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NELSON FERREIRA DOS SANTOS (1924-2009)
Do bordel à rua com os Filhos de Gandhy
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Nelson Lobisomem amava
a noite. Boêmio convicto, todo dia, depois do trabalho,
reunia-se com os colegas estivadores em busca de diversão pelas ruas de Salvador.
Segundo o filho Nilson, no
final dos anos 40, cansados
de ver apenas os ricos brincado o Carnaval da cidade, 18
estivadores -Nelson incluso- formaram um bloco.
Após comprarem tamancos, pegaram emprestados,
para fazer as fantasias, lençóis e toalhas brancas nos
bordéis que frequentavam. E
saíram a entoar marchinhas.
Nem a perseguição da polícia tirou-lhes a animação: o
bloco foi repetido a cada Carnaval, cada vez com mais
adeptos. Formava-se, assim,
o Filhos de Gandhy (com "y"
mesmo), que hoje arrasta
uma multidão para as ruas.
Antes de ser estivador,
Nelson foi, por três anos, jogador profissional de futebol. Desistiu por causa dos
baixos salários. O apelido de
Lobisomem herdou do pai,
conhecido como Pedro Lobisomem. Ambos noctívagos e
mulherengos assumidos, diziam ter "muitos fogões para
sustentar", conta o filho.
Até os 80, Nelson ainda
gostava da boemia, que só teve fim quando o joelho, machucado na época do futebol
e nunca tratado, deu problema. Teve de ficar preso à cama e entrou em depressão.
Na segunda, morreu aos
84, de insuficiência respiratória -dos 18 que montaram
o bloco, só um ainda vive.
Deixa viúva, com quem foi
casado por 56 anos. Teve 11
filhos, 27 netos e 14 bisnetos.
obituario@grupofolha.com.br
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