São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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Até trancar maço em armário é tática

Fumante desde os 14, secretária afirma que técnica de dificultar o acesso permitiu redução de dois terços no consumo

Adesivos, chicletes, remédios e até psicanálise fazem parte dos métodos usados por aqueles que pretendem deixar o cigarro de lado

DA REPORTAGEM LOCAL

Parar de fumar é o sonho de muita gente. E foi exatamente um sonho, enquanto dormia, que fez o taxista Valmir Pereira, 48, estipular que o próximo dia 19 de outubro, dia do seu aniversário, será o último da sua vida de fumante.
"Não consigo me lembrar bem, mas meu pai ou minha sogra apareceram e me disseram que eu ficaria com câncer se não parasse de fumar," diz o taxista, que reside em São Paulo.
O recado foi a motivação encontrada para abandonar um vício que tem desde os 20 anos. Ele sempre tentou parar usando somente a força de vontade, mas não conseguiu. Agora, promete trocar o cigarro por calmantes naturais.
A secretária executiva Dalva Maria de Mendonça, 54, tenta largar o vício há anos. Fumante desde os 14, ela diz que já tentou abandonar o cigarro por conta própria, com aplicação de laser, adesivos, remédios, chicletes e piteiras, mas não teve sucesso.
Com amigos fumantes que tiveram problemas de saúde, ela diz que seguir fumando dá medo e que usa sua força de vontade para reduzir o consumo.
A fórmula encontrada pela funcionária da Eletronorte residente em Brasília foi guardar o maço na bolsa e trancá-la em um armário, tanto em casa como no trabalho. "Tenho muito serviço e não tenho tempo de ir até o armário e abri-lo para achar o cigarro. Além do que dá preguiça. É melhor do que deixar o maço ao alcance da mão."
Ela diz que conseguiu reduzir o consumo diário de um maço e meio para apenas meio maço. Mas queria que fosse mais. "Há anos estou com muita vontade de parar de fumar. Todos os dias eu falo para mim mesma que vou parar de fumar, porque é incômodo, o cheiro é ruim e faz mal. Mas a luta é difícil", diz.
Como ela, Regina Maria do Rosário, 43, já tentou de tudo, até spray anticigarro. Funcionária da Secretaria de Educação da cidade da Lapa, no Paraná, ela fuma desde os 18 anos e vive com vontade de parar. Mas não consegue. "Sei que depende da força de vontade, só que não é tão simples assim."
Em 98, ela fez um tratamento com laser que retirava a nicotina da corrente sangüínea. Deu certo até o momento em que entrou na faculdade e passou a conviver com as tragadas dos colegas, três anos após ter parado. Voltou a fumar um maço por dia. Depois, já tentou adesivos de nicotina, um spray que deixa gosto ruim na boca quando a pessoa acende o cigarro e, agora, está apostando nos chicletes. "O problema é que a cabeça tem de estar preparada."
Foi para "preparar" a cabeça que a professora paulistana Luciele Amancio, 44, começou a fazer terapia. Há quatro anos, decidiu largar o vício. "Valia tudo: acupuntura, terapia, yoga. Mas não queria remédio. Senão, ia trocar um vício por outro." A opção foi a psicanálise.
Durante dois anos, ela freqüentou sessões de terapia freudiana semanalmente. Descobriu que tentava preencher o vazio de ter perdido a mãe quando ainda era criança, mas nem essa compreensão facilitou sua tarefa. "Eu ficava uma semana longe do cigarro. Aparecia um problema e eu recorria a ele, era como colo de mãe."
Ao contrário dela, Angélica (nome fictício), residente em São Paulo, aderiu aos medicamentos para tentar deixar o vício. Tomou Ziban no ano passado e conseguiu ficar 32 semanas sem fumar. Porém, estar longe do cigarro era um "sofrimento grande", e ela retomou a prática. Agora está tomando Champix.

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