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DEPOIMENTOS
Nanette Konig, 81, holandesa
Aos 15 anos, fui levada ao
campo de Bergen-Belsen. Lá
encontrei Anne Frank, que
havia sido minha colega numa escola judaica em Amsterdam. Foi um encontro horroroso. Ela tinha a roupa puída, estava embrulhada num
cobertor e tremia de frio.
Uma vez, na fila para pegar água, um alemão me pegou e apontou sua arma para
mim. Isso era muito comum.
Por causa da fome, estava
apática e não esbocei a menor reação. Acho que isso lhe
tirou o prazer, e ele acabou
atirando para o ar.
Eu não tinha carne, era puro osso. Se você me perguntar como sobrevivi, não vou
saber responder.
Depois que fui libertada,
levei um ano para conseguir
recuperar a digestão. Tive tifo e entrei em coma.
Vejo pessoas que cometem
crimes dizendo que viraram
esse tipo de gente porque tiveram uma vida dura. Isso
não é desculpa. Veja a minha
vida, veja a dos outros sobreviventes. Ninguém é assim.
Ben Abraham, 85, polonês
Em 1942, ficamos oito dias
sem comer porque os alemães exigiram certo número
de pessoas para serem enviadas para as câmaras de gás.
Como ninguém se apresentou, eles cercaram o gueto [judeu] e não nos deram
alimento. Meu pai morreu de
fome. E eu presenciei.
Minha mãe e eu fomos enviados para Auschwitz. Depois soube que ela foi retida
por Mengele [Joseph Mengele, cientista nazista do campo de concentração de
Auschwitz] e mandada para
a câmara de gás.
Lá passei privações, chicotadas e torturas. Vi pessoas
sendo mortas e a fumaça negra dos crematórios. Senti o
cheiro de carne humana
queimada. É um cheiro que
não se esquece.
De Auschwitz fui levado
para trabalhar como escravo
numa fábrica de caminhões.
Fui libertado pelas forças
aliadas na virada do dia 1º
para o dia 2 de maio de 1945.
Precisei ir para o hospital
porque sofria de tuberculose,
escorbuto e disenteria.
Eu tinha 20 anos e pesava
28 quilos.
Rita Braun, 80, polonesa
A vida no gueto [judeu] era
terrível. Era um bairro paupérrimo, cheio de ratos e fechado com cerca elétrica. Minha mãe e meu padrasto trabalhavam fora, mas não podiam trazer comida.
Os cães eram treinados para matar quem tentasse entrar com pão escondido. Eu
vasculhava o lixo dos alemães, aproveitava os ossos
que eles jogavam para os
cães e cozinhava grama. É
terrível passar fome.
Ouvia tiros de fuzilamento
e via carrinhos de pedreiro
sendo levados cheios de judeus mortos.
Quando a guerra acabou e
os russos entraram na Polônia, os poloneses foram para
as ruas comemorar. Nós [judeus] não, porque havíamos
perdido familiares e amigos.
Não tínhamos mais nada.
Até hoje tenho marcas daquela época. Não admito que
joguem comida fora. Se vejo
um pastor alemão, atravesso
a rua na hora. Prefiro morrer
embaixo de um carro.
Sou pontual, porque naquela época, se dava a hora e
a pessoa não havia chegado,
era porque ela havia sido
morta.
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