Com a paralisação, que deve se encerrar hoje, a emissão de passaportes só foi realizada para os casos de urgência

Policiais exigem reajuste salarial de 60%, índice inicialmente prometido pelo governo federal -que recuou e agora oferece 30%

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A equipe de remo do Brasil embarcou ontem para Áustria, onde participará da primeira etapa do mundial da categoria, em treinamento para o Pan.
Antes, porém, os 18 atletas tiveram de exercitar a resistência ao enfrentar uma fila de 500 metros, em mais de cinco horas de espera, para conseguir embarcar no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP).
"Só sinto indignação", disse o remador Thiago Almeida, 27, da categoria quatro sem timoneiro. Os atletas, assim como muitos outros passageiros, tiveram dificuldades para embarcar ontem no segundo dia de operação-padrão da Polícia Federal, em greve de 72 horas -que deve terminar hoje.
Os policiais exigem um reajuste salarial de 60%, que foi prometido pelo governo -mas que oferece agora 30%.
Antevendo o dia complicado, passageiros chegaram a antecipar a chegada ao aeroporto e as empresas aéreas iniciaram a emissão do cartão de embarque (o check-in) cerca de duas horas mais cedo que o normal. Nada disso foi suficiente, porém, diante da decisão dos policiais em "seguir rigorosamente todas as normas da atividade".
Nesse tipo de operação, a verificação de documentos, que dura cerca de dois minutos, chega a levar dez minutos. Só conseguiu embarcar com tranqüilidade ontem quem chegou antes das 15h, início da operação e do horário de pico no aeroporto de Cumbica.
Dos 104 vôos que partem de Guarulhos, 44 deles estão concentrados entre as 15h e a 0h.
"Elas pegaram greve aqui e, agora, vão pegar greve lá [na Itália]", disse o contador Eduardo Nogueira, 38, que acompanhou a mulher e a filha de viagem a Milão. Elas entraram na sala de embarque com quatro horas de antecedência.
Na sede da PF em São Paulo, na Lapa (zona oeste), a greve também afetou as pessoas que tentavam tirar o passaporte.
"O Brasil é o país da greve", afirmou a dona-de-casa Bete Marques, que também enfrentava a fila na porta da PF.
A greve da Polícia Federal tem afetado principalmente a emissão de passaportes. Na paralisação de 72 horas iniciada anteontem, os policiais decidiram emitir o documento apenas em casos de urgência.
Hoje, a Polícia Federal, na Lapa, atendeu cem pessoas em casos de urgência para a obtenção do passaporte, o que representa 10% da média diária.

Sem aumento
Mesmo enfrentando greves de servidores públicos federais em setores como PF, BC (Banco Central), Ministério da Cultura e Ibama, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que o governo não concederá aumentos neste ano porque pode comprometer os investimentos previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
O ministro não descarta, entretanto, aumentos salariais a partir de janeiro de 2008. "Não há disposição de deixar de investir para reajustar salários [neste ano] depois de tudo o que fizemos em 2006. Se você olhar o esforço que fizemos para chegar ao nível de investimentos neste ano, verá que estamos com uma situação fiscal apertada e precisamos ser prudentes nisso. Não há margem para aumentar salário neste ano", afirmou o ministro.
Representantes do Ministério do Planejamento têm reunião hoje com funcionários da Polícia Federal para tentar negociar o fim da greve iniciada ontem. Uma das saídas poderá ser pagar parte do reajuste no início do ano que vem. Os policiais, no entanto, querem receber pelo menos 10% de aumento ainda em 2007. "Temos uma situação pendente com a Polícia Federal.
Tanto que fizemos propostas que podem resolver essas pendências. Discordamos porque eles querem receber ainda neste ano", disse Bernardo.
De acordo com dados do Ministério do Planejamento, os aumentos salariais concedidos em 2006 terão impacto de R$ 13 bilhões na folha de pagamentos de Executivo, Legislativo e Judiciário neste ano.