São Paulo, sexta-feira, 24 de abril de 2009

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NELSON FERREIRA DOS SANTOS (1924-2009)

Do bordel à rua com os Filhos de Gandhy

TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Nelson Lobisomem amava a noite. Boêmio convicto, todo dia, depois do trabalho, reunia-se com os colegas estivadores em busca de diversão pelas ruas de Salvador.
Segundo o filho Nilson, no final dos anos 40, cansados de ver apenas os ricos brincado o Carnaval da cidade, 18 estivadores -Nelson incluso- formaram um bloco.
Após comprarem tamancos, pegaram emprestados, para fazer as fantasias, lençóis e toalhas brancas nos bordéis que frequentavam. E saíram a entoar marchinhas.
Nem a perseguição da polícia tirou-lhes a animação: o bloco foi repetido a cada Carnaval, cada vez com mais adeptos. Formava-se, assim, o Filhos de Gandhy (com "y" mesmo), que hoje arrasta uma multidão para as ruas.
Antes de ser estivador, Nelson foi, por três anos, jogador profissional de futebol. Desistiu por causa dos baixos salários. O apelido de Lobisomem herdou do pai, conhecido como Pedro Lobisomem. Ambos noctívagos e mulherengos assumidos, diziam ter "muitos fogões para sustentar", conta o filho.
Até os 80, Nelson ainda gostava da boemia, que só teve fim quando o joelho, machucado na época do futebol e nunca tratado, deu problema. Teve de ficar preso à cama e entrou em depressão.
Na segunda, morreu aos 84, de insuficiência respiratória -dos 18 que montaram o bloco, só um ainda vive. Deixa viúva, com quem foi casado por 56 anos. Teve 11 filhos, 27 netos e 14 bisnetos.
obituario@grupofolha.com.br


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