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DANUZA LEÃO
A paz dos inquietos
Eles vivem em eterna tensão, para o bem ou para o mal; só não podem é ficar parados. Os caminhos que escolhem são sempre os mais difíceis
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É A INQUIETAÇÃO; ou você nasce
com ela ou não, e se nasceu,
vai passar a vida inteira com
uma pressão no peito e outra na alma, querendo entender e não entendendo, trocando de casa, de objetivo,
de marido e de analista, sem chegar,
nunca, a uma conclusão.
Um inquieto não tem sossego: se é
pobre, gostaria de ser rico, se é rico,
acha que o dinheiro atrapalha e que
talvez fosse mais feliz se morasse
numa pequena cabana. Se é inverno,
ele se lembra com saudades do verão, mas se está debaixo do mais lindo sol, pensa em como seria bom se
estivesse em Gramado no inverno,
de botas, tomando um chocolate
quente. Não é que ele queira sempre
o que não tem; apenas não consegue
viver o momento presente -não em
paz. Ou está lembrando do passado
ou pensando em como vai ser bom
quando o futuro chegar. É duro fazer
parte da tribo dos inquietos.
Com eles não há risco de monotonia; acordam te sufocando com
beijos e abraços ou na mais fria das
indiferenças, e o pior: sem saber o
porquê. No meio do dia podem telefonar como a mais dócil das criaturas, sem conseguir explicar por que
foram tão insuportáveis horas antes.
Nem explicar, nem entender. É dura
a vida dos que vivem perto de um
inquieto.
Mesmo quando está tudo bem -o
amor perfeito e o trabalho legal,
alguma coisa atrapalha: é a tranqüilidade. Como é possível alguém viver em paz e em harmonia com as
pessoas e com o mundo? Difícil de
responder.
Difícil, a vida dos inquietos, e ninguém imaginaria o quanto essas
pessoas tão vitais -porque vitalidade é o que não lhes falta- sofrem,
mas que ninguém confunda sofrimento com infelicidade. Nada a ver.
Para eles nunca há paz; há momentos de intensa e fugaz felicidade,
mas paz, nunca. O grande momento
dos inquietos é quando eles começam a planejar uma mudança de
vida, seja essa mudança quebrar
uma parede, mudar de profissão ou
de país.
Eles vivem em eterna tensão, para
o bem ou para o mal; só não podem é
ficar parados. Os inquietos não se
conformam com nada que se pareça
com a estabilidade, e por isso os caminhos que escolhem, sejam eles
quais forem, são sempre os mais difíceis. Os inquietos não sabem viver
sem uma complicação, e a luta para
eles é sempre melhor que a vitória.
Eles não compram, jamais, uma
casa de campo pronta, mas um terreno; levam dois anos para construí-la e mais dois fazendo o jardim, decorando etc. No dia em que ela fica
pronta, as flores crescidas, ele sente
um grande vazio -que só se resolve
quando encontra um comprador.
É que assim eles passam a maior
parte da vida, com algumas pausas
para refletir por que são assim e como poderiam se aquietar, para serem mais felizes; para encontrar
uma certa paz, talvez -só que não
conseguem.
Mas um dia eles compreendem
que essas pausas foram tempo perdido e teria sido mais simples se tivessem reconhecido, há muito mais
tempo, que com eles não há nada a
fazer, e que é impossível mudar.
E é melhor que não saibam nunca:
se souberem, terão, de uma certa
maneira, encontrado a tal da paz -o
que para eles pode ser fatal.
danuza.leao@uol.com.br
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