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GOVERNO DE SP
Na despoluição do rio, empreiteiras fiscalizariam os próprios trabalhos por meio de televisionamento; TCE se opõe
"TV Esgoto" pode emperrar obras no Tietê
XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo de São paulo decidiu
deixar por conta das próprias empreiteiras a fiscalização das obras
do segundo projeto de despoluição do rio Tietê, que envolve um
orçamento equivalente a R$ 400
milhões e é louvada pela publicidade oficial como uma das principais obras do governador Geraldo
Alckmin (PSDB).
O serviço, segundo as regras da
licitação promovida pela Sabesp,
a companhia de água e saneamento básico estadual, será feito
por meio de televisionamento
montado pelas construtoras ao
longo do rio, nos coletores de esgoto e estações de tratamento.
Reformular o edital
A decisão do governo, no entanto, já sofreu a primeira derrota no
TCE (Tribunal de Contas do Estado), que definiu como temerária a
autofiscalização e pediu que o edital da concorrência pública seja
reformulado. Por causa dessa medida, as obras podem sofrer atraso, uma vez que a Sabesp insiste
no televisionamento.
Chamado pelos empreiteiros
ironicamente de "TV Esgoto", o
serviço seria feito por um circuito
de câmeras que permitiria saber
se o contrato está sendo cumprido à risca e com a qualidade exigida pela administração estadual.
O conselheiro do TCE Antonio
Roque Citadini determinou que a
Sabesp reestude o caso e evite a
autofiscalização. No seu entendimento, a companhia é obrigada a
contratar outras empresas, e não
as próprias empreiteiras das
obras, para executar o serviço.
Historicamente, lembra Citadini, a empresa estatal de saneamento sempre designou firmas
desligadas das empreiteiras para
fiscalizar construções, o que possibilita isenção e maior cuidado
com os gastos públicos.
Lei de Licitações
A fiscalização, por meio de televisionamento ou não, não deve ficar atrelada a nenhuma empreiteira vencedora de nenhum dos 11
lotes que compõem o conjunto
das obras, sob pena, de acordo
com parecer do conselheiro, de
ferir a lei 8.666, de 1993, que regula o processo de licitações.
Caso não cumpra as determinações impostas pelo TCE, que enviou pedido de explicações ao governo estadual no início deste
mês, a licitação das obras pode ser
suspensa, o que acarretaria atraso
de pelo menos três meses no cronograma do projeto Tietê.
O tribunal foi acionado sobre o
assunto por representações encaminhadas por empresas que se
julgaram prejudicadas com a licitação. A legislação em vigor permite que esse tipo de questionamento do processo de escolha da
empreiteira possa ser feito por
qualquer cidadão.
A concorrência internacional
para a segunda etapa da despoluição do rio Tietê foi anunciada de
maneira festiva pelo governador
Alckmin no início deste ano.
A continuidade das construções
de estações de tratamento de esgoto, entre outros serviços do
programa, foi possível graças a
um acordo assinado com o BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento). Pelo contrato, a
agência financeira entra com metade dos recursos e o governo estadual com o restante.
Reincidência
Mas essa não é a primeira vez
que os serviços de fiscalização ou
gerenciamento das obras do projeto Tietê, iniciado pelo governo
Luiz Antonio Fleury Filho (1991-1994), enfrenta problemas e questionamentos no tribunal.
Ainda durante o primeiro mandato do governo de Mário Covas
(1994-1998), o TCE constatou irregularidades no contrato com a
Hidrobrasileira, empresa que tinha como um dos sócios o então
ministro das Comunicações, Sérgio Motta, morto em 1998.
O serviço de desassoreamento
do rio -retirada da areia do fundo das águas-, também durante
os primeiros quatro anos do governo do PSDB em São Paulo, foi
alvo de auditoria do tribunal, que
identificou fraudes na execução
do contrato.
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