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No Rio, polícia revela propina a PMs
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Um inquérito da Draco (Delegacia de Repressão a Ações Organizadas e Inquéritos Especiais) sobre o tráfico de drogas no Jacarezinho (zona norte do Rio) concluiu que pelo menos 50 PMs do 3º Batalhão recebiam propinas de traficantes para não atrapalhar a venda de drogas na favela.
As investigações, que foram repassadas para a Delegacia de Polícia Judiciária Militar, reforçam as suspeitas levantadas anteontem pelo chefe da Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, de que a morte do traficante Waldir Ferreira, o Vado,
pode ter sido uma "queima de arquivo" empreendida por policiais
do batalhão.
Vado é citado no inquérito como sendo um dos traficantes que
davam dinheiro aos policiais.
Teixeira disse que "a Polícia Civil estava próxima de prender Vado" e que "ele valia mais vivo". Ele
afirmou que investigará a hipótese de "queima de arquivo". As
suspeitas de Teixeira são baseadas
no fato de, nas últimas duas semanas, pelo menos cinco traficantes
da facção criminosa CV (Comando Vermelho) terem morrido em
confrontos com a polícia.
O corregedor-geral de Polícia
Unificada da Secretaria Estadual
de Segurança Pública, Aldney Peixoto, afirmou "ser possível" que
Vado tenha sido morto para não
contar o que sabia sobre a corrupção policial na favela. Ele disse
que requisitará o inquérito da
Draco para apurar a cumplicidade dos policiais com traficantes.
"Quando assumi, em junho,
ninguém me falou dessa investigação, que cabe à Corregedoria",
declarou corregedor-geral.
Peixoto já investiga o envolvimento de PMs com o traficante
Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, que chefia a quadrilha à qual
Vado pertencia.
O delegado titular da 25ª Delegacia de Polícia (Engenho Novo,
zona norte), Mário Azevedo, que
investiga a morte de Vado, afirmou que também pretende requisitar o inquérito da Draco, concluído em abril.
A Folha tentou ouvir a Delegacia de Polícia Judiciária Militar sobre como estão as investigações.
Até a conclusão desta edição, a direção da unidade não havia se
pronunciado sobre o assunto.
Valores
As investigações da Draco começaram em dezembro. De acordo com a conclusão dos encarregados do inquérito, os traficantes
do Jacarezinho pagavam R$ 300
por semana a PMs do DPO (Destacamento de Policiamento Ostensivo) para que fosse permitida
a venda de cocaína e maconha na
favela. Também pagavam R$ 200
semanalmente para que os PMs
incumbidos do patrulhamento da
região não entrassem na comunidade, segundo o inquérito.
Citado no inquérito, o sargento
Jucimar Pereira de Carvalho, o
Velho, do 3º Batalhão, foi preso.
Segundo as investigações, ele fornecia armas para a quadrilha do
Jacarezinho.
O inquérito apontou o envolvimento do cantor Marcelo Pires
Vieira, o Belo, com o traficante
Vado. Com autorização judicial, a
Draco grampeou os telefones do
artista e do traficante, gravando
conversas em que eles negociariam armas e drogas. Indiciado
pela suposta prática do crime de
associação para o tráfico, Belo foi
preso em junho, sendo liberado
um mês depois pela Justiça.
O inquérito da Draco indiciou
21 pessoas, sendo que quatro continuam soltas. Entre elas, Elias
Maluco, apontado pela polícia como responsável pela morte, em 2
de junho, do jornalista Tim Lopes, da TV Globo.
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