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Para ex-fumantes, ajuda médica é essencial
Primeiro passo para parar de fumar é ter a percepção do risco que o cigarro representa à saúde, avalia especialista
Uma parte dos fumantes perde, em média, 18 anos de vida, e os que conseguiram parar tentaram de 3 a 5 vezes, afirma psiquiatra
DANIELA TÓFOLI
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma pequena porcentagem
da população mundial divide
sua vida em um calendário específico: AC/DC. Não se trata
de "antes de Cristo" e "depois
de Cristo". São ex-fumantes
que viviam uma rotina "antes
do cigarro" e, ao largarem o vício, descobriram que existem
prazeres "depois do cigarro". A
turma é pequena. De acordo
com a Surgeon General (equivalente norte-americano do
Ministério da Saúde), apenas
6% dos que tentam parar de fumar passam mais de um mês
longe do vício.
A estratégia de boa parte dos
que conseguem é usar métodos
tão variados que vão da terapia
à medicação, passando por práticas alternativas como acupuntura e yoga. Fumante de
um a dois maços por dia desde
os dez anos, a fotógrafa Ana Elisa Oriente, 47, não poupou esforços. Ela lançou mão de quatro armas ao mesmo tempo:
acompanhamento psicológico,
adesivo de nicotina, remédios e
chicletes. "Vivo uma luta diária,
porque fica a lembrança daquele prazer, mas me sinto orgulhosa por estar sem fumar."
A sensação de ser uma heroína também acompanha a aposentada Maria José de Souza
Costa, 67. Fumante desde que
tinha 42 anos, ela procurou ajuda em um programa antitabagismo do governo federal e,
desde maio, não fuma mais.
"Nem precisei tomar remédio.
Vou toda semana aos encontros com os enfermeiros e psicólogos e estou agüentando firme", afirma.
Acompanhamento especializado é fundamental, avaliam os
ex-fumantes. Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade
de Pesquisa em Álcool e Drogas
na Unifesp, afirma, porém, que
o primeiro passo para largar o
cigarro é a percepção do risco
de continuar fumando. "Uma
parte dos fumantes perderá,
em média, 18 anos de vida", diz.
"Boa parte vai tentar parar de
três a cinco vezes antes de conseguir. Portanto, quanto mais
tenta, mais consciente das dificuldades fica."
Ao adquirir essa consciência,
explica, muitos buscam estratégias mais eficientes. Para ele,
os chicletes e adesivos de nicotina são baratos e diminuem os
sintomas de abstinência. Já a
terapia sozinha, diz, é insuficiente para lidar com a abstinência. "Os medicamentos são
bons, mas caros. E precisam de
acompanhamento médico porque há sintomas colaterais."
Jaqueline Scholz Issa, coordenadora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Incor (Instituto do Coração), afirma que parar de fumar tem a
ver com motivação, mas que o
método usado tem relevância.
"Inúmeros estudos comparando placebo com medicamentos
demostram que os fármacos
triplicam a chance de o paciente largar o cigarro. Já os repositores de nicotina, como os adesivos, duplicam as chances."
Ela diz que, quando os fumantes procuram um médico,
é porque têm alto grau de dependência à nicotina. "Concluir que se possa incentivar
um paciente a parar de fumar
baseado somente na crença
motivacional é igual a incentivar alguém a atravessar o chão
em brasa, para provar a fé."
A bancária Vera Lúcia Merigue Rosa, 50, é exceção. Ela largou o cigarro sem nenhuma
ajuda. Fumante desde os 17
anos, época em que "fumar significava fazer parte de um grupo bacana", ela deixou o vício
onze anos depois, quando uma
infecção na garganta a impediu
de comer e fumar por três dias.
Apenas a força de vontade, porém, não foi suficiente para a
representante comercial Jocimara Padilha de Siqueira, 44,
que após tentar diversos métodos como o adesivos e chicletes,
teve de usar medicamentos.
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