São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

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SAÚDE

Taxa de cura da doença -de 75%- fica abaixo dos 85% estipulados pela Organização Mundial da Saúde para 2005

País não cumpre meta para tuberculose

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil não cumpriu a meta da Organização Mundial da Saúde de curar 85% dos casos de tuberculose em 2005. A doença, causada por uma bactéria que pode acometer não só os pulmões como outros órgãos, pode ser totalmente curada e tem um tratamento barato -portanto já deveria estar erradicada no mundo todo. No país, houve 85.000 novos casos no ano passado e cerca de 6.000 mortes.
"O nosso problema é curar", afirmou ontem o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa.
Hoje é dia mundial de combate à doença, e a OMS voltou a cobrar a meta dos 22 países que concentram 80% dos novos casos do mundo, entre eles o Brasil.
Os 85% são perseguidos pelas diversas administrações que passaram pelo Ministério da Saúde desde 1998, pelo menos, depois que a OMS fez uma advertência ao país por causa da falta de esforços para debelar a doença.
Naquele ano, o governo Fernando Henrique Cardoso anunciou o início de um programa que priorizaria o tratamento supervisionado da tuberculose.
"Mas o Brasil tem avançado", disse Barbosa, lembrando que em 2003 a taxa de cura estava na casa dos 60%. Ele disse ainda que, em relação à incidência, (casos por 100 mil habitantes) o país ocupa a 97ª posição no ranking de 180 países que notificam a doença no mundo. E que o Brasil cumpriu outra meta da organização: detectar 70% dos casos estimados.
Em fevereiro, disse ainda o secretário, o governo Lula recebeu elogios pelos seus esforços contra a doença da "Stop TB", coalização de entidades públicas e privadas que lutam contra a doença, entre elas a OMS e a Microsoft.
Segundo Barbosa, houve "resistências" à implantação do tratamento supervisionado nos últimos anos, o que explicaria em parte a situação atual. O programa supervisionado prevê um vínculo maior entre pacientes e serviços por meio do treinamento das equipes e incentivos para a permanência do doente no tratamento, como fornecimento de alimentação como prêmio pela manutenção dos remédios.

Abandono
A terapia contra a doença deve durar seis meses, e um dos principais problemas é o abandono antes desse prazo. Os primeiros sinais de melhora aparecem em sete dias, e muitos doentes decidem deixar as drogas.
Para evitar o abandono da terapia, é preciso um acompanhamento tenaz do poder público, com equipes preparadas para orientar o paciente.
Segundo dados do próprio ministério, a cobertura de tratamento supervisionado no país ainda é de 63,8%. Há ainda a sobreposição dessa dificuldade com o crescimento da pobreza e suas conseqüências, como más condições de moradia, sinal de ajuntamentos em espaços pequenos, ideais para a bactéria se propagar pelo ar, diz Barbosa. E também o uso de álcool e drogas, que deixam o organismo mais vulnerável à doença.
O avanço da Aids também contribuiu para o avanço da tuberculose -25% dos soropositivos desenvolvem tuberculose, afirmou.
"Isso tudo me faz perguntar se a tuberculose se resolve com uma supervisão muito boa ou com o desenvolvimento social", disse Fernando Fiuza de Melo, diretor técnico do Instituto Clemente Ferreira, referência para a doença.
Tosse por mais três semanas é o primeiro sinal da tuberculose.


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