São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2008

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Filho de desembargador e PM trocam acusações de agressão

Bate-boca em bar no Itaim Bibi por conta de nota fiscal terminou na delegacia

Juiz afirma que filho foi agredido e nega que ele tenha usado seu nome ou desacatado a policial; procurada, PM não comenta

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os espelhos e a mesa Luis 15, os tetos retráteis e as palmeiras imperiais do Pennélope Bar Beats & Boutique -"point" do "público selecionadíssimo" no Itaim Bibi (zona oeste de SP), dizem os guias de baladas- foram o cenário, anteontem, de uma confusão que começou com um bate-boca por causa da nota fiscal e terminou com chutes no joelho de uma policial militar e gás de pimenta no rosto de um estudante de direito, filho de um desembargador.
Cada cena tem mais de uma versão. Felipe Caballero da Rocha, 19, acusa a polícia de tê-lo espancado no bar e no caminho até a delegacia; já a policial militar o acusa de agressão.
Segundo informações do termo circunstanciado de ocorrência (TCO), dadas pela Polícia Civil, Felipe teria agredido a policial que ele próprio chamara após divergência com a administração do bar (por causa de uma nota fiscal). Ele alegava "incompatibilidade" entre o cardápio e o valor da comanda e queria o recibo. A máquina para emissão estava quebrada.
Com a chegada da PM, a nota foi fornecida (todos concordam nesse ponto). Mas Felipe a rasgou. A conta, afirma, teria dado R$ 175 -e ele, gasto R$ 150. "O gerente me disse que eu e meu amigo éramos "playboys" e que R$ 15 a mais não fariam falta", disse. Foi quando houve um bate-boca e, diz o TCO, Felipe deu "dois chutes no joelho da policial". Ela, então, lançou gás de pimenta sobre Felipe, que foi algemado e levado para o 15º Distrito Policial, no Itaim.
Era por volta de meia-noite. "E não durou mais que 15 minutos", diz o administrador do bar, Thiago Alencar, que acusa Felipe de tentar usar a influência do pai, o desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, Wellington Maia da Rocha. "Ele disse: meu pai é desembargador, você não vai querer ter problemas." Ele diz ainda que não houve qualquer incompatibilidade de valores. "É que isso, às vezes, acontece: por ter um pai com cargo, eles fazem isso."

"Indícios de abuso"
Felipe e o amigo foram levados pelos policiais militares ao 15º DP, onde prestaram depoimento. Um TCO foi assinado pela delegada de plantão, Daniela de Oliveira, com as naturezas: desacato, lesão corporal e abuso de autoridade -e então encaminhado ao Juizado Especial Criminal.
"Foram mais de sete horas" entre o registro da ocorrência e a liberação do termo. "Nesse ínterim, saímos várias vezes", diz Rocha, o pai: para ir ao hospital e ao IML. "Eu acredito que há indícios disso [abuso de força policial por parte da PM]. Ele estava com vários hematomas nas costas e nas pernas. Cheguei lá e vi sinais de algemas apertadas, de spray de pimenta, o rosto dele todo vermelho", diz, indignado. "Por isso, acredito que no trajeto da casa à delegacia houve arbitrariedades."
Procurada pela Folha desde as 17h, a Polícia Militar não se manifestou sobre as acusações ou sobre o TCO.
Rocha negou que o filho tenha usado seu nome ou desacatado a policial. "Ele é estudante de direito, sabe muito bem que se praticar qualquer tipo de ilícito penal não conseguirá ser nem advogado", diz. Rocha diz que a intenção do filho é ser advogado público e seguir a carreira de procurador federal. "Então, ele sabe muito bem que não pode fazer isso".


Colaborou o "Agora"


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