São Paulo, quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

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Levar Sean aos EUA é desumanidade, diz avó

Em carta ao presidente Lula, divulgada ontem antes da decisão do STF, Silvana Bianchi critica o afastamento do menino de sua irmã

Avó diz que está sendo ameaçada de perder o neto por causa de uma pressão internacional que não leva em conta o interesse dele

FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO

Antes da decisão proferida pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, ontem, a avó materna de Sean Goldman, Silvana Bianchi, divulgou uma carta aberta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Tentar tirar uma criança de nove anos do convívio da família com a qual vive há cinco anos ininterruptamente, e especialmente de perto de sua irmã, Chiara, de um ano e três meses, que tem em Sean seu grande amparo, justamente na véspera do Natal, representa uma desumanidade. Jesus veio ao mundo para salvar os homens. Que Deus proteja aqueles que acreditam no princípio maior da cristandade, a preservação da família", diz trecho da carta.
"Minha filha, Bruna, faleceu de forma trágica no parto de minha neta Chiara. Hoje tenho como maior objetivo da minha vida dar toda atenção e carinho aos meus netos, filhos da Bruna. Um desses netos, Sean, também brasileiro nato, tornou-se alvo de uma campanha internacional de níveis inacreditáveis. Autoridades americanas dão declarações públicas chamando de "sequestradora" uma avó que, na ausência da filha, apenas quer criar seus netos", escreve Silvana.
Ela afirma que "nossa formação valoriza o papel da mãe" e que "na ausência da mãe, a criação incumbe a avó".
"Estou ameaçada de perder meu neto Sean por conta de uma pressão internacional que não leva em consideração o interesse de uma criança de nove anos que deseja ardentemente permanecer no meio daqueles que lhe deram conforto na morte da mãe", diz.
Silvana pede na carta que Sean seja ouvido pela Justiça e que Lula receba a família para que lhe seja entregue um texto escrito pelo próprio garoto.
"Senhor presidente, isto não é um desabafo de uma avó agoniada. É o clamor de uma brasileira que luta com todas as forças que ainda lhe restam para que a Justiça deste país aplique as leis com a indispensável dose de humanidade."
Após a decisão de Mendes, a reportagem tentou falar com Silvana, mas uma secretária informou que ela não estava em casa nem dispunha de outro telefone para ser encontrada.
O advogado da família brasileira, Sergio Tostes, informou que só vai se pronunciar após analisar o conteúdo da decisão.
O pai de Sean, David Goldman, está hospedado no hotel Marriot, em Copacabana, mas não se manifestou após a decisão do STF, ontem.
O advogado de Goldman, Ricardo Zamariola Jr., informou que ainda aguardaria o teor completo da decisão do STF para se manifestar.
O Consulado dos Estados Unidos no Rio não quis se pronunciar ontem, alegando que ainda estava avaliando a decisão para saber sobre a possibilidade de novo recurso da família brasileira.
Na semana passada, a família de Sean no Brasil exibiu dois cartazes cuja autoria foi atribuída a ele. "Quero ficar no Brasil sempre", dizia um deles.


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