São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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ÚNICA CHANCE

Eloá, de um ano e oito meses, passa por transplante inédito no Rio

Bebê recebe fígado da madrinha

Roberto Price/Folha Imagem
Eloiza beija a filha, Eloá, que passou por um transplante de fígado para curar um câncer


CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

A pequena Eloá Fontora da Costa, de um ano e oito meses, tornou-se nesta semana a primeira criança do Rio de Janeiro a passar por um transplante intervivos de fígado para curar um câncer. A doadora do órgão foi a madrinha da menina. Ambas passam bem.
A cirurgia ocorreu no Hospital Geral de Bonsucesso (HGB), no Rio, na última terça-feira. Os médicos retiraram 30% do fígado de Márcia, 40, e transplantaram parte do fragmento no lugar do órgão retirado de Eloá. O novo fígado da menina começou a funcionar normalmente (na produção de bílis) logo após a cirurgia. A expectativa é que em uma semana o fígado de Márcia esteja regenerado. Ela teve alta hospitalar ontem.
O transplante, única chance de sobrevivência, foi a segunda batalha pela vida enfrentada por Eloá. Nascida prematura, com apenas 1 kg e 35 cm, a menina permaneceu quase dois meses na incubadora. O diagnóstico do câncer no fígado aconteceu exatamente no dia do seu aniversário, 26 de janeiro, quando os pais receberam o resultado da biopsia do tumor.
"Eu e meu marido resolvemos manter segredo e fazer a festinha dela de um ano normalmente. No dia seguinte, ela iniciou a quimioterapia", diz a mãe Eloiza Ferreira da Fontoura, 43, funcionária pública federal, que tem outro filho, de 16 anos.
Nos últimos dez meses, foram ao todo dez sessões de quimio. O tratamento, porém, não conseguiu eliminar por completo o tumor, e a única saída passou a ser um transplante. Os parentes se prontificaram a doar, mas, um a um, foram rejeitados, ou por incompatibilidade ou por não preencher os requisitos necessários para a doação.
Márcia foi a única aprovada, mas, por não ser parente consangüínea, a família precisou ir à Justiça para conseguir autorização do transplante. De acordo com a lei federal 10.211, são considerados parentes até 4º grau apenas cônjuge, filho, irmão, sobrinho, primos, tios e avós.
"Foi emocionante ver um caso em que a madrinha, mesmo tendo filhos e família, se propôs a fazer uma cirurgia de grande porte, salvando a vida da afilhada", afirma Alexandre Cerqueira, cirurgião da equipe de transplante de fígado do HGB.
Para Eloiza, o gesto da amiga é um exemplo de desprendimento e amor ao próximo. "Ela não pensou duas vezes e não se importou em ganhar uma enorme cicatriz na barriga", conta.
Segundo Cerqueira, a maior preocupação agora é com eventuais infecções que a menina possa ter durante a internação. Devido à própria prematuridade e às seguidas sessões de quimioterapia, Eloá pesa 7 kg.
"As chances de rejeição ao transplante são muito remotas", afirma o médico.


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