São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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SEGURANÇA

Polícias Militar e Civil e Ministério Público conseguem fechar 32 centrais telefônicas da organização criminosa

Operação para desmontar PCC prende 18

Ormuzd Alves/Folha Imagem
PMs em operação pente-fino no CDP (Centro de Detenção Provisória) do Belém


ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO

DA REPORTAGEM LOCAL

A facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) sofreu ontem o maior ataque sob o comando do Ministério Público e das forças policiais desde seu surgimento nos anos 90, nos presídios do Estado de São Paulo.
A ofensiva atingiu penitenciárias controladas pela organização criminosa, centrais telefônicas e aliados que estavam soltos, entre eles três advogados suspeitos de participação nos crimes financiados e executados pela facção.
Em seis horas, 18 pessoas foram presas, 32 bases telefônicas fechadas e 25 líderes do PCC isolados para serem transferidos de avião ao presídio de Presidente Bernardes (589 km de SP), o único onde há bloqueador de celulares em funcionamento para isolá-los.
Esse foi o resultado de cinco meses de investigação policial, baseada em cerca de 470 horas de conversas de integrantes da facção interceptadas por meio de grampo telefônico autorizado pela Justiça. As ligações mostraram que o PCC manteve contatos com quatro Estados (Rio de Janeiro, Bahia, Mato Grosso e Paraná) além de São Paulo.
O monitoramento feito pela polícia revelou que, além de planejar sequestros, roubos e fugas de dentro dos presídios estaduais, detentos do PCC também negociaram armas com membros da organização de narcotráfico Comando Vermelho, no Rio, por meio de telefones celulares, conforme apurou a Folha.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, negou ontem que as investigações identificaram ligações entre as facções criminosas dos dois Estados -CV e PCC. "De fato, não existe a relação [do PCC com o CV". Pode ser que haja um ou outro bandido que tenha algum contato com o Rio. Mas troca de conhecimento entre as organizações não existe. Eles não são tudo isso que se diz", afirmou.

Planejamento
O planejamento da operação começou em janeiro, um mês antes de uma onda de atentados a bomba organizada pelo PCC para lembrar o aniversário de um ano da maior rebelião em presídios vista na história do país -e que serve como marco da demonstração de força da organização.
A operação desmonte envolveu cerca de 1.200 policiais militares, 300 policiais civis do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) e promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público.
A ação foi dividida em duas partes: a ocupação de 17 presídios estratégicos pela PM, mais a revista pelos próprios agentes penitenciários nas demais 64 prisões de regime fechado no Estado, e o cumprimento de 18 ordens de prisão, cujos nomes foram relacionados a partir da escuta. No total, 67 mil detentos foram revistados.
Com isso, a polícia reduziu a possibilidade de haver represália enquanto eram feitas prisões. Nas revistas, foram encontrados 159 celulares, 72 carregadores e 33 baterias, uma prova de que a telefonia celular continua sendo uma arma dos presos paulistas. Também foram apreendidos 498 estiletes nos presídios.
"Foi um grande golpe. A gente precisava de um dia D", disse ontem o secretário da Segurança.
Nas centrais telefônicas estouradas na capital paulista e na Grande São Paulo, foram encontradas inúmeras contas bancárias que serão investigadas para saber se elas eram usadas para movimentar dinheiro que as quadrilhas ligadas ao PCC levantaram em ações articuladas com os líderes que estão atrás das grades.

Organograma
Pela primeira vez, a polícia divulgou um organograma com os membros da cúpula do PCC. Foram identificados 60 pessoas, sendo que 41 estão presas, segundo a Secretaria da Segurança Pública.
Doze líderes foram trazidos do interior para a capital paulista ontem. Eles serão indiciados pelos atentados contra prédios públicos ocorridos desde o início do ano.
À tarde, durante o anúncio dos resultados da operação, também foram mostradas três metralhadores, uma pistola e telefones usados nas centrais fechadas. Camisetas com a inscrição PCC e o nome Geleião -José Márcio Felício, um dos líderes do PCC- também foram apreendidas.
A polícia tem centrado suas investigações na comunicação entre os presos. ""Eles precisam de um sistema de comunicação muito grande, pelo tamanho deles, para existir", diz o promotor Márcio Sérgio Christino, do Gaeco.
Para o promotor Roberto Porto, o fim do PCC é uma questão de tempo. "O PCC só vai acabar com o bloqueio do sinal dos telefones celulares nos presídios. Os líderes vão ficar isolados e não vão ter como organizar rebeliões", disse.
A grande operação contra o PCC também foi usada como um espetáculo de força pelo governo do Estado. Segundo a Folha apurou, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) chegou a cogitar ir à solenidade de anúncio dos resultados da ação, montada no Deic.



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