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São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2003

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ENSINO SUPERIOR

Maiores instituições do país tentam saída para cobrir rombo provocado pela inadimplência, que pode chegar a 30%

Dívidas e evasão crescem na rede privada

LUIS RENATO STRAUSS
DA REPORTAGEM LOCAL

Com os alunos tendo cada vez mais dificuldade para pagar suas mensalidades, até as maiores universidades privadas do país estão tendo de cortar gastos e buscar maneiras de cobrir o rombo provocado pelo aumento da evasão escolar e da inadimplência que, em algumas instituições, subiu de 15% no segundo semestre de 2002 para 30% no último semestre.
Levantamento feito pela Folha entre as dez maiores universidades privadas (Unip, Estácio de Sá, Ulbra, PUC-MG, PUC-RS, Unisinos, Univali, Mackenzie, Uninove e Universo), tendo como base o faturamento, mostra que a maioria já sente o reflexo da crise econômica. Todas possuem mais de 30 mil estudantes.
A evasão nos cursos da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) dobrou no último semestre. Ao todo, cerca de 6% dos mais de 41 mil estudantes não fizeram a matrícula para seus cursos neste semestre.
A instituição aponta que também dobrou o número de pessoas que procuraram o crédito estudantil da universidade. O benefício, que cobra juros de 2% ao ano, atende atualmente cerca de 3.000 estudantes -além disso, são concedidas 7.700 mil bolsas.
A inadimplência na PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) chegou a 30% dos estudantes neste ano, sendo que a média dos anos anteriores era de 15%. Segundo o reitor Norberto Francisco Rauch, em alguns casos, a universidade tem reduzido o valor da dívida dos inadimplentes que querem regularizar sua situação.
A Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) registra 6% de evasão -a média era de 3%. Segundo Romeu Formeck, diretor econômico-financeiro da universidade, a taxa também reflete a política da instituição de não permitir a matrícula de estudantes que cursem menos de três disciplinas por semestre.
Na Univali (Universidade do Vale do Itajaí), a evasão também chega a 6%.

Estratégias
Nelson Callegari, secretário-geral da Universidade Presbiteriana Mackenzie, diz que dados sobre a atual situação dos alunos da universidade só devem ser consolidados no final do ano. Mas já admite que eles serão expressivos.
A universidade, no entanto, já adotou uma política para reverter o quadro. Em vez de oferecer bolsas integrais, a instituição optou por reduzir o valor do benefício para poder atender a um número maior de estudantes. Hoje, 15 mil dos 31 mil estudantes recebem uma bolsa -o maior número já oferecido pela universidade.
A Universidade Estácio de Sá fez a opção de diminuir os custos administrativos para manter as mensalidades baixas -a média é de R$ 300. Segundo Marcelo Campos, diretor da entidade mantenedora, os alunos não suportariam nenhum aumento. As despesas foram reduzidas, por exemplo, com a informatização do atendimento ao aluno e com a terceirização da limpeza. Em ambos os casos, uma redução de 30% nessas despesas.
As salas de aula também estão cada vez mais vazias. Na Ulbra (Universidade Luterana do Brasil), há casos de turmas em que a evasão supera 50%. A saída é juntar salas, mas sem, segundo a instituição, demitir professores. Além disso, houve uma redução de 10% no número de créditos (disciplinas cursadas). Isso significa que os alunos estão preferindo prorrogar a duração de seus cursos para poder pagar uma mensalidade mais barata.
Outra saída foi contratar uma instituição financeira para renegociar as dívidas de estudantes. Ainda não há dados de quantos procuraram o serviço. Também encaminhou 10.500 alunos (de um total de 63 mil) para estágios remunerados -20% a mais do que em 2002.

Na pele
O estudante que pediu para ser identificado como Fernando, 28, não paga as mensalidades da PUC-SP desde maio. Sua mulher está desempregada e ele não consegue reduzir mais as despesas domésticas. "No começo, perdia a concentração e não conseguia estudar. Sentia-me inferior aos demais estudantes. Hoje, tento me concentrar."
A Unip (Universidade Paulista), a Uninove (Centro Universitário Nove de Julho) e a Universo (Universidade Salgado Oliveira), que vêm sendo procuradas desde o dia 14, não responderam à Folha.


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