São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2010

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Em Barreiros, abrigos são mais disputados que comida

ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A BARREIROS (PE)

Em Barreiros (114 km de Recife), na divisa entre Pernambuco e Alagoas, a corrida ontem era por uma vaga em abrigos do município.
Durante a tarde, a fila de quem buscava vaga em uma das escolas que se transformaram em abrigo era maior do que a de quem esperava por alimentos. "Comida a gente dá um jeito. O que não pode é dormir na chuva", disse Josefina Luz, 37, que teve a casa destruída.
Desde a noite de sábado, centenas de pessoas ocupam o prédio da rodoviária. Do outro lado do rio Una, desabrigados vivem de maneira provisória na igreja, uma das poucas construções que ficaram em pé no bairro Riuna.
Quem não conseguiu lugar nos prédios públicos ou de parentes montou barracos ao relento. "Estou com minha sogra, marido e três filhos embaixo de uma árvore", conta Deisiane Jesus da Silva. Segundo ela, a água começou a subir na madrugada de sábado, às 8h.
Segundo dados preliminares da prefeitura, pelo menos 2.000 pessoas estão desabrigadas. Há o registro de um morto. Muitas deixaram a cidade, em especial quem não era dono dos imóveis em que vivia. "Eles abandonaram a casa e se mudaram com o que restou", diz a funcionária pública Edilene Silva.
A costureira Josineide Soares Ferreira passou os últimos dois dias sentada em frente aos escombros da casa que comprou em julho do ano passado. Diz que fica lá por "estar ainda perdida" e também para proteger de vândalos o que pode ter restado debaixo dos escombros.
"Espero que Deus me ajude a reconstruir, porque sozinha eu não consigo", diz ela, que ainda tem 19 anos de financiamento para pagar. "Só salvei minha máquina de costura e a geladeira."
Muitos dos afetados decidiram deixar a cidade.
Na rua de Josineide, pelo menos cinco pessoas foram embora. "Não querem passar por uma cheia dessas de novo", diz ela. Nas redondezas, ruas inteiras desapareceram. Não há energia elétrica ou água potável.
Mesmo a parte da cidade que não foi atingida pela cheia é afetada pelo caos. Sem uma das pontes e com acesso a carros fechado, as ruas têm montes de entulhos. Não há mais comida nos mercados. O comércio ainda não reabriu as portas.


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