São Paulo, domingo, 24 de abril de 2005

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NAS CORDAS

Treinador montou uma academia de pugilismo ao ar livre sob uma passarela na região central da cidade

Ringue de boxe muda rotina de crianças de rua em SP

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

Há 20 dias, a rotina do adolescente Vagner da Silva Menezes, 13, mudou. Ele trocou as ruas do centro de São Paulo, onde pedia esmolas e fazia "bicos" para cobradores e fiscais de ônibus, pelo ringue de boxe montado debaixo de uma passarela do Largo da Memória, no Terminal Bandeira.
Lá, funciona uma academia de boxe ao ar livre. O responsável, o treinador de boxe Nilson Garrido, 46, montou uma estrutura que conta com esteiras, bicicleta ergométrica, sacos de areia, uma geladeira e dois pneus para treinar socos. A iniciativa, segundo ele, visa ajudar adolescentes e crianças a saírem das ruas.

Amizade
Menezes, que é conhecido como Pedrinho, chega à academia às 10h30, todos os dias. Há sete meses morando na rua, o adolescente conta que conheceu "o professor" Garrido por acaso.
"Estava andando no Largo da Memória quando vi o professor treinando no ringue e fiquei observando. No mesmo dia, ele veio falar comigo e me convidou para treinar. Não parei mais e quero seguir carreira no boxe", contou o adolescente.
O que mais motivou Menezes a ser um assíduo aluno da academia não foram apenas os golpes e os demais exercícios físicos, mas a amizade com o treinador. "Ele confia em mim".
Segundo ele, os seus colegas de rua ainda resistem em fazer as aulas na academia. As drogas são o principal obstáculo.

Sonho
O seu sonho é voltar para casa, na região de Parelheiros (periferia da zona sul) e reencontrar a mãe e os cinco irmãos. "Quero que ela saiba que estou no boxe e não nas drogas." Ele, que ainda dorme na rua, diz que fugiu de casa após uma discussão com a mãe.
Garrido conta que foi lutador profissional na categoria supermédio até junho do ano passado. Atualmente, faz segurança nos finais de semana na região do Largo da Memória.
Vendo o dia-a-dia dos meninos de rua, teve a iniciativa de montar a academia, que funciona há 25 dias em uma área cedida, segundo ele, pelo Metrô.
"Eu vi que poderia fazer alguma coisa por esses meninos. As condições são precárias, havia muitos ratos aqui, mas vou seguir em frente", disse o treinador.
Alguns pugilistas prestigiam a iniciativa de Garrido. Um deles é Daniel Frank, que venceu Adilson "Maguila" Rodrigues, em fevereiro de 2000.
"O único aluno fixo é o Pedrinho, por enquanto. Os outros meninos, cerca de dez, aparecem de vez em quando. Mas isso vai mudar", contou Garrido.


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