
"A milícia é crime muito difícil de obter flagrante. Foi uma prisão muito importante", afirmou o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. A Assembléia Legislativa analisa hoje a legalidade da prisão. O prefeito Cesar Maia (DEM) afirmou que o partido definirá um relator da comissão de ética para analisar se Natalino será expulso da sigla.

"Liga da Justiça"
Os policiais chegaram por volta das 23h à casa do deputado. Ali ocorria, segundo a polícia, uma reunião de 13 integrantes da "Liga da Justiça", como se autodenomina a milícia que atua em Campo Grande. A intenção era esperar amanhecer, mas um olheiro descobriu os policiais, segundo o delegado Marcus Neves, que comandou a operação. Neves disse que houve troca de tiros e sete homens conseguiram fugir, entre eles o filho de Jerominho, o ex-PM Luciano Guimarães.
Fábio Pereira de Oliveira, um dos presos, foi ferido na mão. Também foram presos os PMs Rogério Alves de Carvalho e Ivilson de Lima, o agente penitenciário Vagner Resende de Miranda e o assessor parlamentar Julio Pereira da Costa.
A polícia afirma ter apreendido na casa um fuzil AR-15, duas escopetas, uma submetralhadora, quatro pistolas e dois revólveres, além de fardas. A casa de Natalino, que segundo a polícia foi preso com uma arma na mão, é apontada pela polícia como o "QG" da "Liga da Justiça": concentrava parte das armas, as decisões sobre assassinatos e as atividades ilegais. O grupo é investigado por pelo menos 70 mortes.
A prisão provocou protestos de moradores da região. Durante a noite, quando foi preso, Natalino foi aplaudido pelos vizinhos. Ele fez o mesmo gesto do irmão quando detido: levantou as mãos mostrando as algemas. Pela manhã, cerca de 30 pessoas fizeram uma manifestação em frente à 35ª DP contra a prisão do deputado.
Segundo as investigações, Natalino comanda a milícia com o irmão preso. Desde janeiro de 2007, a Secretaria de Segurança afastou 70 policiais civis e militares, de um total de 350, por envolvimento com milícias, segundo Beltrame.


Colaboraram FÁBIO GRELLET e LUISA BELCHIOR , da Sucursal do Rio


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