São Paulo, sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

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CARNAVAL 2006

Seis das oito agremiações que se apresentam a partir das 22h45 levarão símbolos religiosos à avenida; para igreja, mulher nua não é pecado

Escolas desfilam hoje nudez abençoada

Moacyr Lopes Júnior/Folha Imagem
Andréia Monteiro, 22, um dos destaques da Gaviões da Fiel, escola que fará referência a são Jorge


DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O sagrado e o profano estarão lado a lado na primeira noite de desfiles do sambódromo paulistano. Das oito escolas que entrarão na avenida a partir das 22h45 de hoje, seis trarão referências do catolicismo em suas alas ou carros alegóricos. Junto a passistas seminuas, imagens de santos, anjos e jesuítas ajudarão a contar enredos que vão mostrar da história do rio São Francisco à importância do vinho nas civilizações.
Para não afrontar a igreja, alguns carnavalescos tomaram cuidados extras. A Gaviões da Fiel, que falará sobre o sonho que o homem tem de voar e será a primeira a se apresentar, levará um são Jorge sem dragão para a avenida no seu último carro alegórico.
A Gaviões mostrará, ainda, o padre Bartolomeu de Gusmão, inventor da passarola (espécie de balão movido a ar quente) e, no abre-alas, esculturas de anjos que cercarão 14 mulheres de biquínis e plumas. A garçonete Andréia dos Santos, 22, será um dos destaques da alegoria e não acredita que a mistura de nudez e religião seja um desrespeito. "O carro e as fantasias são de bom gosto."
Secretário de Comunicação da Arquidiocese de São Paulo, o padre Juarez Pedro de Castro não vê nenhum problema na utilização dos símbolos católicos pelas escolas. "O Carnaval leva para a avenida aquilo que faz parte da vida do povo. E a religião faz." Ainda que os símbolos estejam ao lado de mulheres seminuas, afirma Castro, não há ofensas. "Mulher nua não é pecado, a não ser que ela seja usada como um objeto, com uma conotação distorcida. As mulheres foram criadas por Deus, a Sua imagem e semelhança."
O padre lembra que, apesar de a Igreja Católica considerar o Carnaval uma comemoração pagã atualmente, ele foi inicialmente uma festa religiosa. "Na terça-feira, véspera da quaresma (período em que não se deve comer carne em sinal de preparação para a Páscoa), era comum as pessoas fazerem uma festa para se despedir da carne, daí vem o nome Carnaval", diz. "Mesmo hoje a festa não tem nada de feio. Só não podem ocorrer excessos."
A Camisa Verde e Branco vai falar sobre o vinho. "Vamos mostrar o profano e o sagrado. O abre-alas será um cortejo a Dionísio, o deus grego da bebida, com muitas mulheres seminuas como ninfas", diz o carnavalesco Augusto Oliveira. "Em outra alegoria, e também em uma ala, estarão o milagre de Jesus e a consagração do vinho como sangue de Cristo."
A Vai-Vai e a Mocidade Alegre mostrarão jesuítas para falar sobre as histórias do rio São Francisco e da fundação da cidade de São Vicente, enquanto a Rosas de Ouro contará que foi o papa Nicolau 5º quem permitiu a escravidão negra. A Nenê de Vila Matilde falará do padre Manuel da Nóbrega e dos jesuítas.
A Acadêmicos do Tatuapé, com um enredo sobre o cooperativismo, e a Império de Casa Verde, que falará sobre os bois e a pecuária, também se apresentam hoje.

Colaborou LUCAS NEVES, da Reportagem Local

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