São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ACIDENTE NO CEARÁ

Perícia conclui que falta de iluminação impediu uso de alavancas de emergência; 42 pessoas morreram

Laudo aponta falha em segurança de ônibus

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O laudo sobre o acidente com o ônibus da Itapemirim em que morreram 42 pessoas, na madrugada do sábado de Carnaval, no Ceará, concluiu que os passageiros não conseguiram sair do veículo por falta de informação e de visualização das saídas de emergência, que não tinham iluminação. Todos os passageiros e o motorista morreram afogados.
A diretoria da Itapemirim estava reunida ontem e não havia se manifestado sobre o laudo até o fechamento desta edição.
Segundo os peritos do Instituto de Criminalística do Ceará, das quatro saídas laterais disponíveis, nas janelas, duas estavam desobstruídas -mesmo após o ônibus tombar para dentro de um açude, às margens da BR-116, no município de Barro (a 536 km de Fortaleza)- e poderiam ter sido usadas.
Para tanto, seria necessário puxar duas alavancas vermelhas, que servem para soltar a borracha de vedação das janelas. No escuro e debaixo d'água, sem saber se existiam as saídas de emergência, que não tinham iluminação, as 42 pessoas morreram afogadas. As alavancas se mantiveram intactas.
Marcas de chutes no teto do ônibus e próximo às janelas mostram que os passageiros tentaram sair, mas não conseguiram.
"A partir desse acidente, as autoridades devem pensar em mecanismos que tornem as saídas de emergência dos ônibus rápidas e fáceis de serem usadas, mesmo no escuro", diz o perito Lauro Rocha.
A perícia testou uma das alavancas de emergência, do lado direito do ônibus, por onde os passageiros poderiam ter saído, e verificou que ela não apresentava defeito. "Também fica descartada a hipótese de que a pressão da água, do lado de fora, teria impedido a abertura das janelas, porque os vidros do lado esquerdo quebraram com o acidente e logo o ônibus ficou cheio de água, igualando a pressão interna à externa", afirmou Rocha.
O ônibus da Itapemirim, ano 95, havia saído de Fortaleza com destino a Salvador.
O Instituto de Criminalística não conseguiu identificar o motivo que teria levado o motorista a desviar o trajeto do ônibus de forma brusca e jogá-lo no açude.
"Apenas verificamos, no local onde houve o desvio, marcas de pneus, que podem ser de carros pequenos ou carroças. Portanto, podemos supor que o motorista tenha tentado desviar de alguma coisa", disse o perito.
Segundo o diretor técnico-científico da Secretaria de Segurança Pública do Ceará, Francisco Simão, não há como saber se o motorista dormiu ao volante no momento do acidente.


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Saúde: Estudo vê problemas em bula de remédio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.