São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sala tinha extensão irregular, diz engenheiro

Profissional trabalha no local há 11 anos no HC e é responsável pela manutenção elétrica; hospital diz que não havia nenhuma instalação

Funcionários relatam que, após incêndio no subsolo, há um mês, ligações clandestinas surgiram nos ambulatórios

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O engenheiro elétrico Dirceu Bravin disse ontem à polícia que havia uma extensão elétrica irregular na sala do Hospital das Clínicas onde houve um princípio de incêndio na manhã de ontem. Bravin, que trabalha no HC há 11 anos, é responsável pela manutenção elétrica do prédio.
No depoimento, que integra o inquérito policial instaurado para apurar o caso, o engenheiro afirma que, após o primeiro incêndio, foram usadas várias extensões elétricas para permitir o funcionamento do ambulatório, mas que a extensão encontrada ontem na sala "estava fora do padrão utilizado e não havia sido autorizada".
Em nota, o HC afirma que não havia no local nenhum tipo de instalação elétrica além de iluminação.
Procurado pela Folha, Bravin não quis falar sobre o depoimento. O superintendente do HC, José Manoel Teixeira, também preferiu não se pronunciar sobre a contradição entre a nota e o que o engenheiro disse à polícia.
A sala onde ocorreu o incêndio estava trancada. No local, havia equipamentos de endoscopia e informática, papéis, uma "isolet" (berço eletrônico construído em acrílico), móveis de madeira, um aparelho telefônico e três estabilizadores elétricos desligados.
Dois funcionários da equipe de manutenção do HC relataram à Folha que, desde o incêndio ocorrido no subsolo do prédio, há um mês, têm surgido ligações elétricas clandestinas ("gatos") nos ambulatórios.
"As pessoas decidem colocar uma extensão para usar um micro, esquentar um marmiteiro e até instalar microondas e fazem sem autorização. Quando vemos, a coisa está feita e ninguém sabe, ninguém viu", disse um deles.
O mesmo funcionário alega que nos últimos dias desapareceram câmeras que faziam a vigilância de alguns andares, o que reforça a suspeita de premeditação do incêndio de ontem, na avaliação dele.

Boletim
Ontem, além de depor na condição de testemunha, o engenheiro Bravin tentou registrar um boletim de ocorrência de preservação de direitos para relatar que ligações elétricas têm sido feitas sem a sua autorização, o que pode colocar em risco a segurança do local.
Com isso, ele pretendia se isentar de qualquer responsabilidade caso ocorram, no futuro, eventuais problemas relacionados aos "gatos".
Mas, segundo Bravin, o delegado Júlio Cesar de Almeida Teixeira, titular do 14º DP, se recusou a elaborar o BO de preservação de direitos, alegando que não tinha tempo e que o caso deveria ser reportado diretamente à administração do HC.
Bravin então insistiu no BO e protocolou um pedido por escrito. O delegado disse que não registrou o BO porque não viu necessidade. "O que ele teria para relatar já está relatado no depoimento. Eu o orientei que, para qualquer outra providência administrativa, [a reclamação] deveria ser feita no HC."


Texto Anterior: Para Serra, fogo pode ter sido criminoso
Próximo Texto: Dona-de-casa precisou descer cinco andares com filha na cadeira de rodas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.