São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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Para ex-fumantes, ajuda médica é essencial

Primeiro passo para parar de fumar é ter a percepção do risco que o cigarro representa à saúde, avalia especialista

Uma parte dos fumantes perde, em média, 18 anos de vida, e os que conseguiram parar tentaram de 3 a 5 vezes, afirma psiquiatra

DANIELA TÓFOLI
MÁRCIO PINHO

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma pequena porcentagem da população mundial divide sua vida em um calendário específico: AC/DC. Não se trata de "antes de Cristo" e "depois de Cristo". São ex-fumantes que viviam uma rotina "antes do cigarro" e, ao largarem o vício, descobriram que existem prazeres "depois do cigarro". A turma é pequena. De acordo com a Surgeon General (equivalente norte-americano do Ministério da Saúde), apenas 6% dos que tentam parar de fumar passam mais de um mês longe do vício.
A estratégia de boa parte dos que conseguem é usar métodos tão variados que vão da terapia à medicação, passando por práticas alternativas como acupuntura e yoga. Fumante de um a dois maços por dia desde os dez anos, a fotógrafa Ana Elisa Oriente, 47, não poupou esforços. Ela lançou mão de quatro armas ao mesmo tempo: acompanhamento psicológico, adesivo de nicotina, remédios e chicletes. "Vivo uma luta diária, porque fica a lembrança daquele prazer, mas me sinto orgulhosa por estar sem fumar."
A sensação de ser uma heroína também acompanha a aposentada Maria José de Souza Costa, 67. Fumante desde que tinha 42 anos, ela procurou ajuda em um programa antitabagismo do governo federal e, desde maio, não fuma mais. "Nem precisei tomar remédio. Vou toda semana aos encontros com os enfermeiros e psicólogos e estou agüentando firme", afirma.
Acompanhamento especializado é fundamental, avaliam os ex-fumantes. Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas na Unifesp, afirma, porém, que o primeiro passo para largar o cigarro é a percepção do risco de continuar fumando. "Uma parte dos fumantes perderá, em média, 18 anos de vida", diz. "Boa parte vai tentar parar de três a cinco vezes antes de conseguir. Portanto, quanto mais tenta, mais consciente das dificuldades fica."
Ao adquirir essa consciência, explica, muitos buscam estratégias mais eficientes. Para ele, os chicletes e adesivos de nicotina são baratos e diminuem os sintomas de abstinência. Já a terapia sozinha, diz, é insuficiente para lidar com a abstinência. "Os medicamentos são bons, mas caros. E precisam de acompanhamento médico porque há sintomas colaterais."
Jaqueline Scholz Issa, coordenadora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Incor (Instituto do Coração), afirma que parar de fumar tem a ver com motivação, mas que o método usado tem relevância. "Inúmeros estudos comparando placebo com medicamentos demostram que os fármacos triplicam a chance de o paciente largar o cigarro. Já os repositores de nicotina, como os adesivos, duplicam as chances."
Ela diz que, quando os fumantes procuram um médico, é porque têm alto grau de dependência à nicotina. "Concluir que se possa incentivar um paciente a parar de fumar baseado somente na crença motivacional é igual a incentivar alguém a atravessar o chão em brasa, para provar a fé."
A bancária Vera Lúcia Merigue Rosa, 50, é exceção. Ela largou o cigarro sem nenhuma ajuda. Fumante desde os 17 anos, época em que "fumar significava fazer parte de um grupo bacana", ela deixou o vício onze anos depois, quando uma infecção na garganta a impediu de comer e fumar por três dias. Apenas a força de vontade, porém, não foi suficiente para a representante comercial Jocimara Padilha de Siqueira, 44, que após tentar diversos métodos como o adesivos e chicletes, teve de usar medicamentos.

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