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NAS CORDAS
Treinador montou uma academia de pugilismo ao ar livre sob uma passarela na região central da cidade
Ringue de boxe muda rotina de crianças de rua em SP
ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 20 dias, a rotina do adolescente Vagner da Silva Menezes,
13, mudou. Ele trocou as ruas do
centro de São Paulo, onde pedia
esmolas e fazia "bicos" para cobradores e fiscais de ônibus, pelo
ringue de boxe montado debaixo
de uma passarela do Largo da Memória, no Terminal Bandeira.
Lá, funciona uma academia de
boxe ao ar livre. O responsável, o
treinador de boxe Nilson Garrido,
46, montou uma estrutura que
conta com esteiras, bicicleta ergométrica, sacos de areia, uma geladeira e dois pneus para treinar socos. A iniciativa, segundo ele, visa
ajudar adolescentes e crianças a
saírem das ruas.
Amizade
Menezes, que é conhecido como
Pedrinho, chega à academia às
10h30, todos os dias. Há sete meses morando na rua, o adolescente conta que conheceu "o professor" Garrido por acaso.
"Estava andando no Largo da
Memória quando vi o professor
treinando no ringue e fiquei observando. No mesmo dia, ele veio
falar comigo e me convidou para
treinar. Não parei mais e quero
seguir carreira no boxe", contou o
adolescente.
O que mais motivou Menezes a
ser um assíduo aluno da academia não foram apenas os golpes e
os demais exercícios físicos, mas a
amizade com o treinador. "Ele
confia em mim".
Segundo ele, os seus colegas de
rua ainda resistem em fazer as aulas na academia. As drogas são o
principal obstáculo.
Sonho
O seu sonho é voltar para casa,
na região de Parelheiros (periferia
da zona sul) e reencontrar a mãe e
os cinco irmãos. "Quero que ela
saiba que estou no boxe e não nas
drogas." Ele, que ainda dorme na
rua, diz que fugiu de casa após
uma discussão com a mãe.
Garrido conta que foi lutador
profissional na categoria supermédio até junho do ano passado.
Atualmente, faz segurança nos finais de semana na região do Largo da Memória.
Vendo o dia-a-dia dos meninos
de rua, teve a iniciativa de montar
a academia, que funciona há 25
dias em uma área cedida, segundo ele, pelo Metrô.
"Eu vi que poderia fazer alguma
coisa por esses meninos. As condições são precárias, havia muitos
ratos aqui, mas vou seguir em
frente", disse o treinador.
Alguns pugilistas prestigiam a
iniciativa de Garrido. Um deles é
Daniel Frank, que venceu Adilson
"Maguila" Rodrigues, em fevereiro de 2000.
"O único aluno fixo é o Pedrinho, por enquanto. Os outros meninos, cerca de dez, aparecem de
vez em quando. Mas isso vai mudar", contou Garrido.
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