São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

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EXPERIMENTO CARNAVALESCO

Ganhador do prêmio, Roald Hoffmann desfilou pela Unidos da Tijuca

Nobel quer unir ciência e samba

PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Vencedor do Prêmio Nobel de Química em 1981, Roald Hoffmann já esteve no Brasil "muitas vezes", mas neste ano participou pela primeira vez do Carnaval, experiência que comparou a um "experimento".
"A ciência devia estar na cultura popular, as pessoas gostam do DNA", disse o cientista à Folha pouco antes de desfilar pela Unidos da Tijuca, a terceira escola a entrar na avenida no primeiro dia da apresentação do Grupo Especial no Sambódromo do Rio no domingo.
Hoffmann foi convidado para o desfile, que teve a ciência como tema, por intermédio da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Questionado sobre por que compara a mistura do Carnaval com a ciência um "experimento", o cientista explicou que existe uma espécie de diálogo entre os dois ramos, como em uma reação química.
Hoffmann ficou empolgado com a possibilidade de popularizar a ciência por meio de festas populares e defendeu a ampliação da experiência da escola de samba carioca. "Seria interessante uma parada com temas científicos. É uma maneira de unir ciência e arte."
Como exemplo, Hoffmann disse que um dos temas poderia ser a teoria da movimentação dos continentes.
Segundo o cientista, parte da teoria surgiu do fato de as pessoas terem percebido que a costa do Brasil se "encaixa" com a do continente africano.

Xuxa
O cientista nasceu na Polônia e mudou-se para os Estados Unidos em 1949, aos 11 anos.
De família judia, Hoffmann ficou escondido na Ucrânia durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), quando perdeu o pai e os avós nos campos de concentração nazistas.
Na ala em que estava o polonês naturalizado norte-americano havia outros cientistas, como o físico Marcelo Gleiser, colunista da Folha, e Antonio Carlos Pavão, diretor do Espaço Ciência de Pernambuco que participou da elaboração do enredo da Unidos da Tijuca.
"Isso [união de ciência e samba] tem de virar tradição. Sair com a Xuxa, pô?", disse, em referência à Caprichosos de Pilares, escola que desfilou antes da Unidos da Tijuca e homenageou a apresentadora infantil.
A parceria entre cientistas e carnavalescos deu certo. A escola estava entre as mais criativas do primeiro dia do desfile e foi uma das poucas que ganharam aplausos do público.
A comissão de frente foi formada por baianas cibernéticas, com um efeito especial nas saias e movimentos que imitavam os de robôs. A Unidos da Tijuca trouxe também um carro em que 127 bailarinos representavam a espiral do DNA e outro com os figurantes vestidos como a criatura Frankenstein.
Um destaque que representou o físico alemão Albert Einstein apresentou o carro alegórico "Túnel do Tempo".


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