São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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No Rio, polícia revela propina a PMs

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Um inquérito da Draco (Delegacia de Repressão a Ações Organizadas e Inquéritos Especiais) sobre o tráfico de drogas no Jacarezinho (zona norte do Rio) concluiu que pelo menos 50 PMs do 3º Batalhão recebiam propinas de traficantes para não atrapalhar a venda de drogas na favela.
As investigações, que foram repassadas para a Delegacia de Polícia Judiciária Militar, reforçam as suspeitas levantadas anteontem pelo chefe da Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, de que a morte do traficante Waldir Ferreira, o Vado, pode ter sido uma "queima de arquivo" empreendida por policiais do batalhão.
Vado é citado no inquérito como sendo um dos traficantes que davam dinheiro aos policiais.
Teixeira disse que "a Polícia Civil estava próxima de prender Vado" e que "ele valia mais vivo". Ele afirmou que investigará a hipótese de "queima de arquivo". As suspeitas de Teixeira são baseadas no fato de, nas últimas duas semanas, pelo menos cinco traficantes da facção criminosa CV (Comando Vermelho) terem morrido em confrontos com a polícia.
O corregedor-geral de Polícia Unificada da Secretaria Estadual de Segurança Pública, Aldney Peixoto, afirmou "ser possível" que Vado tenha sido morto para não contar o que sabia sobre a corrupção policial na favela. Ele disse que requisitará o inquérito da Draco para apurar a cumplicidade dos policiais com traficantes.
"Quando assumi, em junho, ninguém me falou dessa investigação, que cabe à Corregedoria", declarou corregedor-geral.
Peixoto já investiga o envolvimento de PMs com o traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, que chefia a quadrilha à qual Vado pertencia.
O delegado titular da 25ª Delegacia de Polícia (Engenho Novo, zona norte), Mário Azevedo, que investiga a morte de Vado, afirmou que também pretende requisitar o inquérito da Draco, concluído em abril.
A Folha tentou ouvir a Delegacia de Polícia Judiciária Militar sobre como estão as investigações. Até a conclusão desta edição, a direção da unidade não havia se pronunciado sobre o assunto.

Valores
As investigações da Draco começaram em dezembro. De acordo com a conclusão dos encarregados do inquérito, os traficantes do Jacarezinho pagavam R$ 300 por semana a PMs do DPO (Destacamento de Policiamento Ostensivo) para que fosse permitida a venda de cocaína e maconha na favela. Também pagavam R$ 200 semanalmente para que os PMs incumbidos do patrulhamento da região não entrassem na comunidade, segundo o inquérito.
Citado no inquérito, o sargento Jucimar Pereira de Carvalho, o Velho, do 3º Batalhão, foi preso. Segundo as investigações, ele fornecia armas para a quadrilha do Jacarezinho.
O inquérito apontou o envolvimento do cantor Marcelo Pires Vieira, o Belo, com o traficante Vado. Com autorização judicial, a Draco grampeou os telefones do artista e do traficante, gravando conversas em que eles negociariam armas e drogas. Indiciado pela suposta prática do crime de associação para o tráfico, Belo foi preso em junho, sendo liberado um mês depois pela Justiça.
O inquérito da Draco indiciou 21 pessoas, sendo que quatro continuam soltas. Entre elas, Elias Maluco, apontado pela polícia como responsável pela morte, em 2 de junho, do jornalista Tim Lopes, da TV Globo.


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