São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2004

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MASSACRE NO CENTRO

Dado se refere apenas a moradores agredidos com objetos contundentes e que morreram no local do crime

SP teve 24 sem-teto assassinados desde 2001

FERNANDA FERNANDES
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A cada 30 dias, pelo menos um morador de rua é vítima de agressão com paus, barras de ferro e outros objetos contundentes na cidade de São Paulo. Quase metade dos casos ocorre no centro da capital paulista.
Segundo levantamento da assessoria especial de direitos humanos da Procuradoria Geral de Justiça, 58 moradores de rua foram agredidos nos últimos três anos -casos registrados a partir de agosto de 2001. Dessas agressões, 25 ocorreram no centro da cidade, 15 só nas proximidades da praça da Sé.
Pelo menos 24 morreram no local do crime, segundo os boletins de ocorrência. Na região central, foram dez mortes, incluindo as sete vítimas fatais de dois ataques ocorridos nos dias 19 e 22 de agosto passado. Em 2003, a capital paulista registrou 4.268 homicídios dolosos (com intenção).
O número total de óbitos de moradores de rua, no entanto, pode ser maior, pois o levantamento não inclui as vítimas que podem ter morrido no hospital. A pesquisa também não contabiliza os moradores de rua feridos com armas de fogo e objetos perfurantes, como facas.
A assessoria de direitos humanos usou o Infocrim (base informatizada de boletins de ocorrência) para fazer o levantamento. Os registros iniciais, porém, não esclarecem se as agressões resultaram de conflitos entre os próprios moradores de rua ou de ataques de grupos, como os que ocorreram no mês passado.
"Vamos esclarecer melhor os casos quando analisarmos os inquéritos policiais nas próximas semanas. Mas esse levantamento, que não traz dados desconhecidos da polícia, já mostra que as agressões a moradores de rua não são práticas tão raras como se pensava", afirmou o promotor Carlos Cardoso, assessor de direitos humanos da Procuradoria.
Dois policiais militares e um segurança clandestino tiveram a prisão decretada na semana passada por suspeita de envolvimento nos dois últimos ataques. Até agora, não há ligação entre esses dois casos e as outras ocorrências registradas na capital.
"Só com a análise dos inquéritos veremos se há uma possível ligação entre os ataques, se os autores foram identificados pela polícia e denunciados", disse Cardoso.
Ontem, policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) ouviram um dos policiais militares supostamente envolvido nos ataques de agosto.
O inquérito policial está sob sigilo. Hoje deve ser ouvido o outro policial militar. O segurança clandestino depôs ontem e negou envolvimento nos ataques.
O DHPP ainda espera que a Corregedoria da Polícia Militar informe os números telefônicos dos dois PMs para que seja solicitada a quebra de sigilo à Justiça.


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