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Programa de Serra atinge 44% dos alunos
Ler e Escrever, para estudantes da 1ª série, precisa de um total de 1.960 professores auxiliares, mas conta só com 865
Falta é mais sentida nos bairros da periferia de São Paulo, justamente onde há mais necessidade de melhorias na educação
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
Anunciado pelo ex-prefeito
José Serra (PSDB) como parte
do programa mais importante
de sua gestão, a contratação de
professores auxiliares está beneficiando menos da metade
dos alunos da rede municipal
de ensino de São Paulo.
O projeto necessita de 1.960
professores, um para cada classe de 1ª série. Mas após quatro
meses a Secretaria de Educação
só conseguiu firmar convênio
com 865 -44% do total necessário. Na prática, cerca de 40
mil alunos (56% da rede) não
estão sendo beneficiados.
Serra, que passou as últimas
semanas viajando pelo interior
paulista em campanha para
disputar o governo do Estado,
tem elogiado o programa, que
será uma das vedetes de sua
campanha publicitária.
Esses professores foram recrutados entre alunos de faculdades de pedagogia e letras.
Trabalharão durante oito meses nas escolas municipais auxiliando os professores titulares. Em troca, receberão salário
e comprovante de estágio.
A falta de professores é mais
sentida na periferia, onde ficam
os bairros que mais necessitam
de melhorias na educação. Um
exemplo é Campo Limpo, na
zona sul, que tem apenas 10
professores auxiliares para um
total de 271 classes de 1ª série.
Nessa região, que tem um dos
maiores índices de analfabetismo infantil, menos de 400 alunos são atendidos pelo programa. E 10 mil não contam com
os professores auxiliares.
A contratação de professores
auxiliares faz parte do Ler e Escrever, programa lançado por
Serra no dia 17 de fevereiro
após a Prefeitura de São Paulo
constatar que 30% dos alunos
que chegam à 4ª série não conseguem ler e escrever com
competência, gerando repetência e evasão escolar.
Os professores auxiliares ganham cerca de R$ 400 por jornada de 20 horas/aula semanais. Sua principal missão é
ajudar no processo de alfabetização das crianças.
Insuficiente
A chamada aos universitários
começou em novembro do ano
passado, mas só cinco faculdades apresentaram propostas
factíveis. A prefeitura, então,
reabriu o edital, atraindo até
agora 12 faculdades -número
insuficiente para toda a rede.
Para a prefeitura, a adesão de
865 universitários é ótima (leia
texto ao lado). Mas especialistas criticam a falta de universalização do projeto.
"A proposta é ótima, mas não
adianta ter uma boa idéia sem
dar condições para que ela se
realize por completo na cidade.
Se não incluir toda a rede, é somente demagogia", diz Ângela
Soligo, coordenadora do curso
de Pedagogia da Unicamp.
Remuneração
Para ela, o salário tem de ser
compatível com a responsabilidade que esses professores auxiliares terão nas salas de aula.
"Pouca gente irá para locais
distantes se o incentivo não for
bom", afirma Soligo.
Segundo o sindicato das escolas particulares de São Paulo,
o piso salarial dos professores
na capital (incluindo os auxiliares) é de R$ 614 para 22 horas
por semana -cerca de 50% a
mais do que o valor que será pago pela prefeitura paulistana.
Há escolas privadas na capital
que pagam até R$ 2.500 a seus
professores assistentes.
"Conforme a localização da
escola, não cobre nem o custo
do transporte do professor auxiliar", afirma Helena Machado
Albuquerque, especialista em
gestão de políticas educacionais da PUC de São Paulo, que
se diz favorável ao projeto iniciado pela prefeitura.
A Folha visitou nesta semana a escola Professora Eda Terezinha Medeiros, no Butantã
(zona oeste), onde três auxiliares já estão em salas de aula. O
estudante de letras da USP, André Luiz Felipe, 26, é um deles.
"Estou aprendendo a dialogar
com as crianças na linguagem
delas, algo que nunca iria saber
só com a aula da faculdade", diz
Felipe. "Ele me ajuda bastante.
Ficar sozinha com 37 crianças
é difícil e cansativo", afirma
Wanely, professora da rede
municipal há 15 anos.
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