São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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ESTRADAS

Veículos pesados são 30% do tráfego das rodovias privatizadas, mas aparecem em 40% dos acidentes com morte

Caminhões oferecem os maiores riscos

DA REPORTAGEM LOCAL

Os caminhões representam cerca de 30% do tráfego de veículos nas rodovias concedidas de São Paulo, mas estão envolvidos em 40% dos acidentes com mortes.
Os caminhoneiros são os que mais preocupam os especialistas em segurança do trânsito porque resistem a evitar as viagens durante a noite e a madrugada.
"O caminhoneiro sempre prefere dirigir à noite porque existe menos tráfego. E, para carregar e descarregar os veículos, tem que ser de dia. Sobram os horários da noite para viajar", afirma Nélio Botelho, presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro.
Com um tempo de sono inferior ao da maioria da população, eles ingerem em média 50 comprimidos por mês para se manter na direção, segundo pesquisa de Cláudia Moreno, da Unifesp.
O risco atinge essencialmente os motoristas autônomos, que representam 65% da categoria -80% deles admitem tomar algum tipo de remédio para continuar no volante sem dormir.
Botelho reconhece que as condições de trabalho dos caminhoneiros prejudicam a segurança de muitos motoristas nas estradas, mas diz que a categoria é vista injustamente como vilã.
"O profissional opera pela lei de mercado. A remuneração está muito ruim, e ele é obrigado a cumprir uma jornada criminosa. Mas, muitas vezes, ele é vítima da barbeiragem de um carro, e não culpado por um acidente."

Cochilo
Marco Túlio de Mello, professor do Instituto do Sono, ligado à Unifesp, diz que a dica para os motoristas que optam por dirigir à noite ou são obrigados a essa prática é "não brigar" com a situação de sono.
"O certo é parar, cochilar durante 30 minutos, tomar um banho e beber um café forte", afirma o pesquisador. "O caminhoneiro não costuma fazer isso porque evita parar no acostamento e em postos da estrada por causa da falta de segurança. E, além de dormir pouco, ele dorme muito mal, porque dorme dentro do caminhão", diz Mello.
Mello fez uma pesquisa com 400 motoristas de ônibus que atuam nas estradas, dos quais 16% admitiam ter dormido ao volante e 52% diziam conhecer um colega de trabalho que passa constantemente por essa situação.
A pesquisa, com apoio do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado), levou ainda 55 motoristas para uma análise detalhada em laboratório. Do total, 45% se mostraram cansados e sonolentos.
(ALENCAR IZIDORO)

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