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Nutricionistas veem risco de contaminação
Para especialistas, a vistoria nas merendas das escolas municipais evidenciam uma falta de controle da prefeitura
Fiscalização também achou deficiências e infraestrutura precária em escolas onde a refeição é preparada pelos servidores municipais
DA REPORTAGEM LOCAL
Nutricionistas especializadas em alimentação escolar ouvidas pela Folha avaliam que
as situações registradas pelo
CAE (Conselho de Alimentação Escolar) apontam para riscos de contaminação da merenda dos alunos da rede municipal e devem ser objeto de um
plano para corrigir as falhas.
"Os problemas levantados
pela fiscalização evidenciam
uma falta de controle e oferecem algum risco de contaminação. Os pombos (localizados
dentro do refeitório dos alunos), por exemplo, circulam
em locais contaminados e suas
próprias fezes são perigosas",
afirma Manuella de Souza Machado, agente do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar).
Segundo Manuella, há possibilidade de distúrbios intestinais e até doenças mais graves,
como no caso do ovo podre. "O
ovo é muito propenso, por si só
já tem patogênicos de grande
risco, como a salmonella", diz.
Para a professora da Unifesp
Cristina Gaglianone, coordenadora do Cecane (Centro Colaborador em Alimentação e
Nutrição do Escolar) da Região
Sudeste, os casos citados mostram situações em que alunos
podem ficar doentes.
"Todos os problemas têm algum tipo de risco, maior ou
menor, mas pode haver contaminação", afirma Cristina.
Por servidores
A fiscalização da merenda
também constatou deficiências
em escolas onde a refeição é
preparada pelos próprios servidores (modelo chamado de autogestão). Nessas unidades, já
houve diversos flagrantes de
falta de uniformes e toucas das
merendeiras, além da infraestrutura precária -como fogão
em más condições.
Numa vistoria no CEI Cidade
4º Centenário, no dia 21 de outubro, a fiscalização do CAE
constatou falta de comida.
Além do baixo estoque, não havia leite em pó nem macarrão.
A prefeitura admite a falha pela
falta do leite em pó (alega um
problema no contrato de fornecimento), mas considera não
haver motivos para a ausência
do macarrão. E diz que os estoques da unidade foram reabastecidos dois dias depois.
Os dois modelos de fornecimento da merenda (terceirizado e autogestão) são motivo de
uma disputa de mercado entre
empresas de cada segmento e
constante troca de acusações
entre elas.
Receita alta
A disputa é por uma receita
estimada em R$ 2 bilhões por
ano no país. Na capital paulista,
os contratos com as terceirizadas atingem R$ 35 milhões por
mês. Com base em relatório da
Fipe/USP, a Promotoria já tentou barrar na Justiça a continuidade do sistema terceirizado em São Paulo, afirmando
que ele é mais caro e de pior
qualidade -além de acusações
de conluio entre as empresas.
Essa avaliação é questionada
pela prefeitura e pelas empresas terceirizadas -que alegam
ser vítimas de uma campanha
de atacadistas, interessados em
vender só os alimentos, e não os
serviços de preparo e distribuição da merenda.
Numa ação trabalhista, um
advogado que tentou barrar diversas licitações nos últimos
anos disse que era pago por um
grupo de 11 empresários atacadistas para fazer lobby contra a
terceirização.
(ALENCAR IZIDORO e JOSÉ ERNESTO CREDENDIO)
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