São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

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entrevista

Para ex-ministro, prevalece a "ética da malandragem"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ex-ministro da Saúde e hoje diretor da Anvisa responsável pela avaliação de agrotóxicos, Agenor Álvares diz que, nos negócios relacionados a esses produtos, muitas vezes prevalece a "ética da malandragem". Leia trechos da entrevista.

 

FOLHA - Qual a conseqüência da liminar da Justiça proibindo a reavaliação dos agrotóxicos?
ANGENOR ÁLVARES
- A conseqüência é o retardamento de um processo que, para nós, é vital. O papel da Anvisa é verificar qual tipo de malefício pode ser causado à população [pelo agrotóxico] -para o trabalhador e para o consumidor. A meu ver, é uma decisão totalmente equivocada. O mais grave é que foi tomada sem nos ouvir antes.

FOLHA - Por que o sr. acha que o juiz tomou essa decisão?
ÁLVARES
- Ele tomou essa decisão com informação de apenas um dos lados, um lado cujo interesse maior é o interesse econômico.

FOLHA - Países como a China aumentaram a exportação de agrotóxicos para o Brasil depois da proibição em outros países. ÁLVARES - A China tem uma população de mais de 1 bilhão de pessoas, tendo que produzir alimentos para todos. Se ela julga que um produto está causando malefícios aos trabalhadores e ao consumidor, nós teríamos que simplesmente banir aquilo do nosso portfólio de importação. Nessa área, eu nem titubearia, cancelaria de imediato, [mas] estamos impedidos por causa da liminar. Me faz lembrar aquela frase do Nelson Rodrigues: estamos voltando à condição de complexo de vira-lata. Não serve para lá e serve para cá?

FOLHA - Há um conflito ético?
ÁLVARES
- Lógico. Alguns países têm essa preocupação [ética]. Mas outros colocam só o interesse comercial na frente. E, se tem alguém que quer comprar, então a ética aí é a ética da malandragem. E a ética da malandragem, em muitos dos negócios na área de agrotóxicos, é a que prevalece.


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