São Paulo, sábado, 24 de junho de 2006

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Programa de Serra atinge 44% dos alunos

Ler e Escrever, para estudantes da 1ª série, precisa de um total de 1.960 professores auxiliares, mas conta só com 865

Falta é mais sentida nos bairros da periferia de São Paulo, justamente onde há mais necessidade de melhorias na educação


FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Anunciado pelo ex-prefeito José Serra (PSDB) como parte do programa mais importante de sua gestão, a contratação de professores auxiliares está beneficiando menos da metade dos alunos da rede municipal de ensino de São Paulo.
O projeto necessita de 1.960 professores, um para cada classe de 1ª série. Mas após quatro meses a Secretaria de Educação só conseguiu firmar convênio com 865 -44% do total necessário. Na prática, cerca de 40 mil alunos (56% da rede) não estão sendo beneficiados.
Serra, que passou as últimas semanas viajando pelo interior paulista em campanha para disputar o governo do Estado, tem elogiado o programa, que será uma das vedetes de sua campanha publicitária.
Esses professores foram recrutados entre alunos de faculdades de pedagogia e letras. Trabalharão durante oito meses nas escolas municipais auxiliando os professores titulares. Em troca, receberão salário e comprovante de estágio.
A falta de professores é mais sentida na periferia, onde ficam os bairros que mais necessitam de melhorias na educação. Um exemplo é Campo Limpo, na zona sul, que tem apenas 10 professores auxiliares para um total de 271 classes de 1ª série. Nessa região, que tem um dos maiores índices de analfabetismo infantil, menos de 400 alunos são atendidos pelo programa. E 10 mil não contam com os professores auxiliares.
A contratação de professores auxiliares faz parte do Ler e Escrever, programa lançado por Serra no dia 17 de fevereiro após a Prefeitura de São Paulo constatar que 30% dos alunos que chegam à 4ª série não conseguem ler e escrever com competência, gerando repetência e evasão escolar.
Os professores auxiliares ganham cerca de R$ 400 por jornada de 20 horas/aula semanais. Sua principal missão é ajudar no processo de alfabetização das crianças.

Insuficiente
A chamada aos universitários começou em novembro do ano passado, mas só cinco faculdades apresentaram propostas factíveis. A prefeitura, então, reabriu o edital, atraindo até agora 12 faculdades -número insuficiente para toda a rede.
Para a prefeitura, a adesão de 865 universitários é ótima (leia texto ao lado). Mas especialistas criticam a falta de universalização do projeto.
"A proposta é ótima, mas não adianta ter uma boa idéia sem dar condições para que ela se realize por completo na cidade. Se não incluir toda a rede, é somente demagogia", diz Ângela Soligo, coordenadora do curso de Pedagogia da Unicamp.

Remuneração
Para ela, o salário tem de ser compatível com a responsabilidade que esses professores auxiliares terão nas salas de aula. "Pouca gente irá para locais distantes se o incentivo não for bom", afirma Soligo.
Segundo o sindicato das escolas particulares de São Paulo, o piso salarial dos professores na capital (incluindo os auxiliares) é de R$ 614 para 22 horas por semana -cerca de 50% a mais do que o valor que será pago pela prefeitura paulistana. Há escolas privadas na capital que pagam até R$ 2.500 a seus professores assistentes.
"Conforme a localização da escola, não cobre nem o custo do transporte do professor auxiliar", afirma Helena Machado Albuquerque, especialista em gestão de políticas educacionais da PUC de São Paulo, que se diz favorável ao projeto iniciado pela prefeitura.
A Folha visitou nesta semana a escola Professora Eda Terezinha Medeiros, no Butantã (zona oeste), onde três auxiliares já estão em salas de aula. O estudante de letras da USP, André Luiz Felipe, 26, é um deles. "Estou aprendendo a dialogar com as crianças na linguagem delas, algo que nunca iria saber só com a aula da faculdade", diz Felipe. "Ele me ajuda bastante. Ficar sozinha com 37 crianças é difícil e cansativo", afirma Wanely, professora da rede municipal há 15 anos.


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