São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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EDUCAÇÃO

Entidades dizem que situação do ensino é preocupante e que Estado não deveria avaliar só o aspecto quantitativo

Para educadores, dados escondem realidade

FERNANDA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Educadores afirmam que os dados do Saresp, apresentados ontem pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, não retratam a realidade das salas de aula.
Segundo o presidente da Udemo (sindicato dos dirigentes de ensino), Roberto Augusto Torres Leme, a divulgação de outras avaliações no país e os relatórios apresentados pelos diretores demonstram que a situação do ensino estadual é preocupante.
Para Leme, a divulgação de dados incompletos, sem a apresentação das escolas e municípios, é problemática, pois impede a sociedade de participar das mudanças na política educacional.
A avaliação da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) é a mesma: "O que nós conhecemos e sabemos é que essa avaliação não é a correta. Não é esse o resultado obtido na avaliação dos professores no dia-a-dia dos seus alunos", disse o presidente do sindicato, Carlos Ramiro de Castro.
"A política educacional do Estado prioriza um único aspecto, o quantitativo", complementa.
Para Castro, falta uma avaliação científica, que trabalhe com amostragem e priorize a realidade dos alunos. A quantidade de alunos não é fundamental, segundo ele. "É a mesma coisa que fazer uma pesquisa eleitoral com 90% dos eleitores", afirmou.
Segundo Vera Masagão, coordenadora-geral de programas da ONG Ação Educativa, o relatório traz poucas informações. "É pouco útil uma avaliação que não mostra pontos negativos, aspectos para melhorar. Fica parecendo uma propaganda política para elogiar o governo", disse.
Para ela, a avaliação de quase todos os alunos só é necessária se puder ser utilizada pelas escolas. "Se não for para fazer chegar até a escola, não tem sentido fazer uma avaliação censitária como essa, é puro gasto de dinheiro." Cada escola recebeu apenas os dados referentes ao desempenho de seus alunos, e não da pesquisa toda.
Na avaliação de Romualdo Portela, professor de políticas públicas da Faculdade de Educação da USP, esse tipo de apresentação é "estranha" porque não há como saber quantos alunos tiveram apenas nota 5 ou desempenho superior. "Tem uma certa tentativa de ilusão. Um sistema de avaliação que não permite fazer série histórica é bastante questionável", diz. O Saresp de 2003 tem metodologia diferente da dos anos anteriores, o que não permite comparações.
"Setenta por cento dos alunos tiveram nota superior a cinco. Isso é bom ou ruim? Em relação ao ano passado, é melhor ou pior? Não há como comparar o processo de aprendizagem sem um resultado absoluto desses dados."
Para o Saeb (o sistema de avaliação da educação básica do governo federal), nenhum Estado atingiu um nível satisfatório para 4ª e 8ª séries. O sistema de 2003 também não apontou melhoria no nível de leitura em São Paulo. O Saresp não avalia esse indicador.


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