São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2011

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'Era um menino de família', dizem colegas

Conhecidos afirmam estar surpresos com tragédia; pai e mãe são religiosos e atenciosos com os filhos, segundo vizinhos

Na mochila de D., polícia acha desenho em que ele se retrata com armas na mão ao lado de um professor

LAURA CAPRIGLIONE

DE SÃO PAULO

LUISA PESSOA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um sentimento de incredulidade tomou conta dos colegas e amigos de D.,10, que ontem atirou na professora e se matou dentro da escola municipal Dona Alcina Dantas Feijão, em São Caetano.
"Ele era um menino de família, um menino bonito, um menino limpo", disse Inês da Silva, 43, que foi a primeira mãe de aluno a chegar à escola depois da tragédia.
Ela teve de se juntar ao esforço para acalmar os alunos desesperados, todos chorando, enquanto procurava consolar a própria filha, também de 10 anos, que viu D. ensanguentado no chão, massa encefálica exposta, um funcionário tentando reanimá-lo com massagem cardíaca.
D. frequentava com sua mãe a casa de Inês, que é vizinha à escola. "Ele era um menino feliz", disse Inês, descartando a hipótese de um garoto problemático, com tendências depressivas.
A Folha perguntou a todos os vizinhos e colegas de escola que encontrou na noite de ontem se D. poderia ter sido uma vítima de bullying.
Um amigo disse nunca ter presenciado nenhuma situação parecida com essa. "Não tinha por que sofrer bullying. Era bom aluno e até bonito."
Uma colega de escola descreve-o como "um menino calmo, bem-arrumado, educado e branco". Outra menina, por exemplo, negra, descreveu ter sido, ela mesma, xingada de "macaca" por colegas do Alcina.

RELIGIOSOS
Os vizinhos do conjunto habitacional em que D. vivia, com apartamentos de 56 m2 cada, localizado no bairro Mauá, em São Caetano, descrevem uma família religiosa, presente na vida das crianças e tranquila.
Pai, mãe e os dois filhos eram evangélicos e frequentavam os cultos da sua igreja. O irmão mais velho já foi alistado na guarda-mirim da cidade de São Caetano.
A mãe -dona de casa- sempre fazia com os filhos os 800 metros entre a escola e a casa. "Eles nunca iam sozinhos", garantiu uma vizinha, Edna Lucia da Silva, 49, auxiliar de limpeza, mãe de três alunos da mesma escola.
Os moradores do mesmo conjunto residencial contam que a mãe de D. nem sequer deixava os filhos descerem para a área de convivência do prédio, a fim de brincar com meninos da mesma idade. "Ela tinha medo das más companhias", disse Edna. "E com razão", completou.
Não houve quem dissesse ter testemunhado brigas familiares ou presenciado episódios de violência doméstica. O pai, da Guarda Civil Municipal de São Caetano, é descrito como um homem atencioso e gentil. "Ele sempre cumprimentava os vizinhos e era simpático", disse Edna.
Na tentativa de explicar o que aconteceu, vizinhos mencionam uma suposta suspensão escolar de três dias, que D. teria tomado "injustamente". "Não que justifique, mas só pode ter sido algum problema muito sério ocorrido na escola", diz Edna.
Na mochila de D., a polícia encontrou um desenho em que ele se autorretratava aos 16 anos , com uma arma em cada mão, ao lado de um homem identificado por ele como "professor".


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