São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

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Ex-interno diz que equipe antiga incita motim

DA REDAÇÃO

Depois de passar um ano e três meses internado por assalto, E., 15, deixa a unidade 7 do Tatuapé (zona leste de São Paulo) mancando e com uma proteção no joelho direito -diz ter sido agredido pela tropa de choque da Polícia Militar no domingo- e abraçado à irmã, Elenice Pereira de Souza, 22.
Com gírias quase incompreensíveis, E. negou ontem que as rebeliões tenham como objetivo tentar forçar a Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) a readmitir os funcionários demitidos. Eles, no portão do complexo, contavam essa versão.
É o contrário, diz o adolescente. "Os moleques estão "firmeza" para ver se os funcionários [antigos] vão embora. Os novos [recém-contratados] ainda não bateram, mas deixaram a gente "de tranca" [presos]", contou ele, num ponto de ônibus em frente ao complexo.
E. disse ainda como começou a confusão de ontem, que, segundo ele, foi estimulada por funcionários: "Eles vão em uma unidade e falam que outra está "de treta" [brigada] com ela; depois, fazem a mesma coisa na outra, e aí o pessoal faz o levante". Seria a versão para as "disputas" entre internos.

"Veneno"
Na última confusão, diz, funcionários passaram na unidade 16 dizendo: "Ou vocês fazem rebelião ou vai pegar para vocês". "Eles fizeram o veneno."
É um choque de razões: funcionários espalhariam a versão de que todas as outras unidades estavam revoltadas com a 16, que não teria se rebelado ainda. Já os internos da 16 queriam atacar os outros porque estavam sendo punidos, mesmo sem se rebelar, conforme teriam dito funcionários.
"Os funcionários estavam na 7 e foram para a 19. Depois, voltaram dizendo que os caras [da 16] estavam querendo guerra com a gente. Os da 16 foram lá na 19, e eles [da 19] falaram que não, que estava "firmeza". Mas a gente nunca sabe", afirma E.
Na quinta-feira passada, relata E., o que motivou a rebelião foi a ameaça, feita por funcionários demitidos, de que os internos ficariam trancados e sem visitas porque os novos empregados contratados não teriam condição de manter a segurança no complexo.
Durante o final de semana, período conturbado no Tatuapé devido à rebelião da quinta-feira, os garotos da unidade 7, sem local adequado, fizeram um revezamento para dormir e manter a vigília, conta E. Eles ocuparam três salas de aula e uma sala da diretoria. ""Não tinha lugar para toda a molecada. A gente revezava [o sono] de quatro em quatro horas."


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