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REPRODUÇÃO ASSISTIDA
Médicos admitem que praticam a sexagem, técnica proibida pelo Conselho Federal de Medicina
Conselho investiga casos de escolha de sexo de bebês
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo apura possível infração ao código de ética médica
praticada por especialistas em reprodução assistida que estão utilizando técnicas de fertilização in
vitro para a escolha do sexo do
bebê, prática proibida por resolução do Conselho Federal de Medicina e condenada pelas sociedades brasileiras de reprodução.
O Ministério Público também
começou a investigar a atitude
dos médicos, mas ainda não sabe
em que crime enquadrá-los porque não há no país uma lei que
regulamente as técnicas de reprodução assistida. Por enquanto, a
promotoria solicitou aos médicos
da área pareceres técnicos.
A sexagem -como é chamada
a escolha do sexo do bebê- é
permitida apenas com a finalidade de evitar o nascimento de
crianças portadoras de doenças
ligadas aos cromossomos sexuais,
como hemofilia e distrofia muscular. Em nenhum lugar do mundo, exceto na Califórnia (EUA),
essa prática é permitida apenas
para satisfazer uma vontade.
Reportagem da revista "Veja"
do último domingo traz vários
casos de pessoas que já têm filhos
e que recorreram às técnicas de
reprodução assistida apenas para
ter um outro bebê do sexo desejado. Pelo menos três médicos admitiram à revista que adotam a
prática em nome do "equilíbrio"
ou "balanceamento" familiar.
O problema é que, além de utilizar técnicas ainda experimentais,
recomendadas apenas a casais inférteis- e sempre como última
alternativa-, esses casais estão
autorizando o descarte dos embriões indesejáveis, o que também é proibido pelo CRM.
Segundo Clovis Francisco
Constantino, presidente do CRM,
o primeiro passo da sindicância
será ouvir os médicos que admitiram a prática à "Veja". Todo processo corre em sigilo.
"O balanço ou equilíbrio familiar não é uma justificativa aceitável para a prática da sexagem. Isso não é usual na grande maioria
das clínicas", diz Selmo Geber,
presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida.
Para o urologista Jorge Hallak,
diretor do centro de reprodução
humana do HC de São Paulo, os
especialistas que adotam a sexagem para a escolha do do sexo fazem um mau uso da tecnologia
reprodutiva e da ciência. "Bebê de
proveta não pode ser encarado
como aplicação de botox. Isso
não é parque de diversões."
Segundo Hallak, as técnicas de
reprodução assistida, especialmente a ICSI (que permite a fecundação do óvulo com um único espermatozóide), podem trazer sérios riscos ao bebê.
Segundo o promotor Marco
Antonio Zanellato, apesar de não
existir lei sobre a sexagem ou outras prática em reprodução assistida no país, é possível uma providência judicial apenas com base
na resolução do CFM. "O descarte de embriões pode ser caracterizado como crime de aborto."
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