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SAÚDE
Médico alerta para correção da gagueira
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pais devem ficar atentos para a
repetição de sons, sílabas ou palavras inteiras durante os primeiros
anos dos seus filhos. Geralmente
o problema desaparece até os cinco anos, mas, se persistir, pode ser
o primeiro sinal da gagueira.
Nesse caso, a sensibilidade dos
pais é fundamental. Chamar a
atenção da criança, interrompê-la, corrigi-la e obrigá-la a falar
corretamente só piora a situação.
O melhor é procurar ajuda médica e fonoaudiológica.
Especialistas dizem que a gagueira pode ter origem na pressa
de ouvir e de falar. Isso causaria
um descompasso entre o pensamento e a fala. Mas há divergências quanto às causas e formas de
tratamento do distúrbio.
Existem correntes para justificar o problema a partir de fatores
hereditários, psicológicos, orgânicos ou sociais.
A fonoaudióloga clínica Silvia
Friedman, 50, professora da PUC
(Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo), afirma que há condições subjetivas e socioculturais
que podem possibilitar que uma
pessoa desenvolva "gagueira natural" ou "gagueira sofrimento".
A gagueira natural seria aquela
que não causa incômodo à pessoa. Ela até pode hesitar na hora
da fala, repetir palavras ou sons,
mas não se constrange. A gagueira sofrimento é justamente o contrário. Ao falar, a pessoa fica tensa, com medo de errar e o ato
transforma-se em um verdadeiro
tormento.
Gaguejar ou não, segundo Silvia, é uma questão relativa à situação de comunicação e não orgânica, e acontece em um momento
de concorrência das palavras.
"Todos nós temos gagueira. É
uma reação normal", afirma.
Para ela, o grande problema é a
sociedade preconceituosa, que
hostiliza quem não tem uma
fluência perfeita. Silvia foi uma
das organizadoras de um livro sobre o tema lançado esta semana
em São Paulo.
No caso das crianças, segundo a
fonoaudióloga, os pais são peças-chaves no tratamento. O principal
desafio é fazê-los reinterpretar
seus filhos e entender que não há
fluência absoluta.
A arquiteta Maria Isabel Braga,
37, conhece essa lição ao pé da letra. Há oito anos, ela escutou um
diálogo entre o filho Lucas, na
época com cinco anos, e uma coleguinha, no qual ele falava abertamente que era gago.
"Fiquei em pânico. Até então
não tinha percebido nada", diz.
Ela afirma que foi chamada na escola do menino, e uma das coordenadoras disse que ela deveria
procurar a ajuda de uma fonoaudióloga clínica.
Maria Isabel levou o filho à especialista, mas não gostou do tratamento. "Havia um ranço psicoterapêutico que não tinha nada
com o meu filho."
Identificou-se imediatamente
com a linha de uma segunda profissional, que partia do pressuposto de que a fala é uma habilidade como outra qualquer e que
"hesitar" em alguns momentos é
normal. Com o passar dos anos,
Lucas melhorou sua fluência e hoje as repetições ou hesitações na
fala são quase imperceptíveis.
Diagnóstico
Para a fonoaudióloga Ana Maria Maaz Alvarez, há possíveis
causas neurológicas e psiquiátricas envolvidas no processo da gagueira, que precisam ser avaliadas
por meio de um diagnóstico sofisticado, que inclui exames de processamento auditivo e eletrofisiológicos, avaliação clínica e outros
testes.
Os exames eletrofisiológicos
mostram a velocidade com a qual
o estímulo auditivo percorre o sistema nervoso.
A partir do resultados, segundo
Ana Maria, é escolhido o tratamento ou treinamento a que o paciente será submetido. Às vezes,
por exemplo, ele precisa perceber
mais pausa e musicalidade, funções que estão no hemisfério direito. São escolhidos, então, exercícios que vão estimular a parte
do cérebro carente da função.
Ana Maria afirma que certos tipos de gagueira estão relacionados a doenças como déficit de
atenção e da síndrome de Tourette, que provoca tiques, movimentos involuntários, entre outros.
Nessas situações, além da fonoaudióloga, outros dois profissionais (neurologista e psiquiatra)
participam da avaliação do paciente. Geralmente, é indicado o
uso de medicamentos que vão
reequilibrar a rede de neurotransmissores (substâncias que fazem
a comunicação no cérebro).
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