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DESIGUALDADE
Pesquisa mostra que aumento de lares sob responsabilidade feminina foi mais intenso em áreas de exclusão
80% das chefes de casa são excluídas em SP
EDNEY CIELICI DIAS
DA REDAÇÃO
Apenas 20% das mulheres que
chefiam casas na capital paulista
podem ser chamadas de incluídas
(moram em bairros, por exemplo,
que têm acesso a serviços públicos, baixa taxa de homicídio juvenil, reduzido índice de mortalidade infantil e escolaridade média
alta). Todas as demais têm de administrar seus lares em regiões
em que falta alguma coisa ou em
que falta tudo.
Nas áreas de exclusão social da
cidade de São Paulo, as casas sob
chefia feminina aumentaram sua
participação em 44,6% entre os
anos de 1991 e 2000 (19,3% do total de domicílios para 27,9%). Nas
áreas com melhores condições de
vida, o aumento foi de 29%.
O total de lares (695.782) chefiados por mulheres nas zonas excluídas da capital paulista é maior
do que a soma de todos os domicílios de Belo Horizonte.
A terceira edição do Mapa da
Exclusão/Inclusão Social, pesquisa da PUC-SP, permite qualificar
os números que os censos de 1991
e 2000 apuraram para São Paulo.
O mapa mede as diferenças de
condição de vida na cidade. São
considerados 47 indicadores, que
englobam renda, educação, acesso a serviços públicos, condições
de moradia, mortalidade na infância, homicídio juvenil etc.
O crescimento na participação
das chefes mulheres na capital
paulista (39,6%) poderia sugerir,
a princípio, um processo de igualdade entre os sexos em um contexto de avanço social. Mas não é
isso que se verifica quando os indicadores são transpostos para
espaços urbanos.
Do total dos domicílios sob responsabilidade de mulheres, 80%
estão em áreas de exclusão. Não
por coincidência, os distritos que
registraram os maiores crescimentos na proporção de mulheres chefe estão entre os que apresentam piores condições de vida.
Rumo à periferia
O aumento de mulheres chefes
na capital está fortemente ligado
ao movimento da população em
direção à periferia. Os mais pobres, ao longo da década de 90, rumaram para as áreas distantes do
centro para ter acesso à moradia
própria -a fuga do aluguel.
Essas áreas periféricas foram
ocupadas precariamente, sem o
acompanhamento de serviços públicos e infra-estrutura urbana.
"Vai a casa, mas não vai o resto",
diz Dirce Koga, 38, pesquisadora
da equipe que elabora mapa. O
resto citado pela pesquisadora é a
parte que cabe ao poder público
no atendimento aos moradores
da maior cidade do país.
Trata-se de um fenômeno ainda
mais claro nos extremos do município -áreas de forte exclusão social. Na borda norte de São Paulo,
o distrito de Anhanguera teve um
aumento de 80,2% no percentual
de lares de chefia feminina (de
11,5% do total, em 91, para 20,7%,
em 2000). Na extremidade oeste,
o Jaguaré apresentou 67,1% (de
17,2% para 28,8%). Na margem
leste, o Itaim Paulista registrou
67,0% (de 16,6% para 27,6%). Na
zona sul, o Grajaú teve 65,4% (de
14,7% para 24,3%).
As sem-renda
A condição precária em que se
estabelecem esses domicílios fica
mais evidente quando é analisada
a distribuição das chefes de casa
sem renda em São Paulo.
Elas eram 100.795 em 2000. Dessas, 90.964 (90,2%) estavam em
áreas de exclusão social.
Para Aldaíza Sposati, secretária
municipal da Assistência Social,
professora da PUC e coordenadora da pesquisa da exclusão/inclusão social, o crescimento dos lares
femininos é reflexo do esgarçamento familiar em regiões em que
a miséria predomina. São zonas
desassistidas pelo poder público,
em que as mulheres se tornam
mães cada vez mais cedo.
Luiz Antonio Pinto de Oliveira,
55, chefe do Departamento de População e Indicadores Sociais do
IBGE, lembra que o vínculo entre
pobreza, abandono social e aumento do número de casas sob
responsabilidade feminina é algo
que se verifica em outras periferias brasileiras, sobretudo nas regiões Sudeste e Sul. Nas capitais
do Nordeste -como Salvador,
Recife, Aracaju e São Luís-, a
emigração masculina para outros
locais, em especial os grandes
centros, é fator importante para a
explicação do fenômeno.
As incluídas
A porção incluída das mulheres
chefes de lar na capital se encontra nas regiões centrais. Bela Vista
é o distrito que tem o maior percentual de mulheres responsáveis
pelo domicílio cidade: 44,3%. Outros sete distritos têm indicador
acima de 40% (ver quadro).
O crescimento da participação
da chefia feminina da área incluída foi comparativamente menor
-29,0%, contra os 44,6% da área
excluída. Em 2000, os lares femininos em áreas de inclusão somaram 171.720, o que equivale ao número total de domicílios de Natal,
capital do Rio Grande do Norte.
O que ocorre na porção incluída
é algo bem distinto do que se verifica na periferia, como notam Oliveira, do IBGE, e a equipe de pesquisadores do mapa. Nas regiões
centrais, essas mulheres encontram infra-estrutura urbana, serviços públicos e aluguéis baratos.
Entre elas, há um grande contingente de viúvas (a expectativa de
vida feminina é maior).
As chefes incluídas têm escolaridade mais elevada. Vão do operariado com mais renda até a classe alta -encarnam os aspectos
comportamentais normalmente
atribuídos a esses estratos. A
igualdade entre sexos e o aumento da autonomia feminina ficam,
portanto, mais cor-de-rosa em
contexto de inclusão social.
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