São Paulo, domingo, 23 de dezembro de 2007 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Como um bar virou centro cultural
UM GRUPO DE 17 POETAS DA PERIFERIA começou a se reunir,
há seis anos, no bar do Zé Batidão, vizinho ao cemitério
São Luiz, notabilizado por ser o local
em que existem mais jovens enterrados por metro quadrado. A pesquisa informa que, mesmo entre os que estudam, o aprendizado é baixo, a começar da língua portuguesa. A imensa maioria deles não chega ao ensino médio e, muito menos, à faculdade. Foi no ano de 2007 que ficou mais clara a tragédia no ensino médio, no qual faltam professores, e começaram a se esboçar soluções que vão desde a oferta de merenda até mudanças curriculares, com a aproximação dos alunos aos cursos profissionalizantes. Essa aproximação dá mais sentido ao currículo, conectando-o à realidade e ajudando a combater o apagão de trabalhadores qualificados. Nunca se falou tanto, como agora, do valor do ensino técnico. Um saldo do ano de 2007 é o estímulo a planos que valorizem a aproximação da escola com a comunidade, de projetos nos quais se misturem, numa mesma malha territorial, educação, saúde, cultura, esporte e geração de renda. Esse é o sentido de programas federais que disseminam os bairros educativos nas regiões metropolitanas ou da extensão das ações de saúde para dentro das escolas. São projetos que ainda estão engatinhando e ainda estão longe de terem montado esquemas sólidos de gestão, mas, pelo menos, já apresentam um olhar mais sofisticado diante dos jovens, capazes de se encantar mais com a língua portuguesa estimulados por saraus em um bar do que com a burocrática professora exigindo a decoreba da chamada norma culta. Quanto mais se aproximar a rua da escola e a escola da rua, menor o risco de vulnerabilidade juvenil -teremos mais trabalhadores qualificados e menos marginais. Ou mais jovens declamando poesias e menos adolescentes enterrados em um cemitério.
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