São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2000


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"Migração" traz riscos , diz professor

da Agência Folha, em São José do Rio Preto

Romildo Sant'Anna, 51, ex-professor livre-docente da Unesp de São José do Rio Preto, deixou a universidade pública após 23 anos, transferindo-se para uma instituição privada, a Unimar, Universidade de Marília (SP).
Sant'Anna, ganhador do prêmio Casa das Américas, de Cuba, em 87, é escritor, cineasta e especialista em cultura caipira.
Para ele, a "migração" de docentes qualificados é uma ameaça para o ensino superior gratuito, que corre o risco de ser superado em médio prazo pela educação paga. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Agência Folha - O que atraiu o sr. na proposta da Unimar?
Romildo Sant'Anna -
Eles me ofereceram boas condições de trabalho e um salário muito bom.

Agência Folha - Quanto?
Sant'Anna -
Na Unesp, meu salário como aposentado proporcional é de R$ 3.701, com todos os quinquênios e gratificações. Na Unimar, ganho um pouco mais por uma jornada bem menor.

Agência Folha - Qual é o futuro das universidades pagas?
Sant'Anna -
Creio que o provão vai dar uma peneirada muito grande. Há particulares muito boas, com corpo docente qualificado, preparação laboratorial e tempo integral. Acredito que, em alguns anos, haverá uma concorrência e, provavelmente, até a superação da universidade pública pela particular.

Agência Folha - Caiu a qualidade do ensino nas públicas?
Sant'Anna -
Acho que não. USP, Unesp e Unicamp continuam sendo as principais do país. As particulares é que estão melhorando. Temo pelo futuro do ensino gratuito em médio prazo.

Agência Folha - Os cérebros estão migrando, mas os melhores alunos ainda preferem a universidade pública. A tendência não é substituir rapidamente os medalhões que saem?
Sant'Anna -
A concorrência no vestibular em algumas áreas é tão grande que alunos muito bons têm de ir para o ensino privado. Além disso, experiência não se conquista no início da carreira.

Agência Folha - Essa migração significa que o dinheiro público investido na formação dos professores está financiando a ascensão das particulares?
Sant'Anna -
Sim. O investimento público é alto, mas quando os professores estão maduros são obrigados a deixar a universidade pública ou continuar como voluntários. Aí, as particulares os recebem de braços abertos, é lógico.

Agência Folha - Além do salário, quais são os fatores de atração das universidades privadas?
Sant'Anna -
O nível de cobrança por resultados é o mesmo, mas a burocracia é menor, e as verbas são liberadas rapidamente.

Agência Folha - O status de professor de uma universidade pública não lhe faz falta?
Sant'Anna -
Esse charme não me atrai. Sou pai de família e preciso manter meu padrão de vida.

Agência Folha - Há preconceito contra o professor da particular na concessão de bolsas?
Sant'Anna -
Ainda há, mas está mudando com o provão. Eu mesmo recebi uma bolsa do CNPq com um projeto de pesquisa desenvolvido na Unimar.

Agência Folha - Então, o sr. faz parte do grupo de professores que acumula três salários?
Sant'Anna -
A bolsa é dada por mérito acadêmico e pelo projeto de pesquisa. A aposentadoria é um direito adquirido. A pessoa bem qualificada, depois de aposentada, pode trabalhar onde quiser. O que não pode é enferrujar e entregar os pontos. (ES)

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