São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

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Sem qualidade, não adianta ter mais aula, dizem especialistas

Consultores apontam a falta de controle do cumprimento da carga horária exigida por lei para tirar a habilitação

No Estado de São Paulo, um em cada três candidatos à primeira carteira de habilitação é reprovado no exame prático ou teórico

DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento da quantidade de aulas não vai melhorar a formação dos condutores no país se não forem resolvidas outras deficiências no processo para tirar a carteira de habilitação, de acordo com especialistas.
Entre elas, a baixa qualidade dos cursos e a falta de controle do cumprimento da carga horária exigida pela legislação.
Hoje em dia são comuns candidatos que pagam por todas as aulas, mas sem freqüentá-las, com a conivência das auto-escolas. Em São Paulo, já foram detectadas até estratégias para burlar os controles de presença -como a utilização de dedo de silicone no momento da identificação digital do candidato.
"Aumentar as aulas é um contra-senso, porque os problemas estão mais ligados à falta de fiscalização. Se fosse no futuro, poderia ser justificável", afirma Flaminio Fichmann, especialista em trânsito.
O consultor Horácio Augusto Figueira diz ser favorável à elevação da carga horária, mas acompanhada de outras mudanças no processo de formação dos condutores.
Ele faz críticas, por exemplo, ao fato de as aulas para tirar a CNH enfatizarem mais os aspectos punitivos do que de segurança viária. "Hoje as auto-escolas treinam papagaios para repetir ações. Ensinam que não pode ultrapassar no sinal vermelho porque vai receber multa de tanto, e não porque está colocando vidas em risco."
Figueira defende uma co-responsabilização na formação dos motoristas para identificar instrutores e estabelecimentos que aprovaram motoristas envolvidos em muitos acidentes.

Reprovações
Praticamente um a cada três candidatos à primeira habilitação em São Paulo é reprovado no exame prático ou teórico.
No primeiro semestre deste ano, a taxa de reprovação na prova prática no Estado atingiu 40% dos 146 mil interessados. Na teórica, ela foi de 37%.
O índice de reprovação é considerado alto. "É resultado da base educacional precária no Brasil. Muita gente sabe ler, mas não sabe entender aquilo que lê", diz Jaime Waisman, da USP, para quem esse problema não se resolve com o aumento de aulas, mas sim com a formação de estudantes nas escolas.
O próprio presidente da federação das auto-escolas, Magnelson Carlos de Souza, afirma: "no Brasil hoje há um adestramento, os candidatos são preparados para passar no exame, e não para aprender a dirigir".
E mesmo esse adestramento dá errado por dois motivos, diz. Primeiro porque muitos candidatos não querem fazer as aulas -apesar de pagá-las. Segundo porque os exames práticos são às vezes "subjetivos".
Souza avalia que o ideal seria não ter nenhuma carga mínima obrigatória para tirar a CNH, assim como em alguns países da Europa. "Mas com exame rigoroso. Só passaria quem estivesse em condições. Daí os candidatos saberiam que teriam que fazer aulas para estar preparados", avalia. (AI)


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