São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 2009

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GILBERTO DIMENSTEIN

A avenida Paulista é uma escola


Estão no local o Masp e centros culturais como o Sesc, o Sesi, a Caixa Econômica, a Casa das Rosas e o Centro Cultural Itaú

CAVIAR , açúcar, chocolate, diamantes e lixo são alguns dos elementos usados por Vik Muniz para elaborar suas obras, provocando filas no Masp.
Um grupo de jovens observa a exposição de um ângulo diferente, com aproximadamente 300 metros de distância. Para encontrá-los é preciso atravessar a rua e passar pela mata atlântica que compõe o parque Trianon até chegar ao colégio Dante Alighieri, onde se desenvolve a experiência virtual para transformar a avenida Paulista numa sala de aula.
A experiência nasce virtual -mais precisamente no laboratório de internet- para ganhar as ruas, transformando-se numa vivência real.
"Colocamos para os estudantes o desafio de transformar a avenida Paulista numa extensão da escola", conta Valdenice Cerqueira, coordenadora de tecnologia do Dante.
O projeto nasceu da constatação de que a Paulista, um dos mais importantes pontos culturais do país, está ao mesmo tempo perto e distante dos alunos -aliás, um fenômeno que ocorre em toda a cidade.

 

Além do Masp, estão na avenida Paulista espaços culturais como o Sesc, o Sesi, a Caixa Econômica Federal, a Casa das Rosas e o Centro Cultural Itaú, onde passam algumas das melhores exposições, filmes, shows e peças -boa parte disso é de graça ou a preço popular.
"Os currículos escolares podem ser ilustrados com muito do que acontece na Paulista", diz Valdenice, pedagoga com mestrado em informática pela Unicamp.
A insegurança fez com que os paulistanos, especialmente os mais jovens, nunca tivessem desenvolvido o hábito de andar a pé pela cidade.
 

Numa atividade extracurricular, Valdenice orienta o grupo dos estudantes -que construiu um blog, usando os recursos de multimeios, que tem a meta de contar, diariamente, o que ocorre de interessante na vizinhança. Juntaram-se ao grupo uma jornalista para trabalhar o texto e professores de cinema.
O passo inicial foi fazer o mapeamento com a agenda, combinada com comentários sobre o que acontece na Paulista.
O projeto era ser uma alavanca virtual para a vivência real nas ruas e, assim, os estudantes se sentiriam mais estimulados a fazer da Paulista uma extensão da escola. Tudo isso já serviria para desenvolver habilidades de expressão.
 
Com o tempo, o projeto foi ficando mais ambicioso. Eles querem popularizar o blog entre estudantes de escolas públicas. E, no final, conseguir apoio para que esses alunos tenham apoio pelo menos de transporte para que possam frequentar os centros culturais da Paulista.
Na semana passada ofereceram um ônibus do próprio colégio para que os estudantes mais carentes pudessem ver uma peça de teatro. "O que era inicialmente um projeto escolar está virando uma experiência comunitária", conta Valdenice.
 

Se eles vão conseguir fazer essa mobilização, ainda não se sabe. Mas, pelo menos, se assemelha à vontade que algumas pessoas tiveram de mudar São Paulo -a começar pela construção daquele museu em frente ao Dante.

gdimen@uol.com.br


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