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SAÚDE
Para pesquisadores, letras pequenas e ilegíveis, termos técnicos e abreviaturas dificultam compreensão pelo paciente
Estudo vê problemas em bula de remédio
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Um estudo feito por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e da USP (Universidade de São Paulo) apontou
uma série de problemas em bulas
de medicamentos usados no tratamento de rinites (inflamação da
mucosa nasal).
Letras pequenas e ilegíveis e o
uso de termos técnicos e abreviaturas, que dificultam a compreensão do texto por parte do usuário,
são alguns dos problemas relacionados pela pesquisa.
Hoje, termina o prazo dado pela
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para que os laboratórios encaminhem novos
projetos de bulas com as regras
estabelecidas pelo órgão na Resolução 140, de junho do ano passado. A nova legislação prevê letras
maiores e o uso de linguagem
mais simples no item que relaciona as informações ao paciente. As
bulas passarão por uma análise.
Os pesquisadores analisaram
bulas de 25 medicamentos, entre
genéricos e marcas de referência
(remédios convencionais). Eles só
revelaram os princípios ativos dos
medicamentos, não os nomes comerciais nem os fabricantes.
O estudo constatou que 18 bulas
foram impressas com letras muito pequenas, inferiores ao tamanho considerado ideal (fonte
Arial corpo oito) para os textos.
Outras quatro bulas foram grafadas em letra azul. De acordo com
uma das autoras do estudo, a
otorrinolaringologista Aracy Balbani, esses fatores dificultam a leitura, principalmente para pessoas
com problemas visuais e idosos.
O estudo indicou que seis das
bulas analisadas usaram termos
técnicos no item informação ao
paciente. Em uma delas, por
exemplo, foi usada a expressão
"coceira no palato", que, para os
pesquisadores, deveria ser substituída por "coceira no céu da boca", de uso coloquial.
Outra bula apresentava o termo
"ação anti-histamínica", que, de
acordo com os pesquisadores, é o
mesmo que efeito antialérgico.
Para Balbani, o abuso de termos
técnicos nas informações para pacientes é "grosseiro". "Em um
país onde há muitas pessoas com
baixa escolaridade, as bulas precisam ter linguagem coloquial e desenhos para facilitar a compreensão", afirmou.
O estudo descobriu também
que 15 das 25 bulas analisadas não
apresentavam informações sobre
reações adversas ou possíveis alterações de exames laboratoriais
que podem ser provocadas.
Em 13 bulas, foi verificada a ausência do sub-item "pacientes
idosos" na informação técnica
(para médicos). Os pesquisadores
também constataram a utilização
de abreviaturas no item informação ao paciente. Em uma bula, estava escrito SNC em vez de sistema nervoso central.
Contradições
Os pesquisadores encontraram
em uma mesma bula orientações
confusas para médicos e pacientes. Para o paciente, por exemplo,
havia a orientação para que não
utilizasse o produto por "longos
períodos". Já a informação técnica dizia que o uso por mais de
duas semanas era desaconselhável. Os textos podem confundir
usuários, dizem pesquisadores.
Ao comparar as bulas de duas
marcas de um mesmo medicamento, os autores do estudo descobriram discrepâncias em informações sobre o uso na gravidez.
Uma bula indicava que seu uso
não era recomendado durante a
gestação. A outra informava que
poderia ser usado na gravidez,
desde que o benefício para a mãe
justificasse o risco para o feto.
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