|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPERAÇÃO PANDORA
Preso acusado de extorsão, Armando Mellão Neto depôs ontem
Ex-vereador diz ser alvo de armação
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
Preso sob a acusação de extorsão, Armando Mellão Neto contra-atacou. Ontem, em depoimento à Polícia Federal, o ex-presidente da Câmara Municipal de
São Paulo acusou Reynaldo de
Barros, um dos secretários mais
influentes da gestão Paulo Maluf
(1993-1996), e seu filho, o ex-deputado estadual Reynaldo de Barros Filho, de terem armado a denúncia que levou à sua prisão.
Pela versão de Mellão, o ex-secretário o procurou no final de
2003 "preocupado" com as investigações da CPI do Banestado
-que apura remessas ilegais de
dinheiro ao exterior- e pediu
que lhe desse "assessoria".
O trabalho seria feito em parceria com Laércio Benko Lopes, advogado de Barros Filho, na Câmara dos Deputados e na Receita Federal. Mellão disse que ainda negociava os valores da assessoria e
que, na prática, só havia telefonado para o deputado federal José
Mentor (PT), sem, no entanto,
conseguir falar com o parlamentar, que é relator da CPI.
Mellão foi detido na sexta-feira
ao negociar o recebimento de R$
581.400. O dinheiro foi entregue
por Benko Lopes, que ajudou a
polícia nas investigações. Segundo a PF, o esquema de extorsão de
Mellão consistia em telefonar para potenciais vítimas afirmando
que poderia barrar investigações
na CPI em troca de dinheiro.
A acusação de Mellão tem ligação com uma decisão de 2002 da
Justiça paulista, que determinou a
quebra de sigilo bancário de Maluf, de Reynaldo de Barros e de
outras 20 pessoas investigadas em
suposto esquema de superfaturamento e desvio de dinheiro de
obras públicas e sua posterior remessa para paraísos fiscais.
No depoimento que durou cinco horas, Mellão justificou com
uma palavra a suposta mudança
de Barros Filho de beneficiário da
assessoria a seu pai para acusador: ciúmes. Disse que o ex-deputado deve ter ficado com inveja da
relação próxima que ele tinha
com Reynaldo. Além de terem
convivido por anos em São Manuel, no interior paulista, onde
ambos têm sítios, Mellão começou na política pelas mãos do ex-secretário. Os dois estavam rompidos desde 1998.
Durante o depoimento, os investigadores mostraram a Mellão
um bilhete, escrito com a sua letra, em que aparece a cifra de R$
1,2 milhão. A polícia suspeita que
seria o valor inicial do achaque.
Mellão rebateu. Disse que era o
valor que ele e Benko Lopes pensavam em cobrar de Reynaldo de
Barros pelos serviços.
Revelaram também uma gravação telefônica na qual Mellão diz
ter obtido US$ 5 milhões da Mercedes-Benz. Ele alegou que se referia hipoteticamente ao valor
que a empresa poderia pagar a
um advogado para defendê-la nos
tribunais. A empresa nega qualquer relação com o ex-vereador.
A família Barros disse ontem
que Mellão está "inventando"
uma nova história.
Laércio Benko Lopes reafirmou
que Barros Filho foi vítima de extorsão e que nem o ex-deputado
nem o seu pai negociavam assessoria com Mellão.
Calote aéreo
Em 2001, logo depois de deixar a
Câmara Municipal, Armando
Mellão deu um calote na compra
de um avião Cessna Skyhawk. Ele
havia comprado o monomotor
usado da TAM por US$ 110 mil,
mas teve de devolvê-lo, pois deixou de pagar algumas prestações.
Um dos aviões mais vendidos
no mundo, o Cessna Skyhawk é
usado em treinamento de pilotos.
O modelo que Mellão escolheu tinha capacidade para transportar
quatro pessoas e voava a uma velocidade de cruzeiro de 226 km/h.
Texto Anterior: Transporte: TCE impõe multa por contrato de rodovia Próximo Texto: Mortes Índice
|