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"Migração" traz riscos , diz professor
da Agência Folha, em São José do Rio Preto
Romildo Sant'Anna, 51, ex-professor livre-docente da Unesp de
São José do Rio Preto, deixou a
universidade pública após 23
anos, transferindo-se para uma
instituição privada, a Unimar,
Universidade de Marília (SP).
Sant'Anna, ganhador do prêmio Casa das Américas, de Cuba,
em 87, é escritor, cineasta e especialista em cultura caipira.
Para ele, a "migração" de docentes qualificados é uma ameaça
para o ensino superior gratuito,
que corre o risco de ser superado
em médio prazo pela educação
paga. Leia a seguir os principais
trechos da entrevista.
Agência Folha - O que atraiu o
sr. na proposta da Unimar?
Romildo Sant'Anna - Eles me
ofereceram boas condições de
trabalho e um salário muito bom.
Agência Folha - Quanto?
Sant'Anna - Na Unesp, meu salário como aposentado proporcional é de R$ 3.701, com todos os
quinquênios e gratificações. Na
Unimar, ganho um pouco mais
por uma jornada bem menor.
Agência Folha - Qual é o futuro das universidades pagas?
Sant'Anna - Creio que o provão
vai dar uma peneirada muito
grande. Há particulares muito
boas, com corpo docente qualificado, preparação laboratorial e
tempo integral. Acredito que, em
alguns anos, haverá uma concorrência e, provavelmente, até a superação da universidade pública
pela particular.
Agência Folha - Caiu a qualidade do ensino nas públicas?
Sant'Anna - Acho que não.
USP, Unesp e Unicamp continuam sendo as principais do país.
As particulares é que estão melhorando. Temo pelo futuro do
ensino gratuito em médio prazo.
Agência Folha - Os cérebros
estão migrando, mas os melhores alunos ainda preferem a universidade pública. A tendência
não é substituir rapidamente os
medalhões que saem?
Sant'Anna - A concorrência no
vestibular em algumas áreas é tão
grande que alunos muito bons
têm de ir para o ensino privado.
Além disso, experiência não se
conquista no início da carreira.
Agência Folha - Essa migração
significa que o dinheiro público
investido na formação dos professores está financiando a ascensão das particulares?
Sant'Anna - Sim. O investimento público é alto, mas quando os
professores estão maduros são
obrigados a deixar a universidade
pública ou continuar como voluntários. Aí, as particulares os recebem de braços abertos, é lógico.
Agência Folha - Além do salário, quais são os fatores de atração das universidades privadas?
Sant'Anna - O nível de cobrança por resultados é o mesmo, mas
a burocracia é menor, e as verbas
são liberadas rapidamente.
Agência Folha - O status de
professor de uma universidade
pública não lhe faz falta?
Sant'Anna - Esse charme não
me atrai. Sou pai de família e preciso manter meu padrão de vida.
Agência Folha - Há preconceito contra o professor da particular na concessão de bolsas?
Sant'Anna - Ainda há, mas está
mudando com o provão. Eu mesmo recebi uma bolsa do CNPq
com um projeto de pesquisa desenvolvido na Unimar.
Agência Folha - Então, o sr. faz
parte do grupo de professores
que acumula três salários?
Sant'Anna - A bolsa é dada por
mérito acadêmico e pelo projeto
de pesquisa. A aposentadoria é
um direito adquirido. A pessoa
bem qualificada, depois de aposentada, pode trabalhar onde quiser. O que não pode é enferrujar e
entregar os pontos.
(ES)
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