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Até trancar maço em armário é tática
Fumante desde os 14, secretária afirma que técnica de dificultar o acesso permitiu redução de dois terços no consumo
Adesivos, chicletes, remédios e até psicanálise fazem parte dos métodos usados por aqueles que pretendem deixar o cigarro de lado
DA REPORTAGEM LOCAL
Parar de fumar é o sonho de
muita gente. E foi exatamente
um sonho, enquanto dormia,
que fez o taxista Valmir Pereira, 48, estipular que o próximo
dia 19 de outubro, dia do seu
aniversário, será o último da
sua vida de fumante.
"Não consigo me lembrar
bem, mas meu pai ou minha sogra apareceram e me disseram
que eu ficaria com câncer se
não parasse de fumar," diz o taxista, que reside em São Paulo.
O recado foi a motivação encontrada para abandonar um
vício que tem desde os 20 anos.
Ele sempre tentou parar usando somente a força de vontade,
mas não conseguiu. Agora, promete trocar o cigarro por calmantes naturais.
A secretária executiva Dalva
Maria de Mendonça, 54, tenta
largar o vício há anos. Fumante
desde os 14, ela diz que já tentou abandonar o cigarro por
conta própria, com aplicação de
laser, adesivos, remédios, chicletes e piteiras, mas não teve
sucesso.
Com amigos fumantes que tiveram problemas de saúde, ela
diz que seguir fumando dá medo e que usa sua força de vontade para reduzir o consumo.
A fórmula encontrada pela
funcionária da Eletronorte residente em Brasília foi guardar
o maço na bolsa e trancá-la em
um armário, tanto em casa como no trabalho. "Tenho muito
serviço e não tenho tempo de ir
até o armário e abri-lo para
achar o cigarro. Além do que dá
preguiça. É melhor do que deixar o maço ao alcance da mão."
Ela diz que conseguiu reduzir o consumo diário de um maço e meio para apenas meio maço. Mas queria que fosse mais.
"Há anos estou com muita vontade de parar de fumar. Todos
os dias eu falo para mim mesma
que vou parar de fumar, porque
é incômodo, o cheiro é ruim e
faz mal. Mas a luta é difícil", diz.
Como ela, Regina Maria do
Rosário, 43, já tentou de tudo,
até spray anticigarro. Funcionária da Secretaria de Educação da cidade da Lapa, no Paraná, ela fuma desde os 18 anos e
vive com vontade de parar. Mas
não consegue. "Sei que depende da força de vontade, só que
não é tão simples assim."
Em 98, ela fez um tratamento
com laser que retirava a nicotina da corrente sangüínea. Deu
certo até o momento em que
entrou na faculdade e passou a
conviver com as tragadas dos
colegas, três anos após ter parado. Voltou a fumar um maço
por dia. Depois, já tentou adesivos de nicotina, um spray que
deixa gosto ruim na boca quando a pessoa acende o cigarro e,
agora, está apostando nos chicletes. "O problema é que a cabeça tem de estar preparada."
Foi para "preparar" a cabeça
que a professora paulistana Luciele Amancio, 44, começou a
fazer terapia. Há quatro anos,
decidiu largar o vício. "Valia tudo: acupuntura, terapia, yoga.
Mas não queria remédio. Senão, ia trocar um vício por outro." A opção foi a psicanálise.
Durante dois anos, ela freqüentou sessões de terapia
freudiana semanalmente. Descobriu que tentava preencher o
vazio de ter perdido a mãe
quando ainda era criança, mas
nem essa compreensão facilitou sua tarefa. "Eu ficava uma
semana longe do cigarro. Aparecia um problema e eu recorria a ele, era como colo de mãe."
Ao contrário dela, Angélica
(nome fictício), residente em
São Paulo, aderiu aos medicamentos para tentar deixar o vício. Tomou Ziban no ano passado e conseguiu ficar 32 semanas sem fumar. Porém, estar
longe do cigarro era um "sofrimento grande", e ela retomou a
prática. Agora está tomando
Champix.
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