São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

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Micareta enclausurada

No Carnafacul, quase 35 mil foliões seguiram trios elétricos que iam e voltavam pelo sambódromo de SP

ROBERTO DE OLIVEIRA
EDITOR-ASSISTENTE DA REVISTA SÃO PAULO

São Paulo é como o mundo todo, cantava o baiano Caetano Veloso. Um pedacinho da cidade, o Anhembi, virou Salvador, entre sábado e a madrugada de ontem, durante 13 horas de festa.
Uma capital baiana "enclausurada". Já que os cerca de 35 mil foliões do Carnafacul, espécie de micareta, tiveram que se contentar em seguir os trios elétricos por 1.060 m, comprimento de ida e volta da pista do sambódromo paulistano.
Isolados por cordas, seis trios elétricos carregaram nove bandas de axé (é claro) e sertanejo universitário, nomes como Jammil e Uma Noites, Cheiro de Amor, Eva e Maria Cecília & Rodolfo.
O público, vestido de abadá, sabia cantar todas as músicas. Pagou de R$ 45 a R$ 250 pelo ingresso. Dois camarotes, um deles com direito a bebida, foram montados.
Neles, o discurso era pró-assepsia quanto ao assunto pegação. "Estou criteriosa. Só beijei um", disse a estudante de administração Larissa Cândido, 22. "Tô com medo de pegar sapinho."
Para a colega Renata Santos, 23, a mulherada é frágil demais para "encher a cara". "Tem um monte delas vomitando. Depois, elas beijam os caras. E os caras querem beijar a gente. Decidi: não vou beijar ninguém nesta noite."
Gabriela Bezerra, 19, apresenta a mãe, Elizabete, 40, como amiga. "Se não, os caras não se aproximam", diz.
Mesmo assim conta que beijou dois. "Aqui está tranquilo, bem família, não?"

TWITTER E CERVEJA
Sim, nos camarotes estava, mas na pista, o bicho pegava. "Beijei todos e não sei o nome de nenhum deles. Depois do décimo, perdi as contas", disse Karina Garcia, 18.
Lizandra Davella, 18, havia chegado às 13h. Cinco horas depois, contabilizava 13 rapazes beijados. Entre eles, Gabriel Martins, 19, sete garotas beijadas a mais que ela.
O rapaz mantinha uma mão no copo de cerveja e a outra solta para agarrar a todas que pudesse. "Quero beijar na boca", gritava, visivelmente embriagado.
A censura era 16 anos. Bebidas alcoólicas só eram vendidas para maiores, mas que repassavam para menores.
Os postos de saúde registraram ao menos 200 casos de intoxicação alcoólica. Uma menina foi ferida por faca, numa tentativa de assalto, sem complicações graves.
A estratégia de promoção do evento foi feita em 60 faculdades da capital, além de bares, baladas e festas universitárias. Twitter e Facebook auxiliaram na divulgação durante 90 dias.
A MB Produções, organizadora do Carnafacul, não soube dizer quanto custou nem quanto arrecadou.
O maior evento universitário do país contou com 300 policiais militares -fora os seguranças particulares.
Perda e furto de documentos e celulares foram as ocorrências mais comuns, além de tráfico de entorpecente nos arredores do parque do Anhembi, onde o trânsito, este bem à moda paulistana, estava lento que só.


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