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Vetada pela Justiça, marcha da maconha vira marcha da mordaça
JAMES CIMINO
DE SÃO PAULO
A marcha da maconha,
que deveria ter sido realizada
ontem no parque Ibirapuera
(zona sul de SP), transformou-se em uma "marcha da
mordaça", graças a uma liminar do Tribunal de Justiça de
São Paulo que proibia a realização do evento.
Segundo a decisão, os manifestantes não poderiam se
pronunciar em favor da legalização da erva, sob pena de
serem presos e processados
por apologia ao crime.
Em protesto, os cerca de
300 participantes presentes
ao evento -segundo a PM-,
resolveram amarrar camisetas ao redor da boca.
A Polícia Militar exigiu
ainda que todos os cartazes
que continham desenhos da
folha da cannabis e palavras
de ordem como "legalize já"
fossem escondidos.
Camisetas do coletivo Marcha da Maconha, que têm um
trecho do artigo 5º da Constituição ("Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente
de autorização"), também tiveram de ser retiradas.
"Tudo que seja entendido
como apologia, será interpretado como crime", disse o 2º
tenente Marinho da PM, que
não soube explicar que critérios usaria para tal definição.
O professor de inglês Fábio
Harano, por exemplo, quase
foi levado ao 36º DP por exibir um cartaz com a seguinte
inscrição: "Não fumo, não
compro, não vendo e não
condeno". Livrou-se da detenção graças à intervenção
do deputado federal Paulo
Teixeira (PT-SP).
A ex-subprefeita da Lapa
Soninha Francine foi à manifestação e acusou a Justiça de
estar caluniando o movimento de legalização.
"A Justiça está imputando
ao movimento uma intenção
equivocada. O que as pessoas estão dizendo aqui é que
querem comprar uma substância de comerciantes legalizados e não mais terem de
se relacionar com o crime. Estão nos caluniando."
CONFRONTO
Durante a marcha, a ação
da PM consistia em retirar
cartazes e adesivos dos manifestantes e, se fosse o caso,
encaminhá-los ao 36º DP.
Um estudante, que se recusou a jogar fora um adesivo com um pequeno desenho
de uma folha de Cannabis sativa (nome científico da maconha), foi ameaçado.
"É melhor você correr porque eu vou te pegar lá fora!",
disse um soldado que não
respondeu à reportagem
qual seria o crime que o rapaz
teria cometido.
Já no fim da marcha, outro
policial usou spray de pimenta contra a reportagem
da Folha, que acompanhava
a prisão de um rapaz que carregava o cartaz com a frase
"não compre, plante".
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