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Sem qualidade, não adianta ter mais aula, dizem especialistas
Consultores apontam a falta de controle do cumprimento da carga horária exigida por lei para tirar a habilitação
No Estado de São Paulo,
um em cada três candidatos à primeira carteira de habilitação é reprovado no exame prático ou teórico
DA REPORTAGEM LOCAL
O aumento da quantidade de
aulas não vai melhorar a formação dos condutores no país se
não forem resolvidas outras deficiências no processo para tirar a carteira de habilitação, de
acordo com especialistas.
Entre elas, a baixa qualidade
dos cursos e a falta de controle
do cumprimento da carga horária exigida pela legislação.
Hoje em dia são comuns candidatos que pagam por todas as
aulas, mas sem freqüentá-las,
com a conivência das auto-escolas. Em São Paulo, já foram
detectadas até estratégias para
burlar os controles de presença
-como a utilização de dedo de
silicone no momento da identificação digital do candidato.
"Aumentar as aulas é um
contra-senso, porque os problemas estão mais ligados à falta de fiscalização. Se fosse no
futuro, poderia ser justificável", afirma Flaminio Fichmann, especialista em trânsito.
O consultor Horácio Augusto
Figueira diz ser favorável à elevação da carga horária, mas
acompanhada de outras mudanças no processo de formação dos condutores.
Ele faz críticas, por exemplo,
ao fato de as aulas para tirar a
CNH enfatizarem mais os aspectos punitivos do que de segurança viária. "Hoje as auto-escolas treinam papagaios para
repetir ações. Ensinam que não
pode ultrapassar no sinal vermelho porque vai receber multa de tanto, e não porque está
colocando vidas em risco."
Figueira defende uma co-responsabilização na formação
dos motoristas para identificar
instrutores e estabelecimentos
que aprovaram motoristas envolvidos em muitos acidentes.
Reprovações
Praticamente um a cada três
candidatos à primeira habilitação em São Paulo é reprovado
no exame prático ou teórico.
No primeiro semestre deste
ano, a taxa de reprovação na
prova prática no Estado atingiu
40% dos 146 mil interessados.
Na teórica, ela foi de 37%.
O índice de reprovação é considerado alto. "É resultado da
base educacional precária no
Brasil. Muita gente sabe ler,
mas não sabe entender aquilo
que lê", diz Jaime Waisman, da
USP, para quem esse problema
não se resolve com o aumento
de aulas, mas sim com a formação de estudantes nas escolas.
O próprio presidente da federação das auto-escolas, Magnelson Carlos de Souza, afirma:
"no Brasil hoje há um adestramento, os candidatos são preparados para passar no exame,
e não para aprender a dirigir".
E mesmo esse adestramento
dá errado por dois motivos, diz.
Primeiro porque muitos candidatos não querem fazer as aulas
-apesar de pagá-las. Segundo
porque os exames práticos são
às vezes "subjetivos".
Souza avalia que o ideal seria
não ter nenhuma carga mínima
obrigatória para tirar a CNH,
assim como em alguns países
da Europa. "Mas com exame rigoroso. Só passaria quem estivesse em condições. Daí os candidatos saberiam que teriam
que fazer aulas para estar preparados", avalia.
(AI)
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