UOL


São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estado tem 786 internos envolvidos em homicídio e latrocínio, mais do que a soma de outras 14 unidades da Federação

SP concentra menores acusados de matar

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA

O número de adolescentes internados por assassinatos em São Paulo é maior do que a soma dos menores acusados pelo mesmo crime em outros 14 Estados.
Segundo levantamento feito pela Folha, dos 1.421 adolescentes envolvidos em homicídios ou latrocínios (roubo seguido de morte) nesses 15 Estados, 786 estão sob a guarda da Febem, a instituição responsável por cuidar de menores infratores em São Paulo.
Os 635 restantes cumprem medidas socioeducativas (punição prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente) ou aguardam decisão judicial no Rio de Janeiro, em Santa Catarina, no Espírito Santo, no Pará, em Roraima, em Mato Grosso do Sul, no Ceará, na Paraíba, no Piauí, na Bahia, em Alagoas, em Pernambuco, no Maranhão e em Sergipe. Nos demais Estados, a reportagem não obteve os dados.
O levantamento mostra que São Paulo abriga 573 jovens envolvidos em homicídios e 213 em latrocínios. Esses números totalizam, respectivamente, 446 e 121 nos demais Estados -sem contar o Rio, que divulgou apenas o número total de 68 homicídios e latrocínios, sem especificar.
Quase todos os acusados são do sexo masculino. No Brasil, poucas meninas estão envolvidas em crimes de morte. O Pará tem o maior número declarado de garotas acusadas de envolvimento em assassinatos: seis, sendo cinco delas homicidas e uma latrocida.
São Paulo é também o campeão em número de internos: há 6.705 crianças e adolescentes nessa situação nas unidades paulistas da Febem, contra 4.830 nos outros 14 Estados.
Com 2.266 jovens cumprindo medidas socioeducativas em regime fechado ou semi-aberto, o Rio de Janeiro vem em segundo lugar no ranking. Mas, apesar da quantidade de internos, só 68 estão envolvidos em assassinatos, segundo a estatística oficial.
Esse número é inferior até mesmo ao registrado no Ceará, que declarou manter sob sua guarda 521 internos, sendo 141 acusados de homicídio ou latrocínio. O Maranhão vem em terceiro lugar, com 79 jovens homicidas ou latrocidas -sempre levando-se em conta os Estados consultados.

Custos
Poucos governos divulgaram quanto gastam com os jovens infratores. Apenas Ceará e Pernambuco forneceram a informação.
Segundo a Secretaria de Ação Social do Ceará, o Estado gasta R$ 1.800 mensais com cada interno. Em Pernambuco, esse custo cai para R$ 1.030, de acordo com a Secretaria da Justiça.
Para a coordenadora do núcleo de proteção social e medidas socioeducativas da Secretaria da Ação Social do Ceará, Sâmara Maciel, os números do Estado, incluindo o de jovens envolvidos em crimes de morte, não divergem da realidade nacional.
Os fatores que levam a esses crimes, diz, também são comuns. No Estado, o uso de drogas, o envolvimento com gangues e a falta de perspectivas para o futuro são as causas principais que induzem os adolescentes a matar.
A prevenção, segundo Maciel, não é apenas um problema de ação social, mas também de segurança pública. "Os adolescentes de gangues são muito fechados, a organização é muito fechada, o que dificulta o acesso para um trabalho educacional", disse.


Colaboraram a Reportagem Local, a Sucursal do Rio e KAMILA FERNANDES e TIAGO ORNAGHI, da Agência Folha


Texto Anterior: Cadeia linha dura é maior reduto
Próximo Texto: Para especialistas, adolescentes já vivem em prisão
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.