|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aversão a dar carona é maior no Itaim Bibi
De cada cinco motoristas que circulam no distrito diariamente, só um leva passageiro, segundo a pesquisa feita pelo Metrô
Nos distritos com mais individualistas, viagens atraídas por dia superam 100 mil e só um a cada três motoristas leva passageiro
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem mora no Itaim Bibi
considera os engarrafamentos
o principal problema da região
onde vive. Também, pudera: o
distrito nobre da zona oeste de
São Paulo, que atrai a maior
quantidade de viagens de carro
por dia, atrai também os motoristas com hábitos mais individualistas da capital paulista.
De cada cinco motoristas que
têm o Itaim Bibi como destino
diariamente (o que inclui quem
mora no distrito), só um leva
passageiro. É quase o dobro da
média da cidade, que é de um
motorista com acompanhante
a cada dois carros, segundo a
pesquisa Origem/Destino do
Metrô, espécie de censo dos
transportes.
Apontado por especialistas
como agravante do caos do
trânsito, o uso do automóvel
quase sempre com ocupação
mínima (chamado de "irracional" por alguns, já que o compartilhamento ajudaria a tirar
carros da rua e melhorar o trânsito e a qualidade do ar) tem como protagonistas desde motoristas que não dão carona por
convicção até quem nunca se
ofereceu para levar o vizinho
ou o colega simplesmente porque ignora para onde ele vai.
Os outros nove distritos que
mais atraem carros por dia
também fazem a média de caronas da cidade comer poeira.
Junto com o Itaim, Pinheiros, Jardim Paulista e Perdizes,
na zona oeste, e Vila Mariana,
Saúde, Moema, e Santo Amaro,
na região sul, formam a "mancha" do individualismo no
trânsito no mapa da cidade.
Os "ingredientes" para atrair
carros são mais ou menos os
mesmos: são de classe média
alta, ficam na região central,
têm alta concentração de carros por família e grande densidade de prédios altos.
Nesses distritos a quantidade
de viagens atraídas por dia supera 100 mil e, em geral, só um
a cada três motoristas leva passageiro. A exceção é Perdizes,
que com Sacomã (sul) e Santana (único da zona norte) completa o "top 10" do individualismo -a média nos três é de uma
carona a cada dois carros.
"Conversa fiada"
"Dar carona para ajudar a
melhorar o trânsito é conversa
fiada. É como vestir camisa
branca para protestar contra a
violência: não resolve nada",
diz o comerciante Gilberto
Giusepone, 61, que trabalha no
Itaim Bibi, onde chega de carro
sozinho todos os dias. "O que
ajuda a diminuir o trânsito é
mais metrô, linhas de ônibus
mais inteligentes e menos ruas
usadas como estacionamento."
Dona de um consultório no
mesmo centro empresarial onde Giusepone trabalha, a médica Regina Messina, 38, até costuma dar carona. Mas só para
os amiguinhos de escola de
seus dois filhos de 9 e 7 anos -o
restante das atividades ela faz
"sozinha mesmo".
"Tenho carro e tenho onde
estacionar. Então, nem cogito
[pegar carona]", diz ela, que
mora nos Jardins (oeste), a 4,5
km (a 12 minutos de carro) do
trabalho. Na casa, são dois carros: um dela, outro do marido.
O centro empresarial onde a
médica e o comerciante trabalham recebe 2.000 carros por
dia. Em 30 minutos, na manhã
de quarta-feira, de 36 veículos
que passaram por uma das entradas do estacionamento, só
cinco levavam passageiros.
Regina diz que não se incomodaria em levar um vizinho
ou um colega de trabalho se os
locais onde mora e frequenta
criassem algum projeto de incentivo à carona solidária -algo que, porém, diz jamais ter
visto. Ir de carona ou de transporte público? Jamais. "A comodidade [de andar de carro] é
muito atraente", confessa.
Texto Anterior: Danuza Leão: Adeus, nicotina Próximo Texto: EUA têm faixa só para carro com mais ocupantes Índice
|