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SEGURANÇA
Polícias Militar e Civil e Ministério Público conseguem fechar 32 centrais telefônicas da organização criminosa
Operação para desmontar PCC prende 18
Ormuzd Alves/Folha Imagem
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PMs em operação pente-fino no CDP (Centro de Detenção Provisória) do Belém |
ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) sofreu ontem o maior ataque sob o
comando do Ministério Público e
das forças policiais desde seu surgimento nos anos 90, nos presídios do Estado de São Paulo.
A ofensiva atingiu penitenciárias controladas pela organização
criminosa, centrais telefônicas e
aliados que estavam soltos, entre
eles três advogados suspeitos de
participação nos crimes financiados e executados pela facção.
Em seis horas, 18 pessoas foram
presas, 32 bases telefônicas fechadas e 25 líderes do PCC isolados
para serem transferidos de avião
ao presídio de Presidente Bernardes (589 km de SP), o único onde
há bloqueador de celulares em
funcionamento para isolá-los.
Esse foi o resultado de cinco
meses de investigação policial, baseada em cerca de 470 horas de
conversas de integrantes da facção interceptadas por meio de
grampo telefônico autorizado pela Justiça. As ligações mostraram
que o PCC manteve contatos com
quatro Estados (Rio de Janeiro,
Bahia, Mato Grosso e Paraná)
além de São Paulo.
O monitoramento feito pela polícia revelou que, além de planejar
sequestros, roubos e fugas de dentro dos presídios estaduais, detentos do PCC também negociaram
armas com membros da organização de narcotráfico Comando
Vermelho, no Rio, por meio de telefones celulares, conforme apurou a Folha.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, negou ontem que
as investigações identificaram ligações entre as facções criminosas dos dois Estados -CV e PCC.
"De fato, não existe a relação [do
PCC com o CV". Pode ser que haja um ou outro bandido que tenha
algum contato com o Rio. Mas
troca de conhecimento entre as
organizações não existe. Eles não
são tudo isso que se diz", afirmou.
Planejamento
O planejamento da operação
começou em janeiro, um mês antes de uma onda de atentados a
bomba organizada pelo PCC para
lembrar o aniversário de um ano
da maior rebelião em presídios
vista na história do país -e que
serve como marco da demonstração de força da organização.
A operação desmonte envolveu
cerca de 1.200 policiais militares,
300 policiais civis do Deic (Departamento de Investigações sobre o
Crime Organizado) e promotores
do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público.
A ação foi dividida em duas partes: a ocupação de 17 presídios estratégicos pela PM, mais a revista
pelos próprios agentes penitenciários nas demais 64 prisões de
regime fechado no Estado, e o
cumprimento de 18 ordens de prisão, cujos nomes foram relacionados a partir da escuta. No total,
67 mil detentos foram revistados.
Com isso, a polícia reduziu a
possibilidade de haver represália
enquanto eram feitas prisões. Nas
revistas, foram encontrados 159
celulares, 72 carregadores e 33 baterias, uma prova de que a telefonia celular continua sendo uma
arma dos presos paulistas. Também foram apreendidos 498 estiletes nos presídios.
"Foi um grande golpe. A gente
precisava de um dia D", disse ontem o secretário da Segurança.
Nas centrais telefônicas estouradas na capital paulista e na
Grande São Paulo, foram encontradas inúmeras contas bancárias
que serão investigadas para saber
se elas eram usadas para movimentar dinheiro que as quadrilhas ligadas ao PCC levantaram
em ações articuladas com os líderes que estão atrás das grades.
Organograma
Pela primeira vez, a polícia divulgou um organograma com os
membros da cúpula do PCC. Foram identificados 60 pessoas, sendo que 41 estão presas, segundo a
Secretaria da Segurança Pública.
Doze líderes foram trazidos do
interior para a capital paulista ontem. Eles serão indiciados pelos
atentados contra prédios públicos
ocorridos desde o início do ano.
À tarde, durante o anúncio dos
resultados da operação, também
foram mostradas três metralhadores, uma pistola e telefones usados nas centrais fechadas. Camisetas com a inscrição PCC e o nome Geleião -José Márcio Felício,
um dos líderes do PCC- também foram apreendidas.
A polícia tem centrado suas investigações na comunicação entre
os presos. ""Eles precisam de um
sistema de comunicação muito
grande, pelo tamanho deles, para
existir", diz o promotor Márcio
Sérgio Christino, do Gaeco.
Para o promotor Roberto Porto,
o fim do PCC é uma questão de
tempo. "O PCC só vai acabar com
o bloqueio do sinal dos telefones
celulares nos presídios. Os líderes
vão ficar isolados e não vão ter como organizar rebeliões", disse.
A grande operação contra o
PCC também foi usada como um
espetáculo de força pelo governo
do Estado. Segundo a Folha apurou, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) chegou a cogitar ir à solenidade de anúncio dos resultados da ação, montada no Deic.
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