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Em Barreiros, abrigos são mais disputados que comida
ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A BARREIROS (PE)
Em Barreiros (114 km de
Recife), na divisa entre Pernambuco e Alagoas, a corrida ontem era por uma vaga
em abrigos do município.
Durante a tarde, a fila de
quem buscava vaga em uma
das escolas que se transformaram em abrigo era maior
do que a de quem esperava
por alimentos. "Comida a
gente dá um jeito. O que não
pode é dormir na chuva",
disse Josefina Luz, 37, que teve a casa destruída.
Desde a noite de sábado,
centenas de pessoas ocupam
o prédio da rodoviária. Do
outro lado do rio Una, desabrigados vivem de maneira
provisória na igreja, uma das
poucas construções que ficaram em pé no bairro Riuna.
Quem não conseguiu lugar nos prédios públicos ou
de parentes montou barracos
ao relento. "Estou com minha sogra, marido e três filhos embaixo de uma árvore", conta Deisiane Jesus da
Silva. Segundo ela, a água
começou a subir na madrugada de sábado, às 8h.
Segundo dados preliminares da prefeitura, pelo menos
2.000 pessoas estão desabrigadas. Há o registro de um
morto. Muitas deixaram a cidade, em especial quem não
era dono dos imóveis em que
vivia. "Eles abandonaram a
casa e se mudaram com o
que restou", diz a funcionária pública Edilene Silva.
A costureira Josineide Soares Ferreira passou os últimos dois dias sentada em
frente aos escombros da casa
que comprou em julho do
ano passado. Diz que fica lá
por "estar ainda perdida" e
também para proteger de
vândalos o que pode ter restado debaixo dos escombros.
"Espero que Deus me ajude a reconstruir, porque sozinha eu não consigo", diz ela,
que ainda tem 19 anos de financiamento para pagar. "Só
salvei minha máquina de
costura e a geladeira."
Muitos dos afetados decidiram deixar a cidade.
Na rua de Josineide, pelo
menos cinco pessoas foram
embora. "Não querem passar
por uma cheia dessas de novo", diz ela. Nas redondezas,
ruas inteiras desapareceram.
Não há energia elétrica ou
água potável.
Mesmo a parte da cidade
que não foi atingida pela
cheia é afetada pelo caos.
Sem uma das pontes e com
acesso a carros fechado, as
ruas têm montes de entulhos. Não há mais comida
nos mercados. O comércio
ainda não reabriu as portas.
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