São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2010

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Polícia apura estupro de menina do Pinel

Crime teria sido cometido em fevereiro por segurança do hospital psiquiátrico onde a jovem de 15 anos está internada

Adolescente recebeu alta há quatro anos, mas família não a quer de volta e prefeitura diz ter achado só agora abrigo para recebê-la

Marlene Bergamo - 18.mar.2010/Folha Imagem
Clínica do Hospital Psiquiátrico Pinel, onde a menina identificada como 23225 ficou mais de quatro anos internada irregularmente

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

MARLENE BERGAMO
REPÓRTER-FOTOGRÁFICA

O 87º Distrito Policial, em Pirituba, zona oeste de São Paulo, investiga denúncia de estupro da adolescente 23225, de 15 anos, dentro do Hospital Psiquiátrico Pinel. O crime teria sido cometido em 21 de fevereiro, pelo segurança da guarita nº 2 do complexo manicomial.
23225 é o número do prontuário médico da menina, que foi internada no Pinel aos 11 anos com diagnóstico de "transtorno de conduta" e continua lá, quatro anos e três meses após ter alta, conforme revelou a Folha no domingo. No prontuário há a descrição de seu comportamento, "justificando" o pedido de internação: "inteligente, agressiva, indisciplinada, sem respeito, fria e calculista".
A mãe de 23225 está presa por tráfico e roubo, a avó não a quer por perto e a prefeitura não conseguiu, nestes quatro anos, achar um abrigo de crianças em condições de acolhê-la.
O delegado João Batista Filogônio registrou a ocorrência como "estupro de vulnerável", crime que se caracteriza, entre outras práticas, por manter "conjunção carnal com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento".
A Folha apurou junto a funcionários do hospital psiquiátrico que 23225 os avisou do ocorrido ao ser encontrada na guarita do acusado. "Vai, tio, conta que a gente teve relação." Na ocasião, dizem os funcionários, o suspeito admitiu o ato.
23225 é medicada com a droga haloperidol (Haldol), usada em pacientes psicóticos. Provoca sonolência, letargia, torpor -na língua dos internos, "o cara fica chapado".
O segurança acusado trabalha em uma empresa terceirizada. "Sumiu" depois do BO. A menina foi levada ao Hospital Pérola Byington, especializado em violência contra a mulher, onde fez exame de corpo de delito. O resultado ainda não saiu.
O caso revoltou funcionários do Pinel. Há um mês, o hospital experimenta, com autorização do juiz Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, alocar a menina num de seus "lares abrigados". Antes, ela vivia numa ala fechada dedicada só a crianças e adolescentes, em quadros agudos.
O diretor do Pinel, Eduardo Guidolin, não deu entrevista, alegando que o caso corre em segredo de Justiça. Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde disse: "O Pinel afastou imediatamente o profissional e solicitou sua substituição à empresa de segurança contratada."
O promotor Francismar Lameza, da Vara da Infância e da Juventude do Foro Regional da Lapa, disse via assessoria que "tem feito todos os esforços no sentido de obter vaga (...) em uma instituição que possa abrigá-la adequadamente".
A prefeitura afirmou que já conseguiu vaga num abrigo e a transferência da menina "está em fase de preparação".


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