São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

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OPERAÇÃO PANDORA

Preso acusado de extorsão, Armando Mellão Neto depôs ontem

Ex-vereador diz ser alvo de armação

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Preso sob a acusação de extorsão, Armando Mellão Neto contra-atacou. Ontem, em depoimento à Polícia Federal, o ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo acusou Reynaldo de Barros, um dos secretários mais influentes da gestão Paulo Maluf (1993-1996), e seu filho, o ex-deputado estadual Reynaldo de Barros Filho, de terem armado a denúncia que levou à sua prisão.
Pela versão de Mellão, o ex-secretário o procurou no final de 2003 "preocupado" com as investigações da CPI do Banestado -que apura remessas ilegais de dinheiro ao exterior- e pediu que lhe desse "assessoria".
O trabalho seria feito em parceria com Laércio Benko Lopes, advogado de Barros Filho, na Câmara dos Deputados e na Receita Federal. Mellão disse que ainda negociava os valores da assessoria e que, na prática, só havia telefonado para o deputado federal José Mentor (PT), sem, no entanto, conseguir falar com o parlamentar, que é relator da CPI.
Mellão foi detido na sexta-feira ao negociar o recebimento de R$ 581.400. O dinheiro foi entregue por Benko Lopes, que ajudou a polícia nas investigações. Segundo a PF, o esquema de extorsão de Mellão consistia em telefonar para potenciais vítimas afirmando que poderia barrar investigações na CPI em troca de dinheiro.
A acusação de Mellão tem ligação com uma decisão de 2002 da Justiça paulista, que determinou a quebra de sigilo bancário de Maluf, de Reynaldo de Barros e de outras 20 pessoas investigadas em suposto esquema de superfaturamento e desvio de dinheiro de obras públicas e sua posterior remessa para paraísos fiscais.
No depoimento que durou cinco horas, Mellão justificou com uma palavra a suposta mudança de Barros Filho de beneficiário da assessoria a seu pai para acusador: ciúmes. Disse que o ex-deputado deve ter ficado com inveja da relação próxima que ele tinha com Reynaldo. Além de terem convivido por anos em São Manuel, no interior paulista, onde ambos têm sítios, Mellão começou na política pelas mãos do ex-secretário. Os dois estavam rompidos desde 1998.
Durante o depoimento, os investigadores mostraram a Mellão um bilhete, escrito com a sua letra, em que aparece a cifra de R$ 1,2 milhão. A polícia suspeita que seria o valor inicial do achaque. Mellão rebateu. Disse que era o valor que ele e Benko Lopes pensavam em cobrar de Reynaldo de Barros pelos serviços.
Revelaram também uma gravação telefônica na qual Mellão diz ter obtido US$ 5 milhões da Mercedes-Benz. Ele alegou que se referia hipoteticamente ao valor que a empresa poderia pagar a um advogado para defendê-la nos tribunais. A empresa nega qualquer relação com o ex-vereador.
A família Barros disse ontem que Mellão está "inventando" uma nova história.
Laércio Benko Lopes reafirmou que Barros Filho foi vítima de extorsão e que nem o ex-deputado nem o seu pai negociavam assessoria com Mellão.

Calote aéreo
Em 2001, logo depois de deixar a Câmara Municipal, Armando Mellão deu um calote na compra de um avião Cessna Skyhawk. Ele havia comprado o monomotor usado da TAM por US$ 110 mil, mas teve de devolvê-lo, pois deixou de pagar algumas prestações.
Um dos aviões mais vendidos no mundo, o Cessna Skyhawk é usado em treinamento de pilotos. O modelo que Mellão escolheu tinha capacidade para transportar quatro pessoas e voava a uma velocidade de cruzeiro de 226 km/h.


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