São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2008

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Magali Ziani, uma eterna secretária

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Vivia mais a vida dos outros que a sua." Magali Ziani foi secretária de médico, da mãe, das crianças. "Ela foi secretária a vida inteira."
Era a segunda de quatro filhas, na "casa das mulheres", apelido dado pelo pai à família feminina. "Seu sonho sempre foi ser médica." Mas ainda pequena cortara o pulso com um caco. Seis cirurgias lhe recobraram os movimentos da mão esquerda. Mas a vida seguira seu curso.
Magali começou aos 15 anos como secretária de uma dentista -todas as irmãs foram secretárias de dentistas. Fez curso de instrumentadora cirúrgica, mas só achou emprego como secretária.
Em 1983 viu um anúncio para secretária de um importante pediatra de São Paulo. Pensara em ser pediatra de portadores de deficiência, mas, como o sonho continuara sonho, pelo menos ali tinha as crianças ao redor.
Trabalhou lá por 25 anos. Chegava todos os dias às 9h, já com o pão fresco nas mãos, e organizava o lanche com a mesma perícia com que preparava as festas de aniversário. "Gordinha e sempre perfumada", cabelos curtos e roupas largas, passava o dia sentada na mesa grande de mármore branco com flores frescas. Não havia fotos ali, pois não teve filhos.
Sua fixação era o sobrinho e sua felicidade, acampar no quintal de casa com o menino. Brincavam como amigos.
Em novembro ela ficou doente. Um tombo causara infecção na coluna vertebral. Morreu de infecção generalizada na segunda, aos 48 anos. Na casa das mulheres, ficaram a mãe e duas irmãs, com quem morou toda a vida.

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