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ENSINO SUPERIOR
Maiores instituições do país tentam saída para cobrir rombo provocado pela inadimplência, que pode chegar a 30%
Dívidas e evasão crescem na rede privada
LUIS RENATO STRAUSS
DA REPORTAGEM LOCAL
Com os alunos tendo cada vez
mais dificuldade para pagar suas
mensalidades, até as maiores universidades privadas do país estão
tendo de cortar gastos e buscar
maneiras de cobrir o rombo provocado pelo aumento da evasão
escolar e da inadimplência que,
em algumas instituições, subiu de
15% no segundo semestre de 2002
para 30% no último semestre.
Levantamento feito pela Folha
entre as dez maiores universidades privadas (Unip, Estácio de Sá,
Ulbra, PUC-MG, PUC-RS, Unisinos, Univali, Mackenzie, Uninove
e Universo), tendo como base o
faturamento, mostra que a maioria já sente o reflexo da crise econômica. Todas possuem mais de
30 mil estudantes.
A evasão nos cursos da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) dobrou no
último semestre. Ao todo, cerca
de 6% dos mais de 41 mil estudantes não fizeram a matrícula para
seus cursos neste semestre.
A instituição aponta que também dobrou o número de pessoas
que procuraram o crédito estudantil da universidade. O benefício, que cobra juros de 2% ao ano,
atende atualmente cerca de 3.000
estudantes -além disso, são concedidas 7.700 mil bolsas.
A inadimplência na PUC-RS
(Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul) chegou a
30% dos estudantes neste ano,
sendo que a média dos anos anteriores era de 15%. Segundo o reitor Norberto Francisco Rauch,
em alguns casos, a universidade
tem reduzido o valor da dívida
dos inadimplentes que querem
regularizar sua situação.
A Unisinos (Universidade do
Vale do Rio dos Sinos) registra
6% de evasão -a média era de
3%. Segundo Romeu Formeck,
diretor econômico-financeiro da
universidade, a taxa também reflete a política da instituição de
não permitir a matrícula de estudantes que cursem menos de três
disciplinas por semestre.
Na Univali (Universidade do
Vale do Itajaí), a evasão também
chega a 6%.
Estratégias
Nelson Callegari, secretário-geral da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, diz que dados sobre a
atual situação dos alunos da universidade só devem ser consolidados no final do ano. Mas já admite
que eles serão expressivos.
A universidade, no entanto, já
adotou uma política para reverter
o quadro. Em vez de oferecer bolsas integrais, a instituição optou
por reduzir o valor do benefício
para poder atender a um número
maior de estudantes. Hoje, 15 mil
dos 31 mil estudantes recebem
uma bolsa -o maior número já
oferecido pela universidade.
A Universidade Estácio de Sá fez
a opção de diminuir os custos administrativos para manter as
mensalidades baixas -a média é
de R$ 300. Segundo Marcelo
Campos, diretor da entidade
mantenedora, os alunos não suportariam nenhum aumento. As
despesas foram reduzidas, por
exemplo, com a informatização
do atendimento ao aluno e com a
terceirização da limpeza. Em ambos os casos, uma redução de 30%
nessas despesas.
As salas de aula também estão
cada vez mais vazias. Na Ulbra
(Universidade Luterana do Brasil), há casos de turmas em que a
evasão supera 50%. A saída é juntar salas, mas sem, segundo a instituição, demitir professores.
Além disso, houve uma redução
de 10% no número de créditos
(disciplinas cursadas). Isso significa que os alunos estão preferindo prorrogar a duração de seus
cursos para poder pagar uma
mensalidade mais barata.
Outra saída foi contratar uma
instituição financeira para renegociar as dívidas de estudantes.
Ainda não há dados de quantos
procuraram o serviço. Também
encaminhou 10.500 alunos (de
um total de 63 mil) para estágios
remunerados -20% a mais do
que em 2002.
Na pele
O estudante que pediu para ser
identificado como Fernando, 28,
não paga as mensalidades da
PUC-SP desde maio. Sua mulher
está desempregada e ele não consegue reduzir mais as despesas
domésticas. "No começo, perdia a
concentração e não conseguia estudar. Sentia-me inferior aos demais estudantes. Hoje, tento me
concentrar."
A Unip (Universidade Paulista),
a Uninove (Centro Universitário
Nove de Julho) e a Universo (Universidade Salgado Oliveira), que
vêm sendo procuradas desde o
dia 14, não responderam à Folha.
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